Cara @wbpictures_br, não posso que dizer a decisão de convidar Ratinho para "dublar" #TomEJerryOFilme teria sido inteligente (ou artisticamente válida) mesmo em tempos normais, já que estamos falando de um sujeito que construiu a carreira em cima da baixaria e da vulgaridade.
Gosto de acreditar que um filme -qualquer um - merece mais consideração aos esforços criativos da equipe do que a decisão de escalar um "dublador"* apenas porque seu pseudônimo reflete a espécie do personagem ao qual supostamente daria voz. Acho que Arte envolve mais do que isso.
(*"Dublar" e "dublador" estão entre aspas porque - ao menos que o filme tenha se distanciado imensamente da animação que o original - os personagens são notoriamente mudos, o que sugere que o envolvimento de Ratinho é uma jogada de marketing.)
Principalmente quando estamos falando de um personagem icônico e - não menos importante - voltado para o público infantil, que deveria ser protegido justamente do tipo de influência negativa exercida por um sujeito que explora o pior da natureza humana por audiência.
Assim, "apresentar" (ou ajudar a popularizar) Ratinho aos jovens espectadores mais interessados em #TomEJerryOFilme já seria lamentável.
Porém, considerando que o sujeito acaba de advogar um golpe militar e a EXECUÇÃO daqueles que não o aceitarem, a coisa se torna repugnante.
Infelizmente, @wbpictures_br, é aqui que veremos os limites éticos (mais: humanistas) que vocês representam: o distanciamento público do apresentador é fundamental, já que pública foi a campanha pela qual vocês (inacreditavelmente) o pagaram.
(Se há algo que sabemos sobre Ratinho, é que não faz nada de graça, já que recebeu, inclusive, para propagandear a reforma da previdência de Bolsonaro).
O que vai falar mais alto: o dinheiro ou o respeito à vida e à democracia?
É uma decisão que, espero, será fácil tomar. Ao menos, é o que o pouco de otimismo que me resta ainda me leva a acreditar.
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Estou vendo há uma semana; ainda não posso avaliar como fenômeno coletivo. Falando por mim - e só por mim -, tem sido uma mistura de voyeurismo sancionado, simpatia por alguns “personagens” e o prazer natural de se deixar sentir raiva dos “vilões”. +
Outro dia eu brinquei sobre ver o #BBB como forma de usar o microcosmos do programa pra estudar arquétipos e recortes do Brasil (e terminei confessando que era “por causa dos barracos”). Por um lado, era só piada; por outro, há uma partezinha de verdade nisso. +
Não sei se os “personagens” de fato acabam assumindo contornos de “arquétipos” ou “recortes demográficos”, mas o que eu JÁ SEI é que é possível ver a humanidade de cada um ali e se deixar envolver com suas forças e fragilidades individuais. +
Katharine Hepburn era uma atriz gigante, mas o que nem todos lembram é que ela tinha um sorriso luminoso. (Para quem - ainda - não a conhece, é a única atriz com mais Oscars que Meryl Streep.)
(Vi agora Sua Esposa e o Mundo, que Capra dirigiu em 1948 e trazia também Spencer Tracy - outro gigante -, Adolphe Menjou e uma participaçãozinha de Margaret Hamilton, que apenas 9 anos antes havia se eternizado como a Bruxa Má do Oeste em O Mágico de Oz.)
(Ah, o filme também conta com Angela Lansbury, que tinha só 23 anos na época. Vou incluir uma imagem dela recentemente pra refrescar a memória de quem não lembrar, embora seja fácil identificá-la.)
Que coincidência curiosa: revi agora Síndrome da China e fui conferir nas minhas listas de filmes vistos nos anos anteriores quando tinha sido minha última visita ao longa e... eu o vi em 2011 e em 2001. Ou seja: por algum motivo, a cada 10 anos eu o vejo espontaneamente.
E a cada dez anos (juro que nenhuma das vezes foi planejada) eu volto a constatar que filmaço é Síndrome da China.
Produzido por Michael Douglas (que também faz um personagem secundário), o filme é protagonizado por Jane Fonda e Jack Lemmon (um dos meus atores favoritos).
Mesmo realizado depois da ponta final do "Novo Cinema Hollywoodiano", que a rigor podemos considerar que se encerra em 1977, com Star Wars, Síndrome da China é um filme que mesmo assim se encaixa com perfeição nas preocupações temáticas daquele período.
Vendo o vídeo no IML do deputado preso por gravar fala pra "impressionar Bolsonaro" (o nível adolescente da coisa), fica muito patente como esses caras são todos iguais: foi só ver uma mulher em posição de autoridade - a policial civil - que o sujeito pirou mais uma vez.
Parte da gritaria do sujeito é espetáculo, pois estava registrando tudo pra colocar nas redes, mas parte é obviamente fruto da incapacidade absoluta que esses caras têm de reconhecer que o mundo já mudou sob seus pés e que sua posição de macho branco pode ser desafiada.
Aliás, o vídeo que o levou a ser (merecidamente) preso não é só um show de fascistismo, mas mais uma evidência de como o bolsonarismo jogou o nível de tudo no fundo do esgoto: mesmo tendo gravado o próprio "discurso", o deputado é incapaz de articular uma ideia coerente.
A Arte do Assassinato Político, que está disponível na @HBO_Brasil, é um documentário com produção executiva de George Clooney que aborda o assassinato do bispo Juan Gerardi, ocorrido na Guatemala em abril de 1998.
Trabalhando ao lado de ativistas de direitos humanos, o bispo Gerardi havia viabilizado a produção de um amplo relatório sobre o genocídio cometido pelo exército da Guatemala em nome do governo de extrema-direita durante a guerra civil que durou de 1960 a 1996.
Dois dias depois de anunciar a conclusão do relatório, que apontava a responsabilidade dos militares sobre a morte de cerca de 150 mil pessoas, o bispo Gerardi foi encontrado assassinado na casa paroquial - e é o processo de investigação deste crime que o doc aborda.
Ver como o governo de @jairbolsonaro, o Capitão Cloroquina, faz o possível para destruir o Cinema brasileiro, a Ancine e todos os mecanismos de financiamento de nossa produção é um lembrete de como figuras autoritárias têm pavor da Arte.
A Arte estimula a empatia e expande o olhar do público. E o Cinema, como uma mídia de massa, tem uma grande facilidade de alcançar muitas pessoas e de levá-las a ver o mundo através do olhar do outro, despertando também sua consciência crítica. Tudo que esses caras mais temem.
Já mencionei aqui algumas vezes (e nos meus cursos) como Lênin dizia que "de todas as Artes, o Cinema é a mais importante para a revolução", mas antes mesmo disso já era possível ver como seu potencial de mobilização era compreendido pelos poderosos.