Recentemente, um preprint foi publicado trazendo alguns dados sobre os anticorpos gerados pelas vacinas de RNA (Moderna e Pfizer) considerando variantes da COVID-19. O dado revela que sim, essas vacinas abrangem essas variantes! Mas tenho alguns pontos para destacar.

Vem comigo?
Abordei nesse fio aqui algumas questões importantes sobre as variantes da COVID-19, estabelecendo uma cronologia do que a gente foi descobrindo, exaltando o trabalho incrível do @CaddeProject , @nmrfaria , @atrvlncc e tantos outros

Inclusive, te convido para assistir nossa live com essas feras (@nmrfaria @atrvlncc e @AndersonBrito_ ), tirando MUITAS dúvidas sobre variantes da COVID-19

E uma das principais perguntas que fica é: as vacinas vão ser capazes de nos proteger?

Ao que tudo indica, sim elas tem um potencial para abranger essas variantes, mas precisamos de dados, queremos observar isso, de fato acontecendo
No dia 7 de Janeiro, um preprint foi publicado mostrando que os anticorpos gerados pela vacina da Pfizer (BNT162b2) são capazes de neutralizar variantes com a mutação N501Y, compartilhada pelas variantes de UK e África do Sul biorxiv.org/content/10.110…
Nesse estudo acima, foram analisados o soro de 20 participantes do ensaio clínico da Pfizer, com 2 ou 4 semanas após a imunização com duas doses (espaçadas por 3 semanas) de 30 µg da vacina da Pfizer
O principal dado mostra que não houve redução na atividade de neutralização com o vírus que apresenta a mutação N501Y, indicando que a proteção se manteve
O dado é super promissor, mas tem a limitação de não incluir todo o conjunto de mutações que as variantes de UK e África do Sul tem, permanecendo essa lacuna.
Mas os autores fazem o alerta: a evolução contínua do SARS-CoV-2 e a geração dessas variantes requer monitoramento contínuo para, se for necessária, a atualização das vacinas
Pesquisadores da Pfizer publicaram ontem (19) um preprint indicando que os anticorpos induzidos por sua vacina são capazes de neutralizar a variante B.1.1.7. (de UK).
A análise foi feita em 16 participantes que receberam a vacina em testes anteriores, metade dos quais tinha mais de 55 anos. biorxiv.org/content/10.110…
No ensaio, podemos observar que não houve diferenças biologicamente significativas na atividade de neutralização da variante B.1.1.7. quando comparada com uma de referência, como a de Wuhan, indicando a proteção e abrangência!

E novamente, o mesmo alerta: "A evolução contínua do Sars-Cov-2 exige monitoramento contínuo das variantes para manter a proteção pelas vacinas atualmente autorizadas”. Já lemos isso em algum tuíte, né?
Mas, nesse mesmo momento, um grupo de cientistas sul-africanos compartilhou uma preocupação: talvez as vacinas possam ter uma eficácia reduzida para a variante que circula na África do Sul.

ft.com/content/943c8c…
Essa preocupação não veio de um dado, de fato, da vacina, e sim de um dado de soro de 44 sul-africanos, que já haviam sido infectados com versões anteriores do vírus SARS-CoV-2, descobrindo que 90% não estavam totalmente protegidos contra a nova variante.
Sabemos que os anticorpos que são gerados pela vacina são diferentes dos anticorpos vindos da imunidade natural. Precisamos do dado, do estudo com anticorpos induzidos pela vacina para entender como está essa proteção frente a essas variantes
Ontem (19 de Janeiro), outro preprint foi publicado, desta vez, com alguns dados de duas vacinas de RNA (Moderna e Pfizer) para as variantes do SARS-CoV-2 que contêm as mutações E484K, N501Y ou o conjunto de mutações K417N:E484K:N501Y

biorxiv.org/content/10.110…
20 participantes receberam a vacina da Moderna (mRNA-1273) ou a da Pfizer (BNT162b2). Oito semanas após a 2ª injeção, os participantes já apresentavam níveis elevados de anticorpos IgM e IgG anti-Spike e anti-RBD, com uma atividade neutralizante e nº de células B robusta.
Porém, a atividade de neutralização contra as variantes do SARS-CoV-2 com a mutação E484K e N501Y ou a combinação K417N:E484K:N501Y foi reduzida numa margem pequena, mas significativa
Mas, antes de surtarmos, esses níveis, ainda que um pouco reduzidos, ainda estão acima da concentração de anticorpos associada a proteção clínica. Ou seja, mesmo com essa pequena redução, é possível que a proteção ainda permaneça.
Mas temos um alerta importantíssimo aqui: o surgimento de novas variantes podem comprometer a proteção das vacinas.
O surgimento de variantes é um fenômeno natural da evolução dos vírus, e podemos acelerar esse processo se permitirmos que o vírus se transmita muito.

Como podemos segurar a transmissão, Mell? Já te falei isso, lembra? Não tem jeito, é essa a receita, e é claro, a vacinação!

Quanto mais conseguirmos vacinar as pessoas num curto espaço de tempo, mais impactará na transmissão do vírus

E para isso, precisamos que as pessoas QUEIRAM se vacinar, que BUSQUEM a vacinação. Portanto, se tu tem um colega, um amigo, um conhecido ou viu alguém na rede social com dúvida, me marca! Marca a Rede @analise_covid19 o @obscovid19br o @pmuchscience ou a @upvacina !
Lembre-se que você está a um tuíte de um cientista, que pode responder tua dúvida e compartilhar ciência contigo! 🌻
Mini-fio super relevante do @mab_sp125 trazendo algumas considerações

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