1 Peço licença para entrar no assunto q tem rendido muita polêmica graças a um tweet do querido @silviolual: o neoliberalismo. Afora os desaforos com os quais, como ele próprio já explicou, não se abala nem um pouco, muita coisa já foi escrita aqui, concordando ou discordando.
2 Pode ser q eu vá chover no molhado, e pode ser q alguém já tenha escrito s/ isso, pq foram inúmeras manifestações e certamente nem todas chegaram até mim. Se assim for, desculpem.
Penso q, se introduzirmos explicitamente no tema o elemento Estado, as coisas ficam mais claras.
3 A imagem que é recorrente nos discursos da esquerda em geral é que o neoliberalismo é um sistema onde vigora o Estado mínimo, o que está correto, mas esse mínimo não pode ser entendido como sinônimo de fraco. Tem que ser entendido como sinônimo de "pequeno", o menor possível.
4 E pequeno em relação a quê? Pequeno, o mínimo mesmo, no espaço da acumulação, porque se for grande, "rouba" possibilidades de lucro e, portanto, de valorização, da riqueza privada. Se o Estado de um dado país já foi grande em algum momento, então é preciso cortá-lo, reduzi-lo
5 Daí as receitas de sempre:
a) privatização, porque trata-se de negócios que poderiam estar valorizando os ativos privados; por que o Estado precisa produzir petróleo, gás, aço, energia, água? Tudo isso poderia estar nas mãos do setor privado, valorizando o capital privado;
6 b) controle estrito das contas públicas (austeridade), porque é preciso retirar do Estado sua capacidade de investir, deixando mais espaço para o setor privado;
7 c) destruição dos sistemas previdenciários públicos (como o nosso INSS) e sua substituição por sistemas de capitalização, porque a vida, a velhice e a morte também têm de poder ser transformados em negócios.
8 Ora, em primeiro lugar, para fazer tudo isso, ou seja, para "construir" o Estado mínimo e a destruição que ele enseja, esse Estado não pode ser fraco, ele precisa ser bem forte, no limite violento.
9 Mais ainda, "construído" o tal Estado mínimo, ele tem que se manter forte e violento, porque a desigualdade naturalmente produzida pelo sistema capitalista, e que só pode ser relativamente mitigada pelo próprio Estado, tende a crescer.
10 Foi esse enredo q nós vimos se desenrolar em quase todo o planeta desde1980.Tratou-se de uma resposta à crise de sobreacumulação q acometeu o sistema como um todo a partir dos anos 1970. A tese não é minha, é de David Harvey, mais recentemente abraçada tb por François Chesnais
11 E o q é uma crise de sobreacumulação? É uma crise de abundância, por contraditório q seja (mas o sistema é assim mesmo, movido por contradições): existe capital em excesso relativamente às possibilidades de sua valorização produtiva. A financeirização é uma consequência disso.
12 Daí a caça desesperada de novos ativos, por meios, em geral, fraudulentos e violentos, e que Harvey chama de "acumulação por espoliação". E isso tudo vem embalado no discurso da eficiência: "o mercado precisa substituir o Estado, porque é mais eficiente".
13 Friedrich Hayek, uma espécie de pai do neoliberalismo que apoiou a ditadura militar de Pinochet, engendrou essas ideias nos anos1940 para driblar Keynes, que, liberal por convicção (no sentido político e filosófico), achava que era necessário salvar o capitalismo de si mesmo.
14 O pesadelo de Hayek era o Estado keynesiano q, p/ ele, roubaria a liberdade individual mais do que as botinas militares. O Estado keynesiano tem q ser grande, p/ fazer o wellfare state e ser forte p/ ter poder de intervenção, isto é, agir contraciclicamente e efetivar direitos
15 Então chegamos ao ponto: intervenção requer Estado forte. E essa intervenção pode ser para: a) reanimar a economia via investimentos públicos; b) mitigar efeitos da crise via wellfare (ou auxílio emergencial); c) operar a destruição de si mesmo, em prol do estado mínimo; ou
16 d) satisfazer os caprichos eleitoreiros do fascista de ocasião c/ quem a agenda neoliberal se abraçou; os farialimers estão enlouquecidos, farão mimimi e se dirão traídos; a bolsa despencará. Mas tem jogo de cena aí. Bolsonaro continuará no poder enqto funcionar p/ essa agenda
17 Conversando hoje com meu amigo @Haddad_Fernando ele me disse algo que achei preciso em relação a esse casamento do coiso com a agenda ultraliberal de Guedes: eles precisam de Bolsonaro, dessa extrema direita grosseira, porque o neoliberalismo cheiroso não ganha mais eleição.
18 Bom, acho que paro por aqui, que vocês já devem estar cansados. Culpa do @silviolual, que começou essa pendenga toda. Ah e só escrevo este último tweet porque achei demais que este fio fosse acabar justo no 17, cruz-credo!!
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"O Brasil está quebrado e eu não consigo fazer nada". Mais uma declaração polêmica de quem está onde não devia. A estupidez condiz com quem a pronunciou e vai jogar lenha na fogueira do terrorismo econômico, que grassa no Brasil há décadas, ora mais, ora menos intenso. (+)
Desta vez, o terrorismo econômico, engordado por essa estultice de que "está quebrado" servirá para "justificar" a genocida política de extinção do Auxílio Emergencial em pleno recrudescimento da pandemia. (+)
É evidente q um país não quebra.
Pode entrar em moratória por desequilíbrio externo e falta de divisas, como já aconteceu aqui; ou enfrentar um processo hiperinflacionário decorrente de instabilidade monetária interna (q pode ser alimentada por deseq externo) mas quebrar não (+)
Há uma certa discussão na esquerda sobre se devemos ou não soltar rojões pela vitória de Biden.
Sobre isso penso que é preciso deixar claras algumas coisas: 1) Os EUA são uma potência imperialista; em decadência, é certo, mas imperialista. (+)
2) Desse ponto de vista, pouca diferença faz, para a América Latina, por exemplo, quem está no comando lá. Sempre se acompanha as eleições americanas com interesse, é claro, mas, por isso, eu nunca me preocupei de fato com seu resultado.(+)
A propósito, Glenn Greenwald contou hoje, em entrevista a Mônica Bergamo, que certa vez entrevistou Evo Morales que, como presidente da Bolívia, passou por Bush, Obama e Trump. Perguntou -lhe qual era a diferença entre eles do ponto de vista de seu país e Evo respondeu: nenhuma.
Exato, mas a retração da oferta se deve ao fato de vários países produtores, por conta da situação anormal de pandemia, terem reduzido sua oferta de arroz ao mercado internacional para, estratégicamente, preservarem maiores quantidades para seu consumo interno. Segue
O Brasil fez exatamente o inverso. A exortação foi quase 10 vezes maior neste ano do que em 2019. Os nossos produtores, muito preocupados com seus compatriotas, não desperdiçaram a chance de lucrar como nunca com a subida de preços do produto no mercado externo.
OK, essas são as regras do jogo. Capital não tem pátria e os capitalistas agiram como capitalistas. Mas a situação seria bem diferente se o governo tivesse estoques reguladores e pudesse entrar ofertando para conter a elevação dos preços internos.