1/O roteiro não é original: um líder mitômano, narcisista e autoritário chega ao poder e os adversários esquecem ressentimentos e se juntam para derrotar o inimigo comum. Foi assim na 2.a Guerra, no fim da ditadura militar e na vitória de Biden. Mas não no Brasil de Bolsonaro+
2/A derrota acachapante de oposicionista light Baleia Rossi para o bolsonarista hard Arthur Lira na eleição para presidente da Câmara por 302 a 145 votos foi na política o que o 7 a 1 da Alemanha no Brasil em 2014 representou para o futebol+
3/Baleia deveria ser o mínimo múltiplo comum entre a direita não-bolsonarista e a esquerda anticapitalista, ensaio para a frente ampla anti-Bolsonaro no 2.o turno de 2022+
4/Assim como a humilhação na Copa de 2014 mostrou que não bastava alegria nas pernas para enfrentar um time superior, a derrota na eleição da Câmara revela que os discursos bonitos pela democracia ou da independência dos poderes não valem R# 3 bilhões em emendas+
5/O saldo do massacre: Maia mostrou-se um articulador desastrado, Doria não controla o PSDB, o pref João Campos não enxerga para além das margens do Capibaribe, o PT está prisioneiro do trauma do impeachment e o Democratas é capaz de vender a mãe e não entregar. Mas e agora?
5/Para a esquerda, a vitória de Lira muda pouco para 2022. Se puder, Lula será candidato. Senão, será Haddad. Ciro Gomes será candidato de novo
6/Para o Centrinho, porém, o fato de Bolsonaro ter elegido os seus preferidos traz lições. João Doria não domina o PSDB fora de São Paulo e Luciano Huck terá de pensar com calma antes de se filiar no Democratas ou no PSD sob risco de virar mercadoria de troca+
7/Para Bolsonaro, a vitória de Lira e Pacheco geram uma expectativa de poder só comparável quando foi eleito. Em 2 anos, Bolsonaro aparelhou e controlou o Exército, a PGR, PF, STJ e manteve apoio nas PMs, igrejas evangélicas, agro e caminhoneiros+
1/Bastam cinco minutos nas redes bolsonaristas para descobrir qual é o grande problema do Brasil: não deixam Jair Bolsonaro trabalhar! O Congresso não vota a agenda do governo, o STF ata as mãos do presidente e a mídia só sabe criticar. Pois bem, essa desculpa acabou+
2/2/Com a mais que vitória dos bolsonaristas Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, o Palácio do Planalto terá o controle da agenda legislativa, impedindo qualquer processo de impeachment, votando os projetos governistas e mudando as leis que seguram o presidente+
1/Biden ri porque não é com ele. A relação do não governo dos EUA com o Brasil será tocada neste ano pelo secretário especial de Meio Ambiente, John Kerry
2/Ex-secretário de Estado na gestão Obama e candidato derrotado a presidente em 2004, Kerry entrou no governo Biden com a missão de responder aos eleitores da ala ambientalista do partido Democrata. Estar no seu radar não é necessariamente uma boa notícia para Bolsonaro+
3/Como secretario de Estado, o maior sucesso de Kerry foi o Acordo Climático de Paris, do qual os EUA foram retirados por Trump e reincluídos por Biden em seu primeiro dia de governo. Lá trabalhou em parceria com a ex-ministra Izabella Teixeira+
1/O diabo, este safado, mora nos detalhes. Chocados com a negligência do governo Bolsonaro em arranjar vacinas e certos de que o a economia só engrena com o controle da Covid19, alguns dos executivos mais bem pagos do Brasil se reunir para discutir como poderiam ajudar +
2/Um deles tinha o contato de um fundo que financiou as pesquisas do laboratório AstraZeneca e, em troca, recebeu lotes de vacina. Em português claro, um atravessador.
3/A ideia seria vacinar os funcionários das empresas e assegurar que elas irão seguir operando mesmo se houver um lockdown. Para não parecer que estavam furando a fila da vacinação, para cada funcionário vacinado, eles doariam uma vacina para o Ministério da Saúde+
1/Em termos realistas, o impeachment de Bolsonaro hoje é uma ilusão. Os governistas Arthur Lira e Rodrigo Pacheco devem serão eleitos na Câmara e Senado com apoio de parte da oposição. Como esperar que esta mesma oposição incompetente consiga aprovar um processo de impeachment?+
2/ A resposta pode ser medida menos no sucesso improvável da abertura de um processo na Câmara e mais na capacidade de se criar um movimento. Impedidos pela pandemia de ir às ruas, a oposição vivia de panelaços esporádicos e editoriais de jornais. Tudo mudou com Manaus+
3/A negligência de Bolsonaro e do general Pazuello c/ as mortes por asfixia em Manaus transformou a ojeriza em raiva. A descoberta que Bolsonaro desprezou ofertas da Pfizer e boicotou a Sinovac geraram a urgência. Com a palavra “impeachment”, a oposição achou a bandeira única +
1/Nota da repórter @juliachaib, da @folha, reforça as semelhanças entre a negligência de Bolsonaro e a do capitão do Titanic, Edward Smith: as maiores empresas brasileiras negociam com a AstraZeneca a compra de 33 milhões de doses de vacinas contra Covid19 +
2/As empresas pretendem doar metade dos lotes para vacinação pública, reservando a outra metade para seus funcionários. Seria uma repetição do sistema do Titanic, no qual os passageiros da primeira classe foram avisando antes e tiveram acesso privilegiado aos botes salva-vidas+
3/Aliás, assim como no Brasil o governo Bolsonaro ainda não apresentou planos para oferecer vacinas para todos, também a dona do Titanic, a operadora White Star Line, não incluiu no transatlântico botes para todos+
1/ Desde a vitória de Joe Biden nas eleições americanas, as oposições brasileiras debatem em identificar quem poderia ser o “Biden brasileiro”, a versão nacional do candidato capaz de unir mais da metade do País e derrotar um presidente da extrema direita. É uma busca inútil+
2/Primeiro porque as circunstâncias partidárias americanas obrigam a união em torno de um nome, enquanto no Brasil isso só acontece no segundo turno. Quando acontece. Segundo, porque o Joe Biden brasileiro é o próprio Biden+
3/Diplomatas, consultores e empresários com negócios nos dois países têm repetido que as pendências entre Biden e Jair Bolsonaro vão dissipar uma vez que o novo governo tome posse. Os interesses econômicos vão falar mais alto, argumentam.
Duvido.+