Que coincidência curiosa: revi agora Síndrome da China e fui conferir nas minhas listas de filmes vistos nos anos anteriores quando tinha sido minha última visita ao longa e... eu o vi em 2011 e em 2001. Ou seja: por algum motivo, a cada 10 anos eu o vejo espontaneamente.
E a cada dez anos (juro que nenhuma das vezes foi planejada) eu volto a constatar que filmaço é Síndrome da China.
Produzido por Michael Douglas (que também faz um personagem secundário), o filme é protagonizado por Jane Fonda e Jack Lemmon (um dos meus atores favoritos).
Mesmo realizado depois da ponta final do "Novo Cinema Hollywoodiano", que a rigor podemos considerar que se encerra em 1977, com Star Wars, Síndrome da China é um filme que mesmo assim se encaixa com perfeição nas preocupações temáticas daquele período.
Primeiro filme de uma série de obras que nos anos seguintes questionariam a política de energia nuclear dos EUA, Síndrome da China é uma obra que encara as instituições e seus representantes com um cinismo típico da geração que passou a se manifestar na contracultura dos anos 60.
Dirigido por James Bridges (aliás, sem dúvida o melhor de seus poucos filmes), Síndrome da China tem uma narrativa tensa, urgente e que se equilibra com segurança entre seu tema central (e o suspense que busca criar) e o naturalismo que ancora as performances.
Aliás, cada close em Jack Lemmon é uma aula sobre a eficácia do minimalismo numa performance (e lembrem que Lemmon também era capaz de criar composições estilizadíssimas); cada tremor de lábio, sussurro pra si mesmo e movimento dos olhos tem um motivo e um efeito.
Não que Jane Fonda deixe de fazer jus ao companheiro de cena, pois seu trabalho é brilhante - da frustração contida que exibe diante do sexismo casual dos homens que a cercam até a emoção que transborda no desfecho. As indicações a prêmios de Lemmon e Fonda foram justíssimas.
E o mais fascinante é o que ocorreu após o lançamento do filme: por retratar as consequências de um desastre em uma usina, a indústria de energia nuclear atacou o projeto de maneira brutal, acusando-o de sensacionalismo.
12 dias depois do lançamento, um acidente REAL ocorreu.
Estou falando sério: menos de duas semanas depois do lançamento do filme - e dos ataques da indústria nuclear a este -, o acidente nuclear mais sério do tipo em solo norte-americano aconteceu. Juro: en.wikipedia.org/wiki/Three_Mil…
Espero estar aqui em 2031 para poder elogiar este filme fantástico mais uma vez. (três toques na madeira)
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Estou vendo há uma semana; ainda não posso avaliar como fenômeno coletivo. Falando por mim - e só por mim -, tem sido uma mistura de voyeurismo sancionado, simpatia por alguns “personagens” e o prazer natural de se deixar sentir raiva dos “vilões”. +
Outro dia eu brinquei sobre ver o #BBB como forma de usar o microcosmos do programa pra estudar arquétipos e recortes do Brasil (e terminei confessando que era “por causa dos barracos”). Por um lado, era só piada; por outro, há uma partezinha de verdade nisso. +
Não sei se os “personagens” de fato acabam assumindo contornos de “arquétipos” ou “recortes demográficos”, mas o que eu JÁ SEI é que é possível ver a humanidade de cada um ali e se deixar envolver com suas forças e fragilidades individuais. +
Katharine Hepburn era uma atriz gigante, mas o que nem todos lembram é que ela tinha um sorriso luminoso. (Para quem - ainda - não a conhece, é a única atriz com mais Oscars que Meryl Streep.)
(Vi agora Sua Esposa e o Mundo, que Capra dirigiu em 1948 e trazia também Spencer Tracy - outro gigante -, Adolphe Menjou e uma participaçãozinha de Margaret Hamilton, que apenas 9 anos antes havia se eternizado como a Bruxa Má do Oeste em O Mágico de Oz.)
(Ah, o filme também conta com Angela Lansbury, que tinha só 23 anos na época. Vou incluir uma imagem dela recentemente pra refrescar a memória de quem não lembrar, embora seja fácil identificá-la.)
Cara @wbpictures_br, não posso que dizer a decisão de convidar Ratinho para "dublar" #TomEJerryOFilme teria sido inteligente (ou artisticamente válida) mesmo em tempos normais, já que estamos falando de um sujeito que construiu a carreira em cima da baixaria e da vulgaridade.
Gosto de acreditar que um filme -qualquer um - merece mais consideração aos esforços criativos da equipe do que a decisão de escalar um "dublador"* apenas porque seu pseudônimo reflete a espécie do personagem ao qual supostamente daria voz. Acho que Arte envolve mais do que isso.
(*"Dublar" e "dublador" estão entre aspas porque - ao menos que o filme tenha se distanciado imensamente da animação que o original - os personagens são notoriamente mudos, o que sugere que o envolvimento de Ratinho é uma jogada de marketing.)
Vendo o vídeo no IML do deputado preso por gravar fala pra "impressionar Bolsonaro" (o nível adolescente da coisa), fica muito patente como esses caras são todos iguais: foi só ver uma mulher em posição de autoridade - a policial civil - que o sujeito pirou mais uma vez.
Parte da gritaria do sujeito é espetáculo, pois estava registrando tudo pra colocar nas redes, mas parte é obviamente fruto da incapacidade absoluta que esses caras têm de reconhecer que o mundo já mudou sob seus pés e que sua posição de macho branco pode ser desafiada.
Aliás, o vídeo que o levou a ser (merecidamente) preso não é só um show de fascistismo, mas mais uma evidência de como o bolsonarismo jogou o nível de tudo no fundo do esgoto: mesmo tendo gravado o próprio "discurso", o deputado é incapaz de articular uma ideia coerente.
A Arte do Assassinato Político, que está disponível na @HBO_Brasil, é um documentário com produção executiva de George Clooney que aborda o assassinato do bispo Juan Gerardi, ocorrido na Guatemala em abril de 1998.
Trabalhando ao lado de ativistas de direitos humanos, o bispo Gerardi havia viabilizado a produção de um amplo relatório sobre o genocídio cometido pelo exército da Guatemala em nome do governo de extrema-direita durante a guerra civil que durou de 1960 a 1996.
Dois dias depois de anunciar a conclusão do relatório, que apontava a responsabilidade dos militares sobre a morte de cerca de 150 mil pessoas, o bispo Gerardi foi encontrado assassinado na casa paroquial - e é o processo de investigação deste crime que o doc aborda.
Ver como o governo de @jairbolsonaro, o Capitão Cloroquina, faz o possível para destruir o Cinema brasileiro, a Ancine e todos os mecanismos de financiamento de nossa produção é um lembrete de como figuras autoritárias têm pavor da Arte.
A Arte estimula a empatia e expande o olhar do público. E o Cinema, como uma mídia de massa, tem uma grande facilidade de alcançar muitas pessoas e de levá-las a ver o mundo através do olhar do outro, despertando também sua consciência crítica. Tudo que esses caras mais temem.
Já mencionei aqui algumas vezes (e nos meus cursos) como Lênin dizia que "de todas as Artes, o Cinema é a mais importante para a revolução", mas antes mesmo disso já era possível ver como seu potencial de mobilização era compreendido pelos poderosos.