Sempre falo de Manaus como preocupante pelo vírus ainda circular com tantas pessoas imunes.
Esse estudo dá uma noção de pq variantes podem ter surgido lá. Em laboratório, o coronavírus só desenvolve as mutações da variante P.1 na presença de anticorpos. biorxiv.org/content/10.110…
A pressão evolutiva para vermos as variantes que começam a circular pode ser justamente a imunidade em uma população que já teve muitos casos de COVID e ainda tem muitos casos. Contar com imunidade coletiva pode ser a receita para novas linhagens que escapam da imunidade.
@otavio_ranzani tô vendo uma maré bem grande na direção de escape de imunidade.
Quando olhamos para variantes, elas têm algo com 10 ou mais mutações. Porque não vemos os intermediários? Pode ser que sejam menos competentes do que o SARS-2 comum. E onde todo mundo pode ficar doente, o SARS-2 de sempre se espalha melhor.
Mas se conseguirem escapar um pouco da imunidade, em uma região como Manaus onde a maioria já estava imune, esses vírus intermediários podem ter uma vantagem real. E circularem até acumularem mutações suficientes para fazer os dois bem, se espalhar e escapar da imunidade.
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Manaus é o prego no caixão do discurso de imunidade coletiva. E esse artigo recente com participação da Ester Sabino, da @marciacastrorj e outros explica o tamanho do problema. Segue um fio com interpretações minhas e o quão mais complicado 2021 fica.

Como a figura do artigo mostra, depois de uma primeira onda de hospitalizações muito alta, Manaus passou por 7 meses com hospitalizações estáveis. Mesmo com reabertura. De repente, no fim do ano, vem essa segunda onda pior do que a primeira que colapsou o sistema de saúde.
A explicação que poderia se dar para a estabilidade é a imunidade coletiva, ou imunidade de rebanho. Trabalhos como o Epicovid e o estudo de anticorpos contra COVID entre doadores de sangue chegaram a estimar que até 76% dos manauara tiveram COVID até o meio de 2020.
A dinâmica de vacinas particulares e muito mais:
"Mas há uma terceira razão, mais importante, para se preocupar com a crescente desigualdade da vida americana: uma lacuna muito grande entre ricos e pobres mina a solidariedade que a cidadania democrática exige."
"Conforme a desigualdade se aprofunda, ricos e pobres vivem vidas cada vez mais separadas. Os ricos mandam seus filhos para escolas particulares (ou escolas públicas em subúrbios ricos), deixando as escolas públicas urbanas para os filhos de famílias que não têm alternativa."
"Academias privadas substituem os centros de recreação e piscinas municipais. Comunidades residenciais de luxo contratam seguranças particulares e contam menos com a proteção da polícia pública. Um segundo ou terceiro carro elimina a necessidade de contar com transporte público."
Para vacinação pública, 'Para que essa ansiedade, essa angústia?', "só" 70 milhões de doses causariam "frustração em todos os brasileiros" e "seriam mais uma conquista de marketing, branding e growth".
Se estivéssemos comprando toda e qualquer dose possível, vacinação feita por empresas seria complementar. A partir do momento que dispensamos acordo e atrapalhamos o fornecimento de insumos, criamos uma fila e agora vamos vender vagas na frente dela.
Próximo passo é o quê? "Oxigeneria" em Manaus, onde você tem acesso diferenciado ao oxigênio em UTIs antes de bebês prematuros no SUS?
"Recebemos sim essa oferta de 70 milhões de doses de vacinas que poderiam cobrir quase todos grupos prioritários em grandes cidades, mas escolhemos em nome dos brasileiros que eles preferem morrer de asfixia."
70 milhões de doses de vacinas da Pfizer não acabariam com a COVID no Brasil, além de serem difíceis de transportar e aplicar fora de grandes metrópoles. Mas poderiam salvar dezenas ou centenas de milhares de pessoas se aplicadas em grupos prioritários nos grandes centros.
Levantaram 3 mil normas do governo de 2020 mostrando como as mais de 200 mil mortes pode COVID são uma escolha consciente de gestão federal.
"Os resultados afastam a persistente interpretação de que haveria incompetência e negligência da parte do governo federal na gestão da pandemia. Bem ao contrário, a sistematização de dados, ainda que incompletos em razão da falta de espaço para tantos eventos...
revela o empenho e a eficiência da atuação da União em prol da ampla disseminação do vírus no território nacional, declaradamente com o objetivo de retomar a atividade econômica o mais rápido possível e a qualquer custo."
Aproveita, se cuida, fica em casa se puder e ajuda a ter menos casos e mais oxigênio até chegar na vez de todo mundo.
Nunca teve vacina desenvolvida enquanto uma pandemia acontecia. Vamos trabalhar pra entrar para história com a melhor saúde e com mais vidas salvas.
Esperando o dia que vou pro posto de saúde ouvindo Partita em Lá menor do Bach na flauta, seja pra tomar a vacina da Fiocruz ou do Bubutantan. Ou o que mais vier e for aprovado :)