Bolsonaro tá passando cheque sem fundo para comprar a eleição do Lira. Esse tipo de coisa não costuma ter bons resultados na política brasileira.
Reitero, inclusive, a possível eleição do Lira pode representar a derrocada do projeto bolsonarista. A pauta dos costumes, que deve ser prioridade do Lira, não deve ser suficiente para reverter o índice de rejeição do governo, especialmente diante da crise financeira.
O sujeito não vai ligar para o "casamento gay" enquanto conta moedas para ver se tem o suficiente para garantir o almoço.
O "mercado" deve pular fora já no segundo semestre desse ano, que é quando começa o calendário eleitoral de 2022. Nada do que foi prometido foi entregue, esse povo não costuma esquecer.
Ai vem o terceiro problema: o centrão não é exatamente conhecido pela sua fidelidade. Se a maré ficar um pouco mais agitada, amanhã mesmo pulam do barco e fingem que nunca estiveram nele. Pior, antes disso ainda vão levar até as "maçanetas" do barco.
Só lembrar como o centrão desembarcou do governo da Dilma assim que a situação ficou um pouco mais complicada. Especialmente pelo fato de que em 2021-2 e 2022 eles vão estar concentrados em suas próprias campanhas.
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A depressão era o mal do milênio, agora é a raiva. Impressionante como absolutamente todos os aspectos da vida moderna envolvem "passar raiva", do trabalha a política, passando - sobretudo - pelo entretenimento. Chegamos ao cúmulo de "pagar" para passar raiva.
Os espetáculos de luta livre sabiam disso quando criaram a figura do heel, basicamente, um "vilão" cuja popularidade era medida pela sua capacidade de inspirar o ódio (a raiva) no público. As pessoas pagavam ingresso para sentir raiva.
Também fazemos isso com realities, filmes, com o telejornal. Inclusive, Jonathan Crary, em 24/7 (Late Capitalism and the Ends of Sleep) cita pesquisas que demonstram a existência de adictos em telejornais, especialmente os mais violentos.
Enquanto passava o café ouvia meus vizinhos, bolsonaristas roxos, desses que diziam que a pandemia era inventada, reclamando do preço dos alimentos. E olha que são pessoas que tem uma situação financeira relativamente confortável (oficial de baixa patente reformado).
E isso é sintomático: uma das bases originais de apoio ao bolsonarismo está sentindo os efeitos diretos da sua gestão. O Brasileiro é traumatizado com inflação, especialmente quando ela incide sobre gêneros alimentícios - pois é o consumo inevitável.
E é por essa via que o bolsonarismo pode ser derrotado - e de forma plena. Reitero, infelizmente a denúncia moral não repercute. Misoginia, machismo, racismo... isso realmente conta muito pouco na hora do voto, do apoio político. Mesmo as denúncias de corrupção não influem tanto.
Ontem, no centro de Bangu - o segundo bairro mais populoso do Rio de Janeiro, a maioria das pessoas só utilizava máscara quando era obrigada a entrar em alguns estabelecimentos. Alguns, pois em muitos nem os vendedores usavam máscaras.
Desesperador, para dizer o mínimo.
Nessas horas a gente entende a diferença entre culpa e responsabilidade. Nossas autoridades são imediatamente culpadas por estarmos vivendo essa situação: vai do exemplo pessoal a ausência de uma campanha efetiva de conscientização, com fiscalização. outline.com/p9drC6
Um exemplo, quem nasceu nos 70-80, como eu, sabe como o uso do cinto de segurança é um hábito muito recente do brasileiro - e ainda assim precário -, que só foi conquistado após muita campanha midiática e fiscalização. Mesma coisa com as campanhas de lei seca.
Para quem (ainda) isenta as FFAA do seu apoio ao Bolsonaro: circula um documento do próprio EB - cuja veracidade não pode ser aferida - que define a carreira militar e o caráter do Capitão Jair Bolsonaro da seguinte maneira:
A leitura do documento é divertida, uma baixaria sem limites. Fora isso não tem muito valor além do óbvio: Bolsonaro nunca foi bem visto pelo oficialato das FFAA. Sempre fora tomado como um descontrolado, para dizer o mínimo.
Seu apoio midiático aos torturadores da ditadura e a propaganda aberta que fazia das graves violações dos direitos humanos cometidas pelo regime sempre foram consideradas vergonhosas por membros do oficialato: que sempre optaram por uma abordagem "deixa isso quieto".
Quando mais eu estudo os impactos das redes sociais (as "novas tecnologias") na micro e macropolítica mundial (e brasileira) eu percebo que talvez o maior destes impactos seja a instauração do domínio do "presente imediato". Essa é a marca do governo Bolsonaro (mas não apenas).
As redes sociais ignoram o passado e o futuro enquanto "esfera de preocupação", o que importa é o "live"; o tempo que importa é ontem, o hoje e o depois de amanhã, fora disso tudo se dilui. Por isso o revisionismo é uma marca das redes: o presente sempre reescrevendo o passado.
Isso cria toda uma nova forma de micro e macropolítica. Pegue o Bolsonarismo, por exemplo, a sua incapacidade de lidar com o "futuro" ou com o passado é notória, tudo que lhe importa é o agora. Pois eles sabem que, nesse mundo, a disputa é pelo momento.