Muita gente me pergunta: o que é a COVID longa? quais sintomas podem permanecer, mesmo após a recuperação da COVID-19?

Vou trazer algumas infos aqui, mas já deixo claro que este fio será atualizado continuamente - dado que, dia a dia, vamos aumentando nosso conhecimento!

Bora?
A maravilhosa @rafa_rosarib me mandou essa metanálise aqui, e junto dela e de outras referências, vamos entender melhor essa história da COVID longa medrxiv.org/content/10.110…
Escrevemos pela Rede @analise_covid19, em 2020, um texto sobre COVID longa da autoria do incrível @FernandoKokubun - recomendo a leitura!

redeaanalisecovid.wordpress.com/2020/12/11/a-c…
A medida que o número de pessoas recuperadas da COVID-19 foi aumentando, começaram-se os relatos de sintomas "persistentes", principalmente extrema fadiga e dificuldade de respirar, além de dores musculares e nas juntas, dores de cabeça e barriga
Dentro desses sintomas persistentes, a alteração ou perda de cheiro e gosto, e também da atenção, memória, bem como a presença de sintomas relacionados a transtornos psiquiátricos também começaram a surgir, colocando o sistema nervoso como um ponto importante de estudo
Escrevi dois fios sobre COVID-19 e Sistema Nervoso, e tô devendo um terceiro que sairá essa semana!

Fio 1:
Fio 2 (atualização):

o @MoriLabe @neuroproteomics tem contribuído MUITO nesse tema e vale teu follow! #CienciaBrasileira
Inclusive, o @neuroproteomics tem um videozinho muito bacana e acessível sobre COVID-19 e como pode afetar o sistema nervoso:
E se tu está em dúvida sobre o que é uma metanálise, dá um conferes nesse texto da Rede @analise_covid19 da @laribrussa maravilhosa

redeaanalisecovid.wordpress.com/2020/12/01/rev…
Vamos à meta-análise: artigos publicados revisados por pares no Pubmed, Medline e Embase reportando sinais, sintomas, exames/parâmetros laboratoriais pós COVID-19 foram considerados. Identificou-se um total de 18.251 publicações, das quais 15 atenderam aos critérios de inclusão
Todos os artigos com dados originais para detecção de COVID-19 de longo prazo publicados antes de 1º de janeiro de 2021 e com um mínimo de 100 pacientes foram incluídos.
Foram 9 estudos de UK/Europa, 3 dos EUA, 1 de cada: Austrália, China, Egito e México. O tempo de seguimento dos pacientes variou de 15 a 110 dias. Seis dos 11 estudos incluíram apenas pacientes hospitalizados por COVID-19. O restante misturou pacientes com COVID-19 leve/mod/grave
O número de coortes de pacientes que foram acompanhados nos estudos variou de 102 a 44.799. Adultos de 17 a 87 anos de idade foram incluídos.
Na análise, um total de 55 efeitos de longo prazo associados ao COVID-19 na literatura revisada foram identificados. A maioria dos efeitos corresponde a sintomas clínicos como fadiga, cefaleia, dores nas articulações, anosmia, ageusia, etc.
Doenças como acidente vascular cerebral e diabetes mellitus também estiveram presentes. 6 parâmetros laboratoriais estavam elevados:

- interleucina-6 (IL-6)
- procalcitonina
- ferritina sérica
- proteína C reativa (CRP)
- N-terminal (NT) -pro hormônio BNP (NTproBNP)
- D-dímero
Nessa (belíssima) figura abaixo, a meta-análise dos estudos (n=7) que incluiu uma estimativa para um sintoma ou mais relatou que 80% (IC 95% 65-92) dos pacientes com COVID-19 têm sintomas de longo prazo.

Os principais sintomas são mostrados abaixo:
Aqui, uma imagem traduzida, do @g1cienciaesaude sobre COVID longa, reportagem dessa metanálise que trago aqui no fio: g1.globo.com/bemestar/coron…
Entre os 47.910 pacientes que integraram os estudos, os cinco principais sintomas detectados foram: fadiga (58%), dor de cabeça (44%), dificuldade de atenção (27%), perda de cabelo (25%) e dificuldade para respirar (24%), segundo o G1
Ainda, segundo a reportagem: cerca de 80% das pessoas que pegaram a doença ainda tinham algum sintoma pelo menos 2 semanas após a cura do coronavírus.
Um ponto que considero relevantíssimo que, logo no início da discussão, é abordado é que a recuperação do COVID-19 deve vir com um acompanhamento, e não somente a verificação de alta hospitalar ou teste negativo para SARS-CoV-2 ou positivo para anticorpos
Ainda, apesar de alguns desses sintomas serem parecidos com os sintomas experienciados pela fase aguda da COVID-19 (durante a infecção), muitos ainda desconhecemos.
Ainda, 1 a cada 16 pessoas com COVID-19 tem risco de desenvolver transt. psiquiátricos após 3 meses depois da infecção, ressaltando ainda mais o papel do Sistema Nervoso na COVID-19. Em pacientes hospitalizados, esse risco pode ser 2x maior.
g1.globo.com/bemestar/coron…
Dada a complexidade dos transtornos psiquiátricos e suas possíveis causas reunirem vários fatores, eles podem estar relacionados ao efeito direto da infecção, doença cerebrovascular (incluindo hipercoagulação), comprometimento fisiológico (hipóxia) +
efeitos colaterais de medicamentos (e por isso é tão importante a prescrição de medicamentos com comprovação de efeitos benéficos pra COVID-19....) e outros aspectos.
Ainda, se olharmos outras infecções por coronavírus, como pelo SARS-CoV e MERS-CoV, ambos apresentam com características clínicas semelhantes ao COVID-19, inclusive a persistência de alguns sintomas

[FIO EM CONSTRUÇÃO]
Por exemplo, pessoas recuperadas de SARS mostraram anormalidades pulmonares meses após a infecção. Após 1 ano, 28% dos recuperados apresentavam função pulmonar diminuída e sinais de fibrose pulmonar. No caso da MERS, 33% apresentavam fibrose pulmonar
E naturalmente, essa metanálise tem algumas limitações:
- o pequeno tamanho da amostra (artigos incluídos) para alguns resultados, o que torna difícil generalizar esses resultados para a população em geral
- os estudos eram muito heterogêneos, principalmente devido às referências de tempo de acompanhamento e à mistura de pacientes que apresentavam COVID-19 moderado e grave
- Todos os estudos avaliados realizaram sua pré-definição interna de sintomas e, portanto, existe a possibilidade de desfechos importantes não terem sido relatados
- E por fim, por ser a COVID-19 uma doença recente, não é possível determinar quanto tempo esses efeitos durarão.

Por isso é importante ler os trabalhos para, com as limitações, entendermos até onde o dado consegue ir!
Próximos estudos de metanálise, revisão sistemática, devem dividir os dados por idade, comorbidades anteriores, a gravidade do COVID-19 (incluindo assintomático), bem como a duração de cada sintoma, para entendermos melhor a relação desses fatores com esses sintomas
E o mais importante, ter bastante cuidado para diferenciar, com uma metodologia robusta e adequada, se os efeitos que estamos vendo são a persistência da COVID-19 (COVID longa), ou se são de doenças anteriores.
A metanálise trouxe dados importantes, que vão ao encontro de outros que a literatura, cada vez mais, está mostrando: a COVID longa é um fator da COVID-19 relevante, que tem uma prevalência importante nos recuperados e devemos voltar nossa atenção para isso também.

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