Um dos problemas da maioria das análises políticas sobre o derretimento das estatais, especialmente a Petrobras, é de que se trata de um plano para facilitar a privatização. Quando tudo indica que se trata do oposto, e por isso mesmo o mercado está reagindo tão mal.
A agenda do Guedes sempre foi clara: privatizar até o CPF nos brasileiros, plano este que, supostamente, contaria com a participação direta do Presidente Bolsonaro. Contudo, bastou uma pressão popular para que o Capetão adotasse mudar sua orientação.
A privatização de uma estatal como a Petrobras é o sonho molhado do mercado. Contudo, eles não contavam com o projeto de poder bolsonarista, que coloca sua agenda sobre todas as demais. Não existe agenda governamental que contrarie seus interesses.
O disparo no preço dos combustíveis, depois de uma alta no preço das carnes e do arroz, seria um golpe certeiro: incidiria sobre redutos fieis e - já podemos dizer isso - tradicionais do bolsonarismo. Caminhoneiros e classe média.
Lembram do pânico moral causado pela alta dos combustíveis durante o governo Dilma, de como aquilo foi "combustível" de uma certa revolta popular. Dos casos de pessoas gritando nos postos, dos adesivos misóginos. etc...
Bolsonaro não poderia arriscar passar por isso, especialmente em um momento tão delicado do seu governo. Por isso interviu.
Seu objetivo não é dilapidar a empresa para um projeto de privatização: é um ato desesperado! Almeja estancar a sangria de alguma forma, nem que para isso tenha que jogar o "mercado" no lixo.
Inclusive, no zap circulam mensagens atacando os "investidores", em um discurso muito semelhante ao de uma certa direita estadunidense que culpa Wall Street por seus problemas.
Bolsonaro, se tivesse o mínimo de competência política, inteligência mesmo, poderia fazer o processo de outra forma, por debaixo dos panos, mas não, ele precisava realizar um ato público, uma propaganda, mesmo que ineficaz.
Só lembrando que tem algumas semanas que ele vem tentando encontrar culpados para o aumento dos combustíveis, jogou a culpa nos governos estaduais, agora é no presidente da Petrobras e nos acionistas. Vamos ver quem será o próximo.
O ponto é: o que ficou claro para o Mercado é que Bolsonaro não adotara ou permitirá nenhuma medida que ameace o apoio de suas bases. Entre elas podem estar a privatização de refinarias e da própria Petrobras. Afinal, como ele poderá controlar o preço assim?
Quem foi o Presidente que entregou a Petrobras? Que hoje levantou o velho bordão do "Petróleo é nosso"? Pois é.
Lembrando que ele ainda tem mais dois anos pela frente e, Ogum nos proteja, talvez mais 4. Ou seja, serão mais seis anos de incertezas, de atos como estes. Quem vai investir, comprar ativos em um país onde um presidente pode, para agradar as bases, comandar uma reestatização?
Algum político ou grupo podem se aproveitar disso para acelerar as privatizações? Podem. Mas isso dependeria de uma domesticação do Bolsonaro que já não acreditam mais ser possível. E essa era a promessa de campanha, a importância do Guedes.
O mercado está emitindo um sinal muito forte de que Bolsonaro se tornou um entrave, um obstáculo na realização dos seus planos. E isso não é algo que se resolve do dia para a noite. Isso pode contar muito em 2022.
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A questão nunca foi se Bolsonaro era ou não liberal. A questão do Mercado (e de todo os outros setores) sempre foi o tamanho da influência que eles teriam sobre um presidente como Bolsonaro.
Esse é um dos pontos cruciais: Bolsonaro sempre foi um político incapaz. Conseguiu uma projeção nacional, ganhou uma tração midiática, mas nada disso adiantaria se não fosse pelo apadrinhamento de alguns setores.
Bolsonaro não era o candidato original do mercado. A confiança do Mercado estava antes no Alckmin e depois no Meirelles. E aqui fica evidente o tamanho da influência que o Mercado tem na hora de se decidir uma eleição: é bem menor do que se imagina.
Para quem está ai comemorando o derretimento da bolsa, achando que isso é apenas um problema do mercado financeiro. É sempre bom lembrar que em cenários de incerteza como essa os investidores buscam refúgio no dólar, aumentando ainda mais a desvalorização da moeda nacional.
O aumento do dólar puxa a inflação, pior, pode levar até a novos cenários de desabastecimento, como ocorreu com o arroz, recentemente. Aumentando ainda mais a pressão da economia sobre os mais pobres e o achatamento das camadas populares.
Fora que a única política cambial desse governo é a venda de dólar. Só hoje, como medida de contenção, o Banco Central anunciou um leilão de swap cambial, de até 20 mil contratos, o equivalente a US$ 1 bilhão.
Paulo Guedes foi anunciado como Posto Ipiranga mas na realidade nunca passou de um bonecão do posto.
É impressionante, pois quando a gente coloca na ponta do lápis percebe que nem os setores mais interessados na implementação da ideologia do Guedes foram beneficiados por suas presença no governo, pelo contrário.
Tanto foi que até ontem a narrativa era de que a "agenda liberal" do ministro encontrava resistência no congresso e por isso ainda não havia sido implementada. E o que acontece assim que o congresso se mostra plenamente favorável? Intervenção nas estatais para agradar as bases.
Assisti Doutor Castor, enfim. Gostei bastante, com a excessão de algumas participações totalmente desnecessárias, que não tinham nada além de uma anedota com o sujeito. Mas achei bem interessante como a vida do Castor foi mesclada com a do clube Bangu, da Mocidade e do bairro.
Não há nada na série que não seja novidade - sobretudo para quem é da região e daquele tempo (eu peguei a rebarba pós 87). Mas vale pela narrativa.
E confesso que fiquei bem emocionado com a história do Marinho e do Ado. Marinho sobretudo, sua decadência e morte. Seguem como ídolos na região, jamais esquecidos pelos torcedores do Bangu. Somos poucos, porém imensos.
É bom ver que coisas que venho martelando estão se confirmando: estes dias me referi ao Daniel Silveira como um tendente de infantaria do bolsonarismo.
Enquanto figuras como Oswaldo Eustáquio e Sara Winter atuam como bucha de canhão, dando um "rosto popular" ao movimento, não apenas para os apoiadores, mas também para os opositores, concentrando boa parte das atenções, figuras como Daniel atuam um pouco mais recuadas.
"Silveira manteve contatos com o empresário Otávio Fakhoury, que já admitiu ter ajudado a financiar manifestações antidemocráticas, e com o advogado e empresário Luís Felipe Belmonte, um dos que tentam fundar o Aliança Pelo Brasil, partido ao qual Bolsonaro se filiaria."
Bolsonaro vive pagando de valente, diz que é especialista em matar e tudo mais, contudo, bastou os caminhoneiros falarem mais alto que ele se desesperou, criou um buraco orçamentário de 3 bi/mês, diminuiu o valor da Petrobras em 30 bilhões e ainda deu início a uma crise política.
Só para vocês terem uma ideia do impacto das medidas do presidente desesperado, a redução anunciada do Pis/Cofins sobre o diesel e o gás de cozinha gera um rombo anual de cerca de 36 bilhões de reais. O orçamento do Bolsa Família para esse ano é de cerca de 35 bilhões.
E isso tudo em um momento onde o corpo político tenta arrumar 30 bilhões de reais para subsidiar uma retomada bem meia bomba do auxĩlio emergencial.