Bert Trautmann foi um soldado da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial e depois eleito o melhor jogador do futebol inglês ainda no pós-guerra.

Essa é uma história controversa, mas que merece ser contada.
Trautmann se alistou na juventude nazista ainda com dez anos de idade (Jojo Rabbit?) e, mais tarde, serviu o exército em vários lugares durante a Segunda Guerra Mundial.

Por seus serviços na Ucrânia, chegou a ganhar várias medalhas, incluindo uma Cruz de Ferro.
Capturado na Bélgica, Trautmann foi um dos 90 homens de seu regimento de mais de mil soldados a sobreviver. Acabou transferido para um campo de prisioneiros na Inglaterra.
As partidas de futebol nos campos de prisioneiros eram comuns durante a Segunda Guerra. Já citamos vários exemplos.

Nessas partidas, Bret Trautmann começou a se destacar muito. Claramente tinha um nível superior aos demais que participavam das peladas.
Com o final da guerra, Trautmann podia voltar para a Alemanha, mas decidiu ficar na Inglaterra. Conseguiu um emprego em uma fazenda e começou a jogar por um time amador, o St Helens Town.
Um parêntese: Na época, a Inglaterra tinha praticamente se isolado no mundo do futebol.

Desfiliou-se da FIFA em 1928 e, em 1931, aprovou uma lei que dizia que estrangeiros só podiam jogar profissionalmente no país depois de morarem lá por pelo menos dois anos.
Trautmann passou a impressionar atuando pelo St Helens Town e diz-se que grandes públicos iam assistir aos jogos do time amador apenas para vê-lo debaixo das traves. Era um goleiro de nível impressionante.

Porém, devido à lei, não podia jogar profissionalmente.
Quando completou dois anos como residente da Inglaterra, Trautmann foi procurado pelo Manchester City.

O passado nazista pesou: 20 mil torcedores protestaram contra a sua contratação. Muitos ameaçaram cancelar os season tickets. Os gritos de "nazi" eram sonoros.
Trautmann foi goleiro de um Manchester City que era fraco e chegou a ser rebaixado em sua primeira temporada no clube, mas sempre se destacou mesmo com a hostilidade dos torcedores adversários.

No retorno à primeira divisão, o alemão se estabeleceu como um grande goleiro.
Em 1956, veio a maior glória para Trautmann: O prêmio de melhor jogador do ano no Campeonato Inglês. Foi o primeiro estrangeiro a receber tal honra.

Pouco depois, sua carreira foi seriamente prejudicada por uma lesão no pescoço que o impediu de mover a cabeça por um bom tempo.
Trautmann fez 545 jogos com a camisa do Manchester City e é provavelmente o maior goleiro da história do clube.

Apesar de ser talvez o melhor goleiro de sua geração, nunca foi convocado para a seleção alemã. Jogar na Inglaterra era o provável motivo para isso.
A princípio um nazista convicto, Trautmann supostamente deixou seu passado para trás. Muitos de seus companheiros de time elogiavam sua personalidade e coragem.

A Trautmann Foundation, criada por ele, valorizava "coragem e esportividade dentro e fora de campo".
Nunca saberemos se Trautmann de fato se arrependeu de seu passado nazista ou se apenas seguiu em frente. Dentro de campo, sua história é fantástica e já rendeu livros e filmes. "The Keeper", de 2018, é um exemplo.
Nós falamos um pouco sobre Bert Trautmann no nosso texto exclusivo para assinantes de fevereiro, sobre a história dos imigrantes no futebol inglês.

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