Marina Silva surge como fenômeno eleitoral por combinar uma estética de esquerda - trabalhadora, história de pobreza, humilde - com um discurso moralizador agradando as camadas médias. Ela, sem base social organizada, deixa de ser um fenômeno eleitoral por um motivo simples.
A propaganda petista em 2014 não caluniou Marina, mas a obrigou a se definir, assumir posições à esquerda, para além de uma estética à esquerda. Isso acabou com Marina. Ela era uma figura onde o trunfo eleitoral estava na forma, e não no conteúdo.
Os marqueteiros do PT perceberam isso muito bem. A ideia abstrata de "nova política" foi atacada dia e noite afirmando que Marina era neoliberal, de direita, amiga de banqueiro etc. Um conteúdo político foi imposto. Sem resposta, num ambiente acirrado, Marina fracassa.
Ainda faço notar que o discurso moralizador e austero de Marina sofreu uma radicalização à direita. Muitos dos votos que ele teve em 2014, em 2018, foram para Bolsonaro - e em menor medida, para Ciro Gomes.
Não é um mistério entender sua queda eleitoral.
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Desnecessário elogiar a oratória, senso político e capacidade de dialogar com a média da consciência popular. Lula sempre fez e continua fazendo isso muito bem. Consegue com desenvoltura falar de picanha e cerveja, Petrobras, geopolítica e Zé Gotinha
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Dito isso, mais desnecessário ainda é ficar especulando se Lula vai “radicalizar” ou não. Quem puxa esse debate, ou está te enganando ou é enganado. Lula – e o lulismo – é o que é e não é por falta de estudo ou compreensão teórica.
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É arrogância achar que um homem com décadas de política não sabe os limites, contradições e problema do projeto político que ele defende e encarna. Sabe. E é isso mesmo.
sabendo como funciona a lógica da internet, nos primeiros 7 minutos do meu vídeo "Necropolítica: o desarme do pensamento crítico", eu adiantei as caricaturas que iriam aparecer como crítica. Dito e feito. As indiretas que estão rolando no twitter são previstas no vídeo
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a - deixei claro que o vídeo não era uma crítica ou avaliação geral da obra de Mbembe, mas um debate, apenas, sobre o livrinho da necropolítica. Deixo isso claro e reforço, em vários momentos, durante o vídeo. Mesmo assim usam o argumento "em outro livro".. etc.
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b - deixei claro que não iria debater a obra de Michel Foucault e a relação de Foucault com Mbembe. O vídeo ficaria muito grande e vou fazer isso em texto. Apenas disso que me parece que Mbembe esvazia em muitas dimensões a crítica radical de Foucult e só.
Gente, cuidado com essa ideia de citar sem maiores considerações o número bruto de mortes pelo covid-19 no Paraguai para dar a ideia de que lá, "por bem menos", eles se revoltaram.
Isso tá errado de diversas formas. E é uma simplificação complicada da realidade. 2 exemplos 👇
a - o Paraguai tem um sistema médico-hospitalar e de assistência e políticas sociais bem menos estrutura e fraco que o brasileiro. Se aqui os dados não são confiáveis, lá mais ainda. E a capacidade de atendimento médico é muito concentrado regionalmente. Isso tem consequências.
Por exemplo, é possível, sem muitos problemas, imaginar centenas, talvez milhares de mortes, nos grotões do país sem qualquer tipo de informação e assimilação das autoridades públicas.
Atendendo a pedido de vocês, gravei um vídeo sobre a imbecilidade chamada "Escola Áustria" e a falácia do "problema do cálculo econômico" no socialismo. Gravei a contragosto porque esse negócio, com algumas exceções (como certas teses de Hayek), é pura besteira.
Dois exemplos rápidos. A ideia do "problema do cálculo econômico" no socialismo parte de duas falácias interligadas. A ideia de um equilíbrio perfeito entre oferta/demanda, produção/consumo, no capitalismo. A noção, inclusive, é que não existe problema alocativo no capitalismo.
Na prática, eles pensam assim: olhe, quando existe no mercado um sinal de demanda por mais comida, o preço no curto prazo tende a subir, mas no médio prazo, a produção aumenta, o preço se equilibra e se pá, fica até mais barato a longo prazo. O que falta aqui?
A noção de liberdade reivindicada pelos liberais e parte da esquerda brasileira é pré-Hegel. Eles até hoje não assimilaram a ideia fundamental do mestre da dialética que para ter liberdade é necessário tá vivo. Parece um truísmo, não é? Mas tem uma profundidade filosófica grande.
Quando Hegel diz, por exemplo, que a pessoa que rouba o pão para matar a fome não deve ser condenado, colocando a vida acima da propriedade (a vida é absoluta, a propriedade privada não), ele o faz a partir de sua ideia de liberdade. A liberdade tem três vetores.
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Só é livre quem tá vivo, isto é, tem sua reprodução biológica garantida. Então, nesse momento de pandemia, podemos medir concretamente o grau de liberdade olhando que países preservaram a vida e que país deixaram o povo morrer. Mas não basta tá vivo para ser livre.
Quase 100% dos comentários de idolatria da socialdemocracia nórdica são baseadas numa concepção de "realidade ilha": é como se a economia e o sistema político deles fossem desligados do mundo, uma construção em si, não tem geopolítica, divisão social do trabalho etc.
Por exemplo, a Suíça é uma das maiores produtoras e exportadoras de chocolate do mundo. Seu produto é famoso. Mas a Suíça, como devem imaginar, não produz cacau. Quem produz? Os miseráveis Gana e Costa do Marfim. Já parou para estudar qual é a relação econômica nessa mercadoria?
Aliado a isso, pela localização geoestratégica, os países da Península Nórdica não sofrem pressões militares, geopolíticas, etc. Se qualquer país da América do Sul assumisse a política de petróleo da Noruega, no dia seguinte, os EUA colocam como prioridade derrubar o governo.