O Brasil deve ter um tipo muito peculiar de caçador – o sujeito que compra 60 revólveres e pistolas, em vez de usar rifles e espingardas, como se faz em outras partes do mundo. Armas de cano curto são feitas para matar pessoas num alcance ideal de até 7 metros. Caça é conversa.
“No Reino Unido, você pode legalmente ter um rifle ou uma espingarda, mas você não pode ter uma arma curta”, me disse ontem, por telefone, o pesquisador americano Aaron Karp, um dos maiores estudiosos de dados sobre produção e comércio de armas no mundo.
“Na Índia, por exemplo, é possível que uma pessoa tenha até três armas, e é muito comum nesses casos a pessoa ter uma arma curta [pistola, revólver], um rifle e uma espingarda. E a Índia não faz distinções entre praticantes de tiro esportivo ou outros cidadãos”, disse.
“Na Europa, as armas curtas [revólveres e pistolas] são incomuns. Europeus têm rifles e espingardas. São armas de caça. As armas curtas são concebidas para matar pessoas”, concluiu. Tem uma ninhada de gatos na tuba da reforma legislativa que Bolsonaro promove em relação às armas
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Fiz oito perguntas ao chanceler @ernestofaraujo com o compromisso de publicar a íntegra de suas respostas, sem edição. O resultado foi publicado hoje e pode ser lido abaixo. Na sequência, faço alguns comentários sobre os bastidores. 1/6 nexojornal.com.br/entrevista/202…
Essa entrevista é resultado de mais de 60 dias de tratativas, período no qual o @ItamaratyGovBr tentou saber de antemão quais seriam as perguntas, para só então decidir se concederia a entrevista ou não. 2/6
Quando o ministro passou a fazer ataques à imprensa, aplaudindo o discurso em que o presidente Bolsonaro manda os jornalistas "à puta que o pariu", resolvi contar numa thread que Ernesto criticava a imprensa em público, mas vinha fugindo de entrevistas nos bastidores 3/6
Como jornalista, tive incontáveis pedidos de entrevista negados ao longo da carreira. Isso é normal. Mas a última negativa é digna de nota, porque revela a essência do atual governo brasileiro. Hoje faz 50 dias que pedi uma entrevista ao @ItamaratyGovBr. Veja só: 1/15
A proposta era simples: saber "qual o sentido da nova política externa brasileira", tal como havia sido chamada em seminário pelo presidente da @FunagBrasil, o sr. Roberto Goidanich. Se havia um conceito sobre "a nova ...", eu queria saber qual é. 2/15
A entrevista podia ser com o sr. Goidanich ou com qualquer outra autoridade do Itamaraty, incluindo o próprio chanceler @ernestofaraujo. Qualquer um que me explicasse o que é a "nova política externa brasileira", tal como anunciada. 3/15
Bolsonaro queria impedir que as empresas que participarão do leilão do 5G no Brasil usassem estruturas da chinesa Huawei. Voltou atrás, como mostra relatório com as regras do leilão, concluído ontem. Ernesto insiste em dizer que a liberação das vacinas não teve condicionantes.
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, foi peça-chave na negociação vacinal com os chineses. Qual seria o papel de um ministro das Comunicações numa conversa sobre saúde e acesso a vacinas e outros insumos médicos? Faria deve visitar a Huawei na China em fevereiro.
Do lado do governo, não há problema nenhum em negociar e ceder. Diplomacia serve para construir essas pontes possíveis. O problema é Bolsonaro e Ernesto fingirem que não topam a China, agitando suas bases pela via de uma intransigência ideológica fajuta.
A gente se perde em bobagens no Brasil enquanto o mundo gira. A dança que Biden e Merkel estão protagonizando nesses dias em torno da China é algo da maior importância. Mas estamos todos hipnotizados aqui com artefatos de uma barraquinha de miçangas.
Biden quer aglutinar as democracias liberais do mundo em torno de um amplo bloco que se oponha abertamente às autocracias na China e na Rússia. Mas a Alemanha de Merkel surpreendentemente se opôs.
Merkel está há 15 anos no poder, tem 74% de apoio popular e não pretende disputar novos mandatos. Essa conjunção de fatores permitiu que ela verbalizasse em Davos preocupações raramente expressadas pelos líderes europeus a respeito do papel dos EUA nessa questão.
Em "Deus e o Diabo na Terra do Sol", filme de Glauber Rocha, de 1964, o vaqueiro Manoel vaga com a esposa num sertão sem fim que representa o Brasil. Na peregrinação penosa da vida, o vaqueiro topa com dois líderes carismáticos.
O primeiro é um religioso que diz ser a reencarnação de São Sebastião. Assim como Conselheiro em Canudos, o suposto santo arrebanha em Monte Santo uma horda de seguidores fanáticos aos quais promete vida melhor num paraíso idílico: uma ilha cercada de água.
O segundo é o cangaceiro Corisco que, após a morte de Lampião, de Maria Bonita e da maior parte do bando, vaga numa jornada escatológica, na qual busca o fim de sua experiência violenta de vida.
Não sou especialista no assunto, não cubro saúde, não estive em Manaus, não tenho conhecimento. Mas me intriga: os responsáveis pelo suprimento de oxigênio hospitalar detectaram que faltaria o produto? Isso foi registrado? Isso foi comunicado às autoridades de saúde? Sigo:
Os médicos oficiaram o diretor da unidade? O diretor da unidade oficiou a secretaria de saúde? Isso chegou ao ministério? Não há nada escrito no estado? Não há protocolos? Padrões? Não há rastros, registros?
O ministro da Saúde visitou o estado pouco antes do colapso. Foi informado? Recebeu relatório? Que resposta ele deu? Ele mesmo produziu registro de sua visita? Manifestou suas constatações? Discutiu com alguém o assunto? Tomou conhecimento?