O Amartya Sen tem uma tese batida, mas sempre atual: há muito mais chance de ter fome onde não tem democracia.
Isso porque, um regime democrático funcional pressupõe que as pessoas são livres para protestar contra a fome.
Se a democracia vai mal das pernas, a fome vem e se estabelece, os líderes políticos não prestam contas ao povo, a imprensa normaliza a carestia...
A fome no Brasil foi um grande projeto de oligarquias e militares. Grupos que Bolsonaro representa.
Pensar na fome como projeto é entender que um tal grau de espoliação só é possível quando não se concebe projeto civilizatório algum de nação, de democracia liberal, nada.
É isso que envolve o fim do auxílio emergencial, a redução de beneficiários do Bolsa Família, ...
...o colapso das políticas de segurança alimentar e incentivo à pequena propriedade, a total ausência de subsídios à cesta básica etc.
A crise da democracia liberal, no Brasil, é também a propagação da fome como projeto das classes dominantes.
Jamais esqueceremos disso.
(e vejam, esse é um olhar liberal honesto para a questão da fome... infelizmente, nada a ver com o que jornalões vem noticiando...)
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O fio do @kakobelmont sobre anarquismo e crítica anti-colonial é realmente muito bom. Pessoal tá pedindo pra eu falar sobre marxismo e crítica anti-colonial... A real é que essa história é complexa.
Eu já concebi que Marx era etnocentrico e pronto, uma posição preguiçosa, mas embasada em alguns escritos dele dos anos 1850. A verdade é que o limite do pensamento de Marx é, sim, europeu, mas isso não significava que ele não entendia o colonialismo ou o invisibilizava.
Tanto os capítulos 24 e 25 do Capital são ótimos pontos de partida para essa reflexão, assim como algumas passagens dos Gundrisse. Para Marx, o colonialismo era o segredo da origem do capitalismo, articulado na ideia de "acumulação primitiva de capital".
Entendo todas as ponderações sobre a história do leite condensado do pessoal que falou que isso tava dentro do orçamento do Executivo e tal...
Mas rapidinho a galera encontrou as falcatruas, né? Superfaturamento vai ser mato...
162 golpes uma caixinha de leite condensado???
Uma varredura nos fornecedores é de boa, viu?
Sei lá, a gente quando pede uma caneta que seja numa universidade, tem que mandar demonstrativo, fazer pregão, orçar pelo menos 3 fornecedores diferentes...
Tenho gostado do pouco que tenho lido sobre "White Entitlement" ("merecimento branco" numa tradução mais literal).
Me parece um conceito muito bom para entender vínculos entre racismo estrutural e extrema-direita. E para pensar no que aconteceu ontem...
Muitos desses movimentos jogam com a ideia não do "privilégio", mas sim do "direito negado". Direito esse que é concebido como natural, de nascença, "birth right". Nasceu americano, portanto, tem direito a buscar a felicidade.
Mas a coisa fica rocambolesca porque essa promessa de felicidade, nos marcos do Estado nacional, nunca foi para todo mundo. Os grupos oprimidos (raça, classe, gênero...) nunca se iludiram com isso. Pelo contrário, era combustível para as lutas ter esse direito à felicidade...
Isso é uma virada na história da extrema-direita (que me corrijam os pesquisadores sérios aí): não tem mais volta. O trumpismo persistirá sem Trump no poder.
Parece que sem algo da ordem do trauma coletivo, os sujeitos"trumpistas" não vão se afastar do "chefe".
No caso dos dois Bonapartes, o trauma foi a derrota militar, que precipitou a queda do regime.
Outros regimes bonapartistas pareceram de outra sorte de derrotas.
Mas até onde sei, nenhum foi derrotado nas urnas. Sem trauma, tapinha nas costas e até logo.
Assim, comentei ontem com o @coalacroata , mas quem sabe, sabe: após Ialta, rifaram os comunistas da França, da Itália e da Grécia (esse foi o caso mais escabroso).
Não sei se é o melhor exemplo de Frente Ampla, não.
Na Frente Ampla, todo mundo faz compromissos, né? Todo mundo tem que ceder, certo?
Bem, o problema é sempre negociar a luta dos outros... No final, 12 mil partisans foram mandados para campos de concentração ingleses no Oriente Médio.