Os pisos de saúde e educação são mesmo o boi de piranha da PEC 186, aquele que chama a atenção para passar a boiada. E a boiada é enorme.
Por exemplo, a proposta de alteração do artigo 6o da Constituição visa, por vias obscuras, abolir os direitos sociais da constituição.
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Direitos continuam lá, mas deixam de ser efetivos ou ficam subordinados a uma figura abstrata chamada “equilíbrio fiscal intergeracional”.
Uma jabuticaba jurídica cujo papel é condicionar o cumprimento dos direitos à uma avaliação econômica. 2/
Essa avaliação pode ser, por exemplo, a de que o déficit é grande a dívida é alta ou crescente e portanto, justifica-se o não cumprimento dos direitos.
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Essa "contabilidade intergeracional" surgiu para avaliar a sustentabilidade das finanças públicas. Mas sustentabilidade fiscal é também um conceito sujeito a muitas interpretações. 4/
A sustentabilidade fiscal é associada à estabilização da dívida pública no médio/longo prazo, mas também pode definir-se como a capacidade de dar continuidade à política fiscal sem afetar a solvência do Estado, o que não depende necessariamente de estabilizar a dívida pública.
Antes q alguém venha falar q escassez de recursos representa um limite para a garantia de direitos. Como falar em escassez em um país desigual como o Brasil?
Nosso problema não é escassez, mas má distribuição de recursos.
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E também não dá para falar em escassez em um país com alto desemprego.
Desemprego é desperdício de recursos além da violação do direito humano ao trabalho q em sua dimensão quantitativa, significa o pleno emprego. Aliás, tá lá no artigo 6º.
Os direitos sociais devem ser garantidos sem condicionalidades, ou não são direitos.
Não garantir direitos em nome de um suposto “equilíbrio fiscal intergeracional” é cruel, estúpido e contraproducente.
Não é violando direitos, aceitando o desemprego, destruindo a infraestrutura social q se deixa um legado para as próximas gerações.
Como me lembrou @elida_graziane , os direitos e garantias individuai são clausula petrea da Constituicao e nao poderiam ser condicionados por PEC.
Os direitos deveriam condicionar o orçamento e a política fiscal, e não o contrário.
Há uma inversão de hierarquia no Brasil q está sendo constitucionalizada, como mostramos no livro Economia pós pandemia, q é gratuito para download. pedrorossi.org/economia-pos-p…
Mesmo sem alterar os pisos, a PEC 186 é a destruição dos direitos sociais da Constituicao de 1988.
É chantagem, doutrina do choque, é canalhice mesmo.
O ponto não é se o Bolsonaro é ou não (neo)liberal, mas seu governo representa uma nova forma de neoliberalismo, mais autoritária.
Uma candidatura neoliberal “old school”não seria eleita em 2018, a agenda neoliberal precisava de outro caminho eleitoral: escolheu Bolsonaro.
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Se ele não caiu até agora é porque continua útil pro andar de cima, e o fato dele intervir na Petrobras é parte das contradições de uma nova forma de neoliberalismo q busca conciliar as políticas neoliberais com o desejo de restaurar uma "ordem moral".
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Segundo Christian Laval, a legitimidade da democracia liberal repousa paradoxalmente sobre a sua capacidade de entregar proteção social e redistribuição
Mas o neoliberalismo bloqueou isso, aumentou desigualdades e gerou sentimento de abandono q foi explorado pela extrema direita
A boiada do mercado financeiro vai passar no congresso
Enquanto a independência do Banco Central garante a blindagem da instituição, o PL do câmbio transfere para o BC atribuições do executivo e legislativo.
É um “combo” que aumenta o poder do mercado financeiro. 1/7
O PL do câmbio dá carta branca ao BC para fazer transformações radicais no mercado de câmbio, por exemplo, disseminar as contas em dólar para residentes ou seletivamente dizer quem pode ou não pode.
É o caminho em direção à dolarização, percorrido pela Argentina e o Equador.
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Hoje a lei restringe a circulação de dólar entre residentes e o Conselho Monetário Nacional tem palavra final sobre as diretrizes do sistema financeiro.
Com o PL -que revoga artigos que versam sobre as responsabilidades do CMN- a bola estará com um Banco Central independente. 3/
Hoje é aniversário do teto de gastos, mas não vi ninguém comemorando. Não é pra menos, o teto é bomba relógio pra 2021.
A regra é inviável, irresponsável, mal feita, reduz o Estado, desfinancia saúde e educação e é freio para a recuperação econômica. 1/9 #AcabaTetodeGastos
2021 + teto = caos social
Se voltar ao teto, sem orçamento de guerra e auxilio emergencial teremos um salto no desemprego junto com paralização da maquina pública.
Achar q podemos cortar 7% do PIB em despesas em meio à crise sem impacto no emprego e renda é delírio ideológico
O teto é um projeto de redução do tamanho do Estado e de seu papel social. Ele impõe a redução da relação gasto/PIB e da relação gasto/per capita
O Paulo Guedes tenta vender a ideia de que o ajuste fiscal é responsabilidade da nossa geração com as gerações futuras. E que filhos e netos não devem pagar uma conta (dívida) deixada por nós.
A ideia apela para o senso comum, mas é FALSA. Seguem os argumentos ... 1/5
Uma geração desempregada não paga conta alguma. A responsabilidade do governo é também buscar o pleno emprego.
A afirmação do Guedes pressupõe que o ajuste fiscal não reduz crescimento e emprego o que, nos dias de hoje, é terraplanismo macroeconomico.
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A geração do pós-guerra nos países centrais deixou um legado pra filhos e netos e não foi com austeridade fiscal mas com aumento do gasto público que ergueu os estados de bem estar social.
Com crescimento alto, juros baixo e reformas tributárias progressivas...a dívida caiu. 3/5
Nessa semana a austeridade fiscal foi enterrada. O artigo do editor de economia do Financial Times fala em mudança de consenso e substituição da ortodoxia pelo ativismo fiscal.
Já no Brasil a austeridade é uma ideia zumbi, não morre nunca e é imune às evidencias. 1/4
"não há mais desejo de austeridade após a difícil década de 2010, então o clima político e público se encaixa em uma nova economia." "a austeridade semeou as sementes de sua própria destruição" 2/4 ft.com/content/0940e3…
A ideia agora é gastar até que a economia recupere força total. "A mensagem do FMI é que o aperto fiscal prematuro após a crise prejudicará, não curará, as economias" diz esse outro artigo. 3/4 ft.com/content/2f4ef5…
Encontramos ERROS com os dados na capa da @folha de ontem. O bom jornalismo deve corrigir.
O primeiro é o uso dos dados de "expense" que exclui investimentos líquido, em vez de "expenditure". Abaixo a série replicada q a folha usou e a correta com os dados do FMI. 1/n
Com a série correta o crescimento das despesas primárias entre 2008-2018 nao foi de 10,4 % do PIB como diz a folha, mas de 7,6%.
A comparação internacional precisa ser refeita com o conceito correto. 2/
O segundo erro é ignorar q o FMI junta duas séries do Tesouro, com quebra metodológica em 2010 (perceptível no gráfico).
Vejam o Sergio Gobetti, com ressalva q a mudanca metodologica na série do tesouro é em 2010 e nao 2013. 3/