O QUE SABEMOS SOBRE A VARIANTE P.1?

Fio reunindo alguns fios que fiz sobre o assunto, também elencando os (poucos) dados que temos sobre as vacinas da COVID-19 e essa variante!

[Fio que vai ir sendo atualizado]

Vamos dar uma olhada?
Começando pelo começo: como surgiu essa questão da P.1?

Nesse fio, faço o retrospecto temporal dos acontecimentos de sua "descoberta":
Para quem quiser alguns dados sobre a B.1.1.7 e B.1.351:
O @AndersonBrito_ fez um fio super bacana explicando como é esse processo natural evolutivo dos vírus que levam ao surgimento de variantes aqui:

Fiz uma imagem também ilustrando esse processo quando o vírus infecta células e passa a produzir cópias de si
Ou seja, a primeira e mais importante coisa a se entender até este momento:
✅o vírus precisa infectar novos hospedeiros para gerar cópias de si
✅no hospedeiro, esse processo de fazer cópias pode desencadear erros (mutações) que vão se acumulando e gerando variantes
✅nem todas as variantes geradas são de atenção para nós. Essas mutações são aleatórias na sequência do mat. genético do vírus, poucas podem gerar alguma mudança na função/estrutura, podendo ser "boas ou ruins" pro vírus
✅se eu acelerar a transmissão, acelero esse processo
OU SEJA:
✅quando o vírus circula mais, ele infecta diferentes pessoas, acaba acelerando todo esse ciclo e podemos ver mais variantes surgindo, e dentro dessas, aumenta o risco de alguma delas ser de nossa atenção/relevantes pra nossa saúde (VOCs - variants of concern)
Tendo isso em vista, os esforços para entender a P.1 se justificam: a P.1 apresenta um conjunto de mutações que nos preocupam muito:

- A N501Y (também ocorre na B.1.1.7 e B.1.351) e a E484K (também ocorre na B.1.351) conforme explico aqui:
Existem indicativos (para a P.1e B.1.351) que suas mutações, + meio em que as variantes se encontram (se tem mais ou menos restrições das pessoas para facilitar ou dificultar a transmissão) podem estar associados com aumento de casos locais

Nesse tuíte, @EricTopol mostra o local em que as principais VOCs comentadas atualmenteforam primeiramente descritas:



Uma imagem ilustrativa que fiz:
E aqui, fiz uma adaptação da imagem também compartilhada por ele, mostrando de quais cepas essas VOCs são descendentes
Recentemente, o @CaddeProject publicou alguns dados sobre a P.1 que comentei neste fio. Dados indicam que sua primeira ocorrência no Brasil aconteceu no início de novembro de 2020, em Manaus:
Alguns dados do @CaddeProject apontam para um possível aumento da carga viral por parte da P.1 a partir da análise dos ciclos de detecção dessa variante na técnica de RT-qPCR
Eles também trazem alguns indícios sobre maior transmissibilidade por parte dessa variante:
Somando-se a esses achados, grupos de pesquisa da @fiocruz liderados por @fnaveca @GrafTiago @PaolaResende1 @edsondelatorre @GabrielWallau trazem um retrospecto da circulação de variantes nas "ondas" de COVID-19 no país:
A P.1 é descendente de uma cepa chamada B.1.1.28 (ou 28-AM-II). Conforme é esperado, variantes vão acumulando mutações em uma determianda "frequência" que pode ser vista nessa imagem. Mas a P.1 parece que dá um "salto" nesse acúmulo (vermelho):

Os dados da equipe se somam aos do @CaddeProject corroborando que a P.1 leva a um aumento da carga viral nos infectados, especialmente em adultos. Talvez isso possa justificar, em parte, uma mudança no perfil de internações que está sendo relatado
E para quem acha que distanciamento físico não funciona: é muito incrível, e concordo com o @GrafTiago , como despenca parâmetros relacionados com a transmissão dessas variantes quando o distanciamento social é maior que 50% na população.
Quando o distanciamento social cai, o vírus encontra um terreno que propicia positivamente sua circulação, reunindo condições necessárias (suscetíveis + livre circulação e ausência de medidas mais restritivas) para gerar variantes como a P.1
Por outro lado, quando o distanciamento social sobe, isso impacta diretamente em parâmetros relacionados com a transmissão da P.1!

NECESSITAMOS DE MEDIDAS RESTRITIVAS E ADESÃO DAS MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO PARA LIDAR COM AS VARIANTES
O estudo completo pode ser acessado aqui:
Baseado nesses dados, estamos realmente lidando com uma variante potencialmente mais transmissível, que leva aum aumento da carga viral, que pode estar relacionado com mais casos, mais agravamentos e pode, EM PARTE, contribuir para o colapso do sist. de saúde que estamos vendo.
Por que em parte, Mell?
Porque, como mostrado ali, mesmo com uma variante como a P.1, apenas observando o distanciamento social, já percebemos que ele impacta em sua transmissão E no surgimento de novas variantes.

A culpa não é 100% da variante. É nossa também.
Nossa:
✖️gestores que insistem em flexibilizações sem controlar as taxas de crescimento de novos casos, novos óbitos
✖️gestores que não se baseiam em evidências científicas para o enfrentamento
✖️população que segue negligenciando as medidas de enfrentamento e a pandemia
Mas e as vacinas, Mell?

CALMA! Vou escrever agora!

[FIO EM CONSTRUÇÃO]
Nesse fio, comecei abordando alguns dados de vacinas sobre as VOCs que estão sendo mais noticiadas/acompanhadas
Fiz atualização desse fio aqui:

E aqui:

E nessa imagem, resumi os dados até então
Como vocês podem ver, não temos ainda muitos dados para a P.1. Sabemos por exemplo que a JJ (vacina da Johnson&Johnson) obteve eventos/casos de COVID-19 na população brasileira que fez parte do estudo quando a P.1 já estava circulando
Mas estudos específicos para a P.1 ainda são algo escasso na nossa literatura - e que estão sendo feitos, com certeza!

Recentemente, foi publicado esse dado aqui, como preprint na base da @TheLancet sobre a P.1 e CoronaVac: papers.ssrn.com/sol3/papers.cf…
A PRIMEIRA COISA QUE DEVEMOS CONSIDERAR, como colocado muito bem pela @Cambricoli: estudo preliminar, com um n muito pequeno para tirarmos conclusões definitivas!
A pesquisa foi realizada na USP/Unicamp para estudar a a ação neutralizante de anticorpos de pessoas recuperadas de COVID-19 e de pessoas vacinadas com a CoronaVac, em relação a infecção pela P.1
Para isso, os pesquisadores usaram cultura de células naso e orofaríngeas infectadas com a P.1, para se testar o soro de pacientes recuperados de COVID-19 (19 amostras) ou imunizados com a CoronaVac (8 amostras).
Resultados:
- Diminuição da ligação dos anticorpos neutralizantes na região da Spike da P.1 em amostras de pacientes recuperados de COVID-19 por outras cepas circulantes

Oou seja, se me infectei com a cepa A, os anticorpos que fiz contra ela podem ter ação diminuína sobre a P.1
A média de idade dos participantes recuperados de COVID-19 do estudo que doaram amostras de soro com anticorpos neutralizantes foi de 34 anos, predominantemente mulheres e com altos níveis de IgM e IgG anti-SARS-CoV-2. Os dados foram comparados com a linhagem B também
Para amostras de pessoas recuperadas de COVID-19, foi observada uma redução de 6x da ação neutralizante sobre a P.1, comparado com a ação que é observada na linhagem B.
Agora, os dados com as 8 amostras de pessoas imunizadas com a CoronaVac:

A média de idade foi de 35 anos, homens, com a coleta 5 meses após o recebimento da 2ª dose da vacina (participantes do ensaio 3 do imunizante)
A mesma comparação acima foi feita para a P.1 e a linhagem B (+ comum no Brasil anteriormente).

Provavelmente devido ao baixo número de amostras, não foi possível estabelecer a ação neutralizante sobre a P.1, e em virtude disso, não foram observadas diferenças estatísticas
É possível sim que haja uma diminuição da ação neutralizante da CoronaVac sobre a P.1, mas temos que entender alguns pontos:
- A CoronaVac induz a formação de anticorpos contra várias partes do vírus, não só a Spike. Precisamos de dados de EFICÁCIA p/ saber a proteção sobre a P.1
- Nem só de anticorpos a resposta imunológica é feita! Temos que lembrar que a CoronaVac também protegeu contra agravamento da doença E que temos que estudar o COMPONENTE CELULAR também. Células B, T que tem papel fundamental na resposta contra a infecção
Então antes da gente enlouquecer achando que nada funciona pra essa variante cretina, SIGAMOS COM AS INFORMAÇÕES ABAIXO:
✅amostra pequena, precisa de + estudos pra bater o martelo sobre a ação neutralizante
✅PRECISAMOS DE DADOS DE EFICÁCIA, p/ saber sobre a proteção sobre a P.1
✅mais estudos devem ser feitos com a CoronaVac, CoviShield (vacina da Fiocruz/AstraZeneca/Univ Oxford) e outras sobre a P.1 e demais VOCs
✅SIGAMOS NOS VACINANDO porque as vacinas evitam a doença, agravamento e mesmo com redução na ação neutralizante, podem proteger ainda
E O QUE MAIS DEVEMOS FAZER MELL?

Isso aí vocês já sabem:
Quer saber mais sobre variantes e suas mutações?

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3 Mar
Por nota a imprensa, o Inst. Bharat Biotech anunciou que a Covaxin teria eficácia de 81%, em uma análise interina inicial feita com 43 eventos, dos quais 7 estavam no grupo que recebeu a vacina.

A análise final contará com 130 eventos.

bharatbiotech.com/images/press/c…
Segundo a nota do próprio instituto, os dados foram obtidos a partir da participação de 25.800 pessoas, metade recebendo o placebo, metade a vacina.

A análise inicial dos 43 aponta uma eficácia de 81% naqueles sem infecção anterior após tomar a 2ª dose do imunizante
A vacina é de vírus inativado (tecnologia também utilizada na Sinovac e na Sinopharm, por exemplo)

Imagem: g1.globo.com/bemestar/vacin… Image
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2 Mar
Ontem eu publiquei um fio compilando o que sabemos sobre a P.1, em especial, considerando o contexto das vacinas. Temos dados de ação neutralizante (Pfizer, Moderna, Sinopharm) e análises de eficácia (JJ e Novavax).

Mas e as células?

Vem comigo ver esse preprint!
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2 Mar
@WHO (OMS) recomenda, em seu painel, a não administração de hidroxicloroquina com a finalidade de tratamento precoce para a COVID-19

bmj.com/content/372/bm…
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Para saber mais sobre evidências, método científico e por que é tão importante a gente se atentar a qualidade dos trabalhos: redeaanalisecovid.wordpress.com/2020/08/08/a-h…
A @WHO nesse mesmo painel já havia anteriormente apresentado pareceres sobre a hidroxicloroquina para pacientes com COVID-19 confirmada, em que também não recomendava o uso do medicamento para tratamento:
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26 Feb
Imagem ilustrativa do surgimento e investigação das variantes do SARS-CoV-2. Destaques:
- B.1.1.7: aumento da transmissão, poucas evidências de escape imunológico;
-B.1.351 e P1: possível escape imunológico
-B.1.526: possívelmente um cenário similar a B.1.351/P1

O mini fio! 👇
🇧🇷 Imagem ilustrativa adaptada de um tuíte do @EricTopol

🇺🇸 Illustrative figure adapted from @EricTopol

Vocês devem estar se perguntando: B.1.526? ⁉️🤔

Recentemente, uma nova variante foi descoberta em Nova York, chamada de B.1.526. Ela começou a ser osbervada em amostras de pessoas com COVID-19 em meados de Novembro
nytimes.com/2021/02/24/hea…
Read 14 tweets
25 Feb
Suspensão do Kit COVID em Porto Alegre!

A decisão derruba Nota Técnica (NT 01/2021) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que autorizou o recebimento e distribuição dos medicamentos como tratamento precoce da covid-19

brasildefators.com.br/2021/02/11/jus…
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Além do risco de danos à saúde individual, pelos efeitos colaterais que podem causar, traz um reflexo deletério à saúde coletiva
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25 Feb
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