Estou vendo Fernanda Montenegro nos assuntos mais comentados por ter dado uma entrevista na qual relembra ter perdido o Oscar. O pior nem foi perder; foi perder pra Gwyneth Paltrow.
Pior: em Shakespeare Apaixonado.
Pior: num prêmio COMPRADO pelo Harvey Weinstein.
O único consolo é que naquele ano o Harvey Weinstein ferrou todo mundo no Oscar, incluindo Steven Spielberg, cujo Resgate do Soldady Ryan era o favoritíssimo até Weinstein mudar totalmente as regras do jogo com a campanha pesada que fez por Shakespeare Apaixonado.
Não vou linkar aqui pela milésima vez meu texto sobre como funciona o Oscar (tá bom, eu linko: cinemaemcena.com.br/coluna/ler/224…), mas foi justamente naquela edição que o modelo contemporâneo das campanhas foi moldado por Harvey Weinstein e pela Miramax.
Quer dizer: a rigor, eles começaram a mudar a coisa dois anos antes, com O Paciente Inglês. Mas foi com Shakespeare Apaixonado que eles acertaram a fórmula de vez.
Sem falar que os MELHORES filmes de verdade nem foram indicados: A Outra História Americana e O Violino Vermelho.
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Vi hoje um dos filmes mais angustiantes da minha vida: o chileno A Casa Lobo, dirigido por Joaquín Cociña e Cristóbal León. É um pesadelo sobre abusos e a perpetuação dos traumas por estes deixados.
É também uma animação absolutamente fascinante.
Realizado ao longo de cinco anos, A Casa Lobo parte de uma história real: a Colônia Dignidade, fundada por um ex-militar nazista no Chile e que, mistura de seita e campo de prisioneiros, ajudou a ditadura de Pinochet a torturar prisioneiros políticos. (pt.wikipedia.org/wiki/Col%C3%B4…)
O filme, porém, é menos sobre a Colônia do que sobre seus efeitos sobre uma menina chamada Maria que escapa depois de vários abusos e se esconde numa casa no meio da floresta - e a narrativa assume sua subjetividade moldada por traumas como ponto de vista.
Estou vendo há uma semana; ainda não posso avaliar como fenômeno coletivo. Falando por mim - e só por mim -, tem sido uma mistura de voyeurismo sancionado, simpatia por alguns “personagens” e o prazer natural de se deixar sentir raiva dos “vilões”. +
Outro dia eu brinquei sobre ver o #BBB como forma de usar o microcosmos do programa pra estudar arquétipos e recortes do Brasil (e terminei confessando que era “por causa dos barracos”). Por um lado, era só piada; por outro, há uma partezinha de verdade nisso. +
Não sei se os “personagens” de fato acabam assumindo contornos de “arquétipos” ou “recortes demográficos”, mas o que eu JÁ SEI é que é possível ver a humanidade de cada um ali e se deixar envolver com suas forças e fragilidades individuais. +
Katharine Hepburn era uma atriz gigante, mas o que nem todos lembram é que ela tinha um sorriso luminoso. (Para quem - ainda - não a conhece, é a única atriz com mais Oscars que Meryl Streep.)
(Vi agora Sua Esposa e o Mundo, que Capra dirigiu em 1948 e trazia também Spencer Tracy - outro gigante -, Adolphe Menjou e uma participaçãozinha de Margaret Hamilton, que apenas 9 anos antes havia se eternizado como a Bruxa Má do Oeste em O Mágico de Oz.)
(Ah, o filme também conta com Angela Lansbury, que tinha só 23 anos na época. Vou incluir uma imagem dela recentemente pra refrescar a memória de quem não lembrar, embora seja fácil identificá-la.)
Cara @wbpictures_br, não posso que dizer a decisão de convidar Ratinho para "dublar" #TomEJerryOFilme teria sido inteligente (ou artisticamente válida) mesmo em tempos normais, já que estamos falando de um sujeito que construiu a carreira em cima da baixaria e da vulgaridade.
Gosto de acreditar que um filme -qualquer um - merece mais consideração aos esforços criativos da equipe do que a decisão de escalar um "dublador"* apenas porque seu pseudônimo reflete a espécie do personagem ao qual supostamente daria voz. Acho que Arte envolve mais do que isso.
(*"Dublar" e "dublador" estão entre aspas porque - ao menos que o filme tenha se distanciado imensamente da animação que o original - os personagens são notoriamente mudos, o que sugere que o envolvimento de Ratinho é uma jogada de marketing.)
Que coincidência curiosa: revi agora Síndrome da China e fui conferir nas minhas listas de filmes vistos nos anos anteriores quando tinha sido minha última visita ao longa e... eu o vi em 2011 e em 2001. Ou seja: por algum motivo, a cada 10 anos eu o vejo espontaneamente.
E a cada dez anos (juro que nenhuma das vezes foi planejada) eu volto a constatar que filmaço é Síndrome da China.
Produzido por Michael Douglas (que também faz um personagem secundário), o filme é protagonizado por Jane Fonda e Jack Lemmon (um dos meus atores favoritos).
Mesmo realizado depois da ponta final do "Novo Cinema Hollywoodiano", que a rigor podemos considerar que se encerra em 1977, com Star Wars, Síndrome da China é um filme que mesmo assim se encaixa com perfeição nas preocupações temáticas daquele período.
Vendo o vídeo no IML do deputado preso por gravar fala pra "impressionar Bolsonaro" (o nível adolescente da coisa), fica muito patente como esses caras são todos iguais: foi só ver uma mulher em posição de autoridade - a policial civil - que o sujeito pirou mais uma vez.
Parte da gritaria do sujeito é espetáculo, pois estava registrando tudo pra colocar nas redes, mas parte é obviamente fruto da incapacidade absoluta que esses caras têm de reconhecer que o mundo já mudou sob seus pés e que sua posição de macho branco pode ser desafiada.
Aliás, o vídeo que o levou a ser (merecidamente) preso não é só um show de fascistismo, mas mais uma evidência de como o bolsonarismo jogou o nível de tudo no fundo do esgoto: mesmo tendo gravado o próprio "discurso", o deputado é incapaz de articular uma ideia coerente.