Ontem eu publiquei um fio compilando o que sabemos sobre a P.1, em especial, considerando o contexto das vacinas. Temos dados de ação neutralizante (Pfizer, Moderna, Sinopharm) e análises de eficácia (JJ e Novavax).
O estudo buscou analisar a resposta de células T CD4+ e T CD8+ em pessoas recuperadas de COVID-19 e em pessoas vacinadas com uma das vacinas aprovadas de RNA mensageiro: Pfizer ou Moderna
As respostas contra as variantes foram comparadas em relação a cepa original de Wuhan
De uma forma geral, os pesquisadores observaram que as variantes* não impactam de grande forma a resposta celular por células T CD4+ e T CD8+.
* B.1.1.7, B.1.351, P.1 e CAL.20C encontradas no Reino Unido, África do Sul, Brasil e Califórnia, respectivamente
O tipo de resposta por parte dessas células também foi investigado, especialmente no padrão de moléculas que emitem sinais para organizar a resposta imunológica contra o vírus. Sabemos que mutações podem levar a mudanças nesse aspecto, mas não parece ter sido o caso nesse estudo!
Sem dúvida, várias das variantes estão associadas ao aumento da transmissibilidade e também ao escape dos anticorpos neutralizantes de indivíduos recuperados ou vacinados, como comentei anteriormente
No entanto, os dados do preprint começam a mostrar que, é possível que as respostas de células T sejam pouco afetadas pelas variantes, o que é muito interessante, pois essas células podem ter papel importante na redução da gravidade da doença.
Assim, é possível que a resposta das células T possa contribuir para limitar a gravidade de COVID-19 pela presença das variantes que escapam parcial ou amplamente dos anticorpos neutralizantes.
É o que estamos sempre dizendo: precisamos entender o impacto também nas céls. T!
Os dados mostram que os epítopos (partes do antígeno viral que são reconhecidas pelo sistema imunológico) são completamente conservados considerando as variantes, em 93% das células T CD4 + e 97% das células T CD8 +
E mesmo nos epítopos afetados por mutações dessas variantes, nenhum efeito negativo sobre a capacidade de ligação para reconhecimento deles é esperado na maioria dos casos.
Ou seja, de modo geral, o efeito das mutações das variantes foi muito baixo na resposta de células T
Os autores trazem uma discussão importnate: embora esse escape da resposta de anticorpos tenha sido bem documentada para vírus influenza e SARS-CoV-2, o escape de respostas celulares em populações humanas não foi relatado para outras infecções respiratórias agudas.
Mas os autores são cautelosos: os dados não descartam que cada pessoa possa ser fortemente afetada pelas mutações de variantes específicas.
Naturalmente, será necessário atualizar as vacinas para direcionar também essa resposta de anticorpos contra a Spike das variantes
É possível também envolver a inclusão de antígenos e epítopos adicionais, talvez selecionados com base na baixa propensão mutacional para garantir que os anticorpos neutralizantes sejam complementados com respostas de células T para minimizar agravamentos e mortalidade COVID-19
QUAIS AS LIMITAÇÕES DO ESTUDO:
- Não avaliou diminuições na reatividade de anticorpos em relação as variantes (outros estudos já fizeram isso)
- Foram analisados um conjunto, ou pool, de epitopos e não dá pra desconsiderar que as mutações possam gerar mudanças em processamentos específicos deles
- Baixo número de participantes, apesar de não ter sido observada uma grande variabilidade nos dados
- O estudo não abordou diferenças substanciais entre a especificidade do epítopo das respostas por diferentes vacinas, somente para vacinas de RNA. Então, precisamos estudar ainda mais diferentes vacinas nesse contexto.
- Não se viu se as respostas pelas variantes serão capazes de reconhecer de forma cruzada a sequência de ref. ancestral presente nas vacinas atualmente aprovadas.
Aqui temos dados promissores, que devem ser ampliados, o mais rápido possível, para entendermos ainda mais o impacto das variantes nas respostas celulares. De certa forma, é esperado que essa resposta não se modifique tanto, e esses dados nos trazem essa perspectiva
E vimos, ao longo de 2020 e 2021, uma forte presença de resp. celulares induzidas pelas vacinas. O impacto das vacinas nas variantes DEVEM incluir análise da resp. celular + resp. de anticorpos!
Além de vacinar, o que posso fazer pra me proteger?
A Novartis, farmacêutica suíça, anunciou que ajudará a produzir a vacina candidata da Curevac, a CVnCoV, que é de RNA mensageiro!
Mas o que é a Curevac? Vou te contar um pouquinho nesse fio!
A CVnCoV, ou a vacina da Curevac, é uma vacina baseada na tecnologia de RNA mensageiro, ou seja, é como se nessa fita de RNA tivesse um manual de instruções para a produção da proteína spike pela célula, para instruir o sistema imunológico a reconhecê-la
Vou deixar uma explicação aqui da @dogarrett no @rodaviva sobre como vacinas de RNA mensageiro funcionam:
A CVnCoVé uma vacina de RNA mensageiro baseada na proteína S encapsulada em nanopartículas lipídicas (LNP)
Por nota a imprensa, o Inst. Bharat Biotech anunciou que a Covaxin teria eficácia de 81%, em uma análise interina inicial feita com 43 eventos, dos quais 7 estavam no grupo que recebeu a vacina.
A @WHO nesse mesmo painel já havia anteriormente apresentado pareceres sobre a hidroxicloroquina para pacientes com COVID-19 confirmada, em que também não recomendava o uso do medicamento para tratamento:
Imagem ilustrativa do surgimento e investigação das variantes do SARS-CoV-2. Destaques:
- B.1.1.7: aumento da transmissão, poucas evidências de escape imunológico;
-B.1.351 e P1: possível escape imunológico
-B.1.526: possívelmente um cenário similar a B.1.351/P1
O mini fio! 👇
🇧🇷 Imagem ilustrativa adaptada de um tuíte do @EricTopol
Recentemente, uma nova variante foi descoberta em Nova York, chamada de B.1.526. Ela começou a ser osbervada em amostras de pessoas com COVID-19 em meados de Novembro nytimes.com/2021/02/24/hea…
A decisão derruba Nota Técnica (NT 01/2021) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que autorizou o recebimento e distribuição dos medicamentos como tratamento precoce da covid-19
o tratamento precoce não tem suporte em evidências científicas robustas e assentadas em pesquisas clínicas conclusivas sobre a sua eficácia.
Além do risco de danos à saúde individual, pelos efeitos colaterais que podem causar, traz um reflexo deletério à saúde coletiva
“A opção da instituição do tratamento precoce, diante da AUSÊNCIA de evidências científicas sérias de sua efetividade, foi uma opção política do Administrador, que extrapolou seu poder de discricionariedade." (trecho da fala mencionada na reportagem)