O que me espanta nessa situação do Lucas no BBB é menos a atitude da cantora do que na conivência dos demais. Não é possível que não tenha UM(A) ali que seja capaz de intervir, o foco no prêmio fez com que esse pessoal esquecesse os princípios mais básicos da convivência.
A violência contra ele não é ato isolado, não existe uma única culpada. Em todos os momentos em que ele, sua condição e sua fé são alvos de ofensas - os vídeos que estão circulando aqui -, existem pessoas ao redor rindo, batendo palma ou apenas se calando.
É muito fácil lotar a rede social de discursos bonitos de superioridade moral e ficar sambando miudinho quando se vê diante de uma situação dessas. Eu que não assisto o programa estou completamente revoltado com a situação.
O inferno é sempre o outro, né? O problema é que o povo ignora que muitas vezes o tal "outro" mora no espelho.
Ai amanhã ela sai da casa e todo ali lava as mãos fingindo que não teve nada com isso? Pessoal esquece que aquilo ali não é só um jogo, a vida do rapaz vai ser profundamente alterada por aquela situação - no mínimo a profissional.
A coisa menos produtiva nesse tipo de situação é a personalização da culpa: ela é a principal agressora? Ok. Mas e a responsabilidade dos demais? Onde fica?
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Sempre disse que o impeachment do Bolsonaro era um sonho inalcançável das esquerdas: o sujeito oscila de forma sólida na casa dos 30% de aprovação e está no bolso do congresso. A eleição do Lira pela margem de votos que foi demonstra bem como o cenário era impossível.
Maia nunca avançou na pauta pois ele sabia que ela funcionaria como um freio de arrumação (pró-Bolsonaro) e isso eliminaria suas chances de influenciar na sucessão. Acabou acontecendo mesmo sem os pedidos.
Não se enganem, foi uma derrota retumbante - como, importante lembrar, também foram as municipais do ano passado.
A ascensão do Centrão durante já na era do PT era indicativo claro de uma espécie de municipalização das esferas federais. Basicamente, o vetor político tradicional - do Federal pairando sobre o "local" - era invertido, fazendo emergir um cenário onde o Federal opera sob o local.
A eleição de hoje na câmara mostra que o processo não apenas se acelerou pós-2016 (com as manobras pelo impeachment e para blindar o Temer), como se tornou a pura forma da política nacional. Dando origem a uma espécie de fisiologismo puro (pois sem qualquer projeto).
A provável eleição do Lira encerra o modelo: basicamente, a esfera federal será constituída sob a influência total dos locais. Isso significa que todo o seu funcionamento sera pulverizado para atender aos interesses (locais) de seus fiadores.
Acolher pessoas em sofrimento psicológico não é fácil, tenho um pai dependente químico e que sofre de diversos transtornos por isso. Sei o quanto é complicado acolher, ajudar, sei o custo disso. Também sei do quanto zombar e isolar (ou transformar em espetáculo) é nocivo.
Eu sinceramente não estou preocupado com quem está fazendo isso ou aquilo com ele, minha questão é - essa discussão não é produtiva -: a prioridade deveria ser ajudar o garoto, cobrar da produção um acolhimento imediato do rapaz.
Mais do que isso, um programa de acolhimento que vá além de meia dúzia de consultas com uma psicóloga. Pois ele não está apenas sendo isolado no programa, ele vai ser isolado aqui fora, até a assessoria de comunicação do rapaz já o abandonou.
Sinceramente, não sei como vocês aguentam: não digo isso isso em tom de crítica, é dúvida mesmo. Vi dois vídeos do BBB aqui e em um deles o povo zomba abertamente das religiões de matriz africana e na outra um jovem que está em sofrimento psicológico é isolado pelos demais.
Sei lá, para passar raiva já me basta a vida.
Me inteirei da história toda do Lucas e assim, sinceramente, não é o caso da produção tirar o rapaz do programa e oferecer auxílio médico urgente? Ele claramente não está bem e vai sofrer ainda mais e por anos por conta da exposição de sua condição psicológica.
A depressão era o mal do milênio, agora é a raiva. Impressionante como absolutamente todos os aspectos da vida moderna envolvem "passar raiva", do trabalha a política, passando - sobretudo - pelo entretenimento. Chegamos ao cúmulo de "pagar" para passar raiva.
Os espetáculos de luta livre sabiam disso quando criaram a figura do heel, basicamente, um "vilão" cuja popularidade era medida pela sua capacidade de inspirar o ódio (a raiva) no público. As pessoas pagavam ingresso para sentir raiva.
Também fazemos isso com realities, filmes, com o telejornal. Inclusive, Jonathan Crary, em 24/7 (Late Capitalism and the Ends of Sleep) cita pesquisas que demonstram a existência de adictos em telejornais, especialmente os mais violentos.
Bolsonaro tá passando cheque sem fundo para comprar a eleição do Lira. Esse tipo de coisa não costuma ter bons resultados na política brasileira.
Reitero, inclusive, a possível eleição do Lira pode representar a derrocada do projeto bolsonarista. A pauta dos costumes, que deve ser prioridade do Lira, não deve ser suficiente para reverter o índice de rejeição do governo, especialmente diante da crise financeira.
O sujeito não vai ligar para o "casamento gay" enquanto conta moedas para ver se tem o suficiente para garantir o almoço.