Pessoal da propaganda pró-capitalismo gosta de dizer que o sistema recompensa “inovações” ou “ideias” que melhor servem a sociedade. O vídeo do instituto + iniciativa liberal diz o mesmo. Já sabemos que não é um sistema que promova inteligência, esforço ou “mérito”. A (1/22)
existência de heranças desprova ser uma pré-condição necessária. E nenhum pró-capitalista é anti-herança, porque esta é um incentivo útil. A herança promete que a morte não desfaz o trabalho de um indivíduo e que a descendência terá uma segurança económica que o “self-made”(2/22)
man se calhar não teve. O capitalismo ataca por estas duas frentes: primeiro destrói as redes sociais de apoio o que significa que a única segurança e garantia de sobrevivência é a posse de capital ou a dependência do capital. Se eu não tenho garantia que os meus filhos (3/22)
terão segurança, habitação, saúde, garantidos pela sociedade, o meu incentivo é, a todo o custo (e à custa dos outros) garanti-lo para mim. Teres milhões de outras pessoas a competir (e não a colaborar pelo mesmo) garante a pressão constante para que mesmo o homem mais (4/22)
rico do mundo sinta que não pode pagar mais aos seus milhões de trabalhadores ou deixá-los sindicalizar... senão vai ser ultrapassado e o seu império ameaçado. Sabemos que não é mérito ou trabalho porque quem trabalha mais é a maior parte das vezes quem recebe menos. (5/22)
Nunca te tornarás um bilionário trabalhando pelo salário mínimo. Mesmo que não durmas. E não é pela inteligência. As pessoas mais academicamente realizadas vendem o seu intelecto por dinheiro, como todas as outras vendem os seus talentos, para quem tem capital. Mas e os (6/22)
pequenos patrões, as start-ups, os sócios gerentes, eles não trabalham? Eles não arriscam? Claro, sempre afirmei que que é o trabalho que produz a riqueza. E o risco? Pondo de parte o quanto trabalhadores precários arriscam, por menos, o risco do pequeno empresário (7/22)
é precisamente a falta de risco do grande capital. Um trabalhador mete 15 ou 30 anos da sua vida numa “ideia” apenas para ser posto em concorrência desleal com quem pode simplesmente copiar, pagar a advogados mais caros, fazer dumping fiscal, pagar menos a trabalhadores (8/22)
e no fim a “ideia” enriqueceu quem não trabalhou por ela. No melhor dos casos, és comprado (como muitas start ups) porque isso é mais barato. Mas no fim enriqueceste o capital com o teu trabalho intelectual. Não lhe fizeste “frente”. E é aí que chegamos à verdadeira causa. (9/22)
Não é o que é útil à sociedade que é recompensado. Se assim fosse professores eram milionários, parentes domésticos eram milionários, trabalhadores de limpeza e estafetas eram milionários. Não havia patentes de saúde. Não é o “risco” que é recompensado. Investidores (10/22)
Arriscam frequentemente dinheiro que não é seu e são resgatados. Filhos arriscam dinheiro dos pais, ou empresários dinheiro do banco ou do estado sem qualquer consequência (excepto ser eleito Presidente dos EUA, num certo caso). É a utilidade para o capital que é (11/22)
recompensada. O teu trabalho vale dinheiro porque enriquece outra pessoa. A tua ideia vale dinheiro porque enriquece outra pessoa. Não porque melhore a vida da maioria das pessoas. A automatização, muita produto de investimento público, podia pôr-nos a todos a trabalhar (12/22)
menos, mas isso não seria útil para o capital. Útil para o capital é não ter de lidar com sindicatos, impostos, doença, burnout. E por isso apropriam-se do trabalho útil dos outros com dinheiro que não é seu para fazer mais dinheiro enquanto prejudicam a sociedade. (13/22)
A vacina da Oxford ia ser pública. Foi feita com investimento público. Até os Gates prometerem milhares de milhões em donativos a Oxford para que vendessem à AstraZeneca, empresa em que a Fundação Gates investiu. Isso foi para o bem da sociedade? Não. Não sou contra (14/22)
Fast food, reality shows, merchandise mas nenhuma destas coisas existe porque cria um bem para a sociedade. Existem porque são úteis para o capital. Sim, fazem dinheiro, mas é mais do que isso. A Amazon, a Uber, o Facebook, Netflix... fazem dinheiro aos investidores? (15/22)
Em muitos casos não. Muitas destas empresas nunca tiveram lucro. Mas têm uma utilidade: a uber ataca direitos laborais e a infraestrutura de transporte público. O facebook espia e controla discurso e tornou-se uma maneira mais eficiente e precisa de entregar anúncios*. A (16/22)
Amazon aproveita-se dos correios nos EUA, mata pequenos negócios com dumping de preços, tal como a uber eats extrai a margem de lucro de pequenos restaurantes. O sonho dos pequenos empreendedores está a ser asfixiado pela maximização de lucros dos grandes grupos. E por (17/22)
isso, muitos fazem o trabalho sujo das mesmas, para sobreviver cortam em que tem menos poder: atacam direitos laborais e salários. Finalmente, a poluição torna-se a mais óbvia evidência de que o que é recompensado no capitalismo é a utilidade ao capital. Bitcoin, (18/22)
a fantasia de uma moeda descentralizada, não regulada, por si polui mais que a Suíça inteira, cada transação polui mais que o consumo de uma família americana num mês. E para quê? Esta “inovação” beneficia quem? O que traz à sociedade? Que bem traz o desperdício dos (19/22)
invólucros redundantes do que compramos no supermercado? Ou os cruzeiros? Quando vamos deixar de confundir “o privilégio de uns poucos” com “o bem da sociedade”? Beneficiávamos todos, todos, até os pequenos empresários, de uma sociedade que de facto recompensasse não (20/22)
o que é útil para o capital, mas o que é útil para todos. Ensino para todos, não-segregado. Saúde para todos, sem olhar à carteira. Um voto não só no nosso governo, mas no sítio onde passamos 1/3 ou mais do nosso dia e mais de 1/2 das nossas horas acordados. Se (21/22)
pudéssemos escolher o que fazemos... poluiríamos tanto? Faríamos produtos inúteis? Receberíamos tão pouco do que produzimos? Podemos garantir um futuro seguro para todos sem lixar ninguém. Porque não o fazemos? Temos assim tanto medo de perder os nossos grilhões? (22/22)
*anúncios estes que estão a matar a imprensa livre e por sua vez o jornalismo de investigação e consequentemente qualquer maneira de responsabilizar o capital pelos seus crimes.

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6 Jan
João Ferreira e Tiago Mayan na TVI24!
João Ferreira num caloroso debate com a moderadora sobre as medidas de emergência que são necessárias (mas não o estado de emergência, que não evitou este brutal aumento de casos). Há alguma regra sobre não deixar o João Ferreira acabar um pensamento ou...? #presidenciais2021
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6 Jan
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6 Jan
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6 Jan
Tenho muito pouca paciência para estas conversas de "precisamos de uma perna esquerda e uma perna direita senão andamos tortos" e "precisamos de uma direita forte". Se o centro político deste país já fosse entre o PS e o BE/CDU, a discussão era QUANTO investir no SNS, QUÃO (1/6)
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5 Jan
MARISA MATIAS VS VITORINO SILVA na RTP3 agora! WILD CARD TIME
Começa com uma visita ao passado histórico da figura de “Tino de Rans” que já nos acompanha há mais de vinte anos. Pinta-se como um homem de família e não um fanático sedento de holofotes e defende as suas derrotas eleitorais recentes (reenquadrando como vitórias morais)
Ainda bem que Vitorino está nestes debates, Portugal é mais que Belém e São Bento. Não sei como Marisa consegue “marcar pontos” aqui, excepto sendo magnânima e simpática (como é normalmente). VdS a notar as boas audiências que teve. Como alguém não preocupado com a fama.
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5 Jan
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