Muita gente me pergunta: o que é a COVID longa? quais sintomas podem permanecer, mesmo após a recuperação da COVID-19?
Vou trazer algumas infos aqui, mas já deixo claro que este fio será atualizado continuamente - dado que, dia a dia, vamos aumentando nosso conhecimento!
Bora?
A maravilhosa @rafa_rosarib me mandou essa metanálise aqui, e junto dela e de outras referências, vamos entender melhor essa história da COVID longa medrxiv.org/content/10.110…
Escrevemos pela Rede @analise_covid19, em 2020, um texto sobre COVID longa da autoria do incrível @FernandoKokubun - recomendo a leitura!
A medida que o número de pessoas recuperadas da COVID-19 foi aumentando, começaram-se os relatos de sintomas "persistentes", principalmente extrema fadiga e dificuldade de respirar, além de dores musculares e nas juntas, dores de cabeça e barriga
Dentro desses sintomas persistentes, a alteração ou perda de cheiro e gosto, e também da atenção, memória, bem como a presença de sintomas relacionados a transtornos psiquiátricos também começaram a surgir, colocando o sistema nervoso como um ponto importante de estudo
Escrevi dois fios sobre COVID-19 e Sistema Nervoso, e tô devendo um terceiro que sairá essa semana!
Vamos à meta-análise: artigos publicados revisados por pares no Pubmed, Medline e Embase reportando sinais, sintomas, exames/parâmetros laboratoriais pós COVID-19 foram considerados. Identificou-se um total de 18.251 publicações, das quais 15 atenderam aos critérios de inclusão
Todos os artigos com dados originais para detecção de COVID-19 de longo prazo publicados antes de 1º de janeiro de 2021 e com um mínimo de 100 pacientes foram incluídos.
Foram 9 estudos de UK/Europa, 3 dos EUA, 1 de cada: Austrália, China, Egito e México. O tempo de seguimento dos pacientes variou de 15 a 110 dias. Seis dos 11 estudos incluíram apenas pacientes hospitalizados por COVID-19. O restante misturou pacientes com COVID-19 leve/mod/grave
O número de coortes de pacientes que foram acompanhados nos estudos variou de 102 a 44.799. Adultos de 17 a 87 anos de idade foram incluídos.
Na análise, um total de 55 efeitos de longo prazo associados ao COVID-19 na literatura revisada foram identificados. A maioria dos efeitos corresponde a sintomas clínicos como fadiga, cefaleia, dores nas articulações, anosmia, ageusia, etc.
Doenças como acidente vascular cerebral e diabetes mellitus também estiveram presentes. 6 parâmetros laboratoriais estavam elevados:
Nessa (belíssima) figura abaixo, a meta-análise dos estudos (n=7) que incluiu uma estimativa para um sintoma ou mais relatou que 80% (IC 95% 65-92) dos pacientes com COVID-19 têm sintomas de longo prazo.
Entre os 47.910 pacientes que integraram os estudos, os cinco principais sintomas detectados foram: fadiga (58%), dor de cabeça (44%), dificuldade de atenção (27%), perda de cabelo (25%) e dificuldade para respirar (24%), segundo o G1
Ainda, segundo a reportagem: cerca de 80% das pessoas que pegaram a doença ainda tinham algum sintoma pelo menos 2 semanas após a cura do coronavírus.
Um ponto que considero relevantíssimo que, logo no início da discussão, é abordado é que a recuperação do COVID-19 deve vir com um acompanhamento, e não somente a verificação de alta hospitalar ou teste negativo para SARS-CoV-2 ou positivo para anticorpos
Ainda, apesar de alguns desses sintomas serem parecidos com os sintomas experienciados pela fase aguda da COVID-19 (durante a infecção), muitos ainda desconhecemos.
Ainda, 1 a cada 16 pessoas com COVID-19 tem risco de desenvolver transt. psiquiátricos após 3 meses depois da infecção, ressaltando ainda mais o papel do Sistema Nervoso na COVID-19. Em pacientes hospitalizados, esse risco pode ser 2x maior. g1.globo.com/bemestar/coron…
Dada a complexidade dos transtornos psiquiátricos e suas possíveis causas reunirem vários fatores, eles podem estar relacionados ao efeito direto da infecção, doença cerebrovascular (incluindo hipercoagulação), comprometimento fisiológico (hipóxia) +
efeitos colaterais de medicamentos (e por isso é tão importante a prescrição de medicamentos com comprovação de efeitos benéficos pra COVID-19....) e outros aspectos.
Ainda, se olharmos outras infecções por coronavírus, como pelo SARS-CoV e MERS-CoV, ambos apresentam com características clínicas semelhantes ao COVID-19, inclusive a persistência de alguns sintomas
[FIO EM CONSTRUÇÃO]
Por exemplo, pessoas recuperadas de SARS mostraram anormalidades pulmonares meses após a infecção. Após 1 ano, 28% dos recuperados apresentavam função pulmonar diminuída e sinais de fibrose pulmonar. No caso da MERS, 33% apresentavam fibrose pulmonar
E naturalmente, essa metanálise tem algumas limitações:
- o pequeno tamanho da amostra (artigos incluídos) para alguns resultados, o que torna difícil generalizar esses resultados para a população em geral
- os estudos eram muito heterogêneos, principalmente devido às referências de tempo de acompanhamento e à mistura de pacientes que apresentavam COVID-19 moderado e grave
- Todos os estudos avaliados realizaram sua pré-definição interna de sintomas e, portanto, existe a possibilidade de desfechos importantes não terem sido relatados
- E por fim, por ser a COVID-19 uma doença recente, não é possível determinar quanto tempo esses efeitos durarão.
Por isso é importante ler os trabalhos para, com as limitações, entendermos até onde o dado consegue ir!
Próximos estudos de metanálise, revisão sistemática, devem dividir os dados por idade, comorbidades anteriores, a gravidade do COVID-19 (incluindo assintomático), bem como a duração de cada sintoma, para entendermos melhor a relação desses fatores com esses sintomas
E o mais importante, ter bastante cuidado para diferenciar, com uma metodologia robusta e adequada, se os efeitos que estamos vendo são a persistência da COVID-19 (COVID longa), ou se são de doenças anteriores.
A metanálise trouxe dados importantes, que vão ao encontro de outros que a literatura, cada vez mais, está mostrando: a COVID longa é um fator da COVID-19 relevante, que tem uma prevalência importante nos recuperados e devemos voltar nossa atenção para isso também.
E tu? Conhece o spray de Israel? Muitas pessoas vêm perguntando ao longo dos dias sobre esse fármaco. Acompanha então o mini fio abaixo falando um pouco sobre ele!
O spray nasal que está sendo testado em Israel consiste numa solução com a molécula EXO-CD24. Vamos por partes:
O CD24 é uma pequena proteína que fica na superfície das células ligado a outras moléculas, com papel na adesão celular. Está presente em diferentes células do corpo
Um dos papéis do CD24 é promover a maturidade e proliferação dos linfócitos T (CD4 e CD8), além da ação moduladora da inflamação em contextos como doenças autoimunes, sepse, entre outros.
Tive o prazer de contribuir em uma matéria do @Estadao da @marihallal sobre um fármaco que está sendo testado para a COVID-19, o EIDD-2801, também conhecido como Molnupiravir
Gosto muito de pegar meus fios daqui e adaptar pra outras redes sociais. No instagram (também sou mellziland) fiz uma adaptação daquele fio sobre variantes e vacinas!
@WHO fazendo um alerta importante. Lembrando que fuga não significa que a vacina não abrangeria ou funcionaria em algum nível. Mas nos preocupa conhecer qual nível é esse, e por isso os estudos são cruciais.
Sabemos que a CoronaVac tem um potencial para abranger essas variantes dada a sua tecnologia, que induz a formação de diferentes anticorpos contra diferentes porções do vírus
O novo Boletim Genômico (12/2), registrou o 1º caso da linhagem P1 (emergente de Manaus) no RS. O caso foi notificado em um morador de 88 anos da região da Serra, que apresentou os primeiros sintomas da doença no final de janeiro.
Além da P1, a variante predominante no Estado é a P2, ainda em estudos. “Não sabemos como irá evoluir o cenário a partir da interação das duas variantes no mesmo ambiente”, explica a diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), Cynthia Molina Bastos.
Depois de um ano, honestamente, quem faz uma coisa dessas é irresponsável, sem a menor noção de sociedade, completamente omisso e negligente à situação que estamos vivendo, alienando-se a dor e sofrimento de tanta gente que perder E PERDE pessoas para a pandemia.
Tu pode ter COVID-19, pode se recuperar e ficar bem, mas não pense que o fato de ser jovem é um passe-livre pra não experienciar formas graves e sequelas da COVID-19. E sua inconsequência, falta de empatia e completa irresponsabilidade pode contaminar alguém.