Fiz uma imagem também ilustrando esse processo quando o vírus infecta células e passa a produzir cópias de si
Ou seja, a primeira e mais importante coisa a se entender até este momento:
✅o vírus precisa infectar novos hospedeiros para gerar cópias de si
✅no hospedeiro, esse processo de fazer cópias pode desencadear erros (mutações) que vão se acumulando e gerando variantes
✅nem todas as variantes geradas são de atenção para nós. Essas mutações são aleatórias na sequência do mat. genético do vírus, poucas podem gerar alguma mudança na função/estrutura, podendo ser "boas ou ruins" pro vírus
✅se eu acelerar a transmissão, acelero esse processo
OU SEJA:
✅quando o vírus circula mais, ele infecta diferentes pessoas, acaba acelerando todo esse ciclo e podemos ver mais variantes surgindo, e dentro dessas, aumenta o risco de alguma delas ser de nossa atenção/relevantes pra nossa saúde (VOCs - variants of concern)
Tendo isso em vista, os esforços para entender a P.1 se justificam: a P.1 apresenta um conjunto de mutações que nos preocupam muito:
- A N501Y (também ocorre na B.1.1.7 e B.1.351) e a E484K (também ocorre na B.1.351) conforme explico aqui:
Existem indicativos (para a P.1e B.1.351) que suas mutações, + meio em que as variantes se encontram (se tem mais ou menos restrições das pessoas para facilitar ou dificultar a transmissão) podem estar associados com aumento de casos locais
Recentemente, o @CaddeProject publicou alguns dados sobre a P.1 que comentei neste fio. Dados indicam que sua primeira ocorrência no Brasil aconteceu no início de novembro de 2020, em Manaus:
Alguns dados do @CaddeProject apontam para um possível aumento da carga viral por parte da P.1 a partir da análise dos ciclos de detecção dessa variante na técnica de RT-qPCR
A P.1 é descendente de uma cepa chamada B.1.1.28 (ou 28-AM-II). Conforme é esperado, variantes vão acumulando mutações em uma determianda "frequência" que pode ser vista nessa imagem. Mas a P.1 parece que dá um "salto" nesse acúmulo (vermelho):
Os dados da equipe se somam aos do @CaddeProject corroborando que a P.1 leva a um aumento da carga viral nos infectados, especialmente em adultos. Talvez isso possa justificar, em parte, uma mudança no perfil de internações que está sendo relatado
E para quem acha que distanciamento físico não funciona: é muito incrível, e concordo com o @GrafTiago , como despenca parâmetros relacionados com a transmissão dessas variantes quando o distanciamento social é maior que 50% na população.
Quando o distanciamento social cai, o vírus encontra um terreno que propicia positivamente sua circulação, reunindo condições necessárias (suscetíveis + livre circulação e ausência de medidas mais restritivas) para gerar variantes como a P.1
Baseado nesses dados, estamos realmente lidando com uma variante potencialmente mais transmissível, que leva aum aumento da carga viral, que pode estar relacionado com mais casos, mais agravamentos e pode, EM PARTE, contribuir para o colapso do sist. de saúde que estamos vendo.
Por que em parte, Mell?
Porque, como mostrado ali, mesmo com uma variante como a P.1, apenas observando o distanciamento social, já percebemos que ele impacta em sua transmissão E no surgimento de novas variantes.
A culpa não é 100% da variante. É nossa também.
Nossa:
✖️gestores que insistem em flexibilizações sem controlar as taxas de crescimento de novos casos, novos óbitos
✖️gestores que não se baseiam em evidências científicas para o enfrentamento
✖️população que segue negligenciando as medidas de enfrentamento e a pandemia
Mas e as vacinas, Mell?
CALMA! Vou escrever agora!
[FIO EM CONSTRUÇÃO]
Nesse fio, comecei abordando alguns dados de vacinas sobre as VOCs que estão sendo mais noticiadas/acompanhadas
Como vocês podem ver, não temos ainda muitos dados para a P.1. Sabemos por exemplo que a JJ (vacina da Johnson&Johnson) obteve eventos/casos de COVID-19 na população brasileira que fez parte do estudo quando a P.1 já estava circulando
A PRIMEIRA COISA QUE DEVEMOS CONSIDERAR, como colocado muito bem pela @Cambricoli: estudo preliminar, com um n muito pequeno para tirarmos conclusões definitivas!
A pesquisa foi realizada na USP/Unicamp para estudar a a ação neutralizante de anticorpos de pessoas recuperadas de COVID-19 e de pessoas vacinadas com a CoronaVac, em relação a infecção pela P.1
Para isso, os pesquisadores usaram cultura de células naso e orofaríngeas infectadas com a P.1, para se testar o soro de pacientes recuperados de COVID-19 (19 amostras) ou imunizados com a CoronaVac (8 amostras).
Resultados:
- Diminuição da ligação dos anticorpos neutralizantes na região da Spike da P.1 em amostras de pacientes recuperados de COVID-19 por outras cepas circulantes
Oou seja, se me infectei com a cepa A, os anticorpos que fiz contra ela podem ter ação diminuína sobre a P.1
A média de idade dos participantes recuperados de COVID-19 do estudo que doaram amostras de soro com anticorpos neutralizantes foi de 34 anos, predominantemente mulheres e com altos níveis de IgM e IgG anti-SARS-CoV-2. Os dados foram comparados com a linhagem B também
Para amostras de pessoas recuperadas de COVID-19, foi observada uma redução de 6x da ação neutralizante sobre a P.1, comparado com a ação que é observada na linhagem B.
Agora, os dados com as 8 amostras de pessoas imunizadas com a CoronaVac:
A média de idade foi de 35 anos, homens, com a coleta 5 meses após o recebimento da 2ª dose da vacina (participantes do ensaio 3 do imunizante)
A mesma comparação acima foi feita para a P.1 e a linhagem B (+ comum no Brasil anteriormente).
Provavelmente devido ao baixo número de amostras, não foi possível estabelecer a ação neutralizante sobre a P.1, e em virtude disso, não foram observadas diferenças estatísticas
É possível sim que haja uma diminuição da ação neutralizante da CoronaVac sobre a P.1, mas temos que entender alguns pontos:
- A CoronaVac induz a formação de anticorpos contra várias partes do vírus, não só a Spike. Precisamos de dados de EFICÁCIA p/ saber a proteção sobre a P.1
- Nem só de anticorpos a resposta imunológica é feita! Temos que lembrar que a CoronaVac também protegeu contra agravamento da doença E que temos que estudar o COMPONENTE CELULAR também. Células B, T que tem papel fundamental na resposta contra a infecção
Então antes da gente enlouquecer achando que nada funciona pra essa variante cretina, SIGAMOS COM AS INFORMAÇÕES ABAIXO:
✅amostra pequena, precisa de + estudos pra bater o martelo sobre a ação neutralizante
✅PRECISAMOS DE DADOS DE EFICÁCIA, p/ saber sobre a proteção sobre a P.1
✅mais estudos devem ser feitos com a CoronaVac, CoviShield (vacina da Fiocruz/AstraZeneca/Univ Oxford) e outras sobre a P.1 e demais VOCs
✅SIGAMOS NOS VACINANDO porque as vacinas evitam a doença, agravamento e mesmo com redução na ação neutralizante, podem proteger ainda
Por nota a imprensa, o Inst. Bharat Biotech anunciou que a Covaxin teria eficácia de 81%, em uma análise interina inicial feita com 43 eventos, dos quais 7 estavam no grupo que recebeu a vacina.
Ontem eu publiquei um fio compilando o que sabemos sobre a P.1, em especial, considerando o contexto das vacinas. Temos dados de ação neutralizante (Pfizer, Moderna, Sinopharm) e análises de eficácia (JJ e Novavax).
A @WHO nesse mesmo painel já havia anteriormente apresentado pareceres sobre a hidroxicloroquina para pacientes com COVID-19 confirmada, em que também não recomendava o uso do medicamento para tratamento:
Imagem ilustrativa do surgimento e investigação das variantes do SARS-CoV-2. Destaques:
- B.1.1.7: aumento da transmissão, poucas evidências de escape imunológico;
-B.1.351 e P1: possível escape imunológico
-B.1.526: possívelmente um cenário similar a B.1.351/P1
O mini fio! 👇
🇧🇷 Imagem ilustrativa adaptada de um tuíte do @EricTopol
Recentemente, uma nova variante foi descoberta em Nova York, chamada de B.1.526. Ela começou a ser osbervada em amostras de pessoas com COVID-19 em meados de Novembro nytimes.com/2021/02/24/hea…
A decisão derruba Nota Técnica (NT 01/2021) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que autorizou o recebimento e distribuição dos medicamentos como tratamento precoce da covid-19
o tratamento precoce não tem suporte em evidências científicas robustas e assentadas em pesquisas clínicas conclusivas sobre a sua eficácia.
Além do risco de danos à saúde individual, pelos efeitos colaterais que podem causar, traz um reflexo deletério à saúde coletiva
“A opção da instituição do tratamento precoce, diante da AUSÊNCIA de evidências científicas sérias de sua efetividade, foi uma opção política do Administrador, que extrapolou seu poder de discricionariedade." (trecho da fala mencionada na reportagem)
O comitê científico para o enfrentamento da pandemia da COVID-19 no RS publicou sua nota técnica (24/02/2021) alertando para a situação gravíssima que o estado se encontra. O sistema de saúde está a beira, se não atualmente, em seu colapso. - o fio 👇
Segundo a nota "A estratégia de aumentar os leitos é muito importante, mas não é possível aumentar leitos
infinitamente, e nem na velocidade necessária quando há descontrole da transmissão."
"Por mais que seja possível adquirir mais equipamentos, é impossível formar novas equipes de saúde com o conhecimento especializado necessário na mesma velocidade."