Deixando o título (cretino) o conteúdo (mais cretino ainda) da matéria da @folha de lado, o fato é de que o Brasil de @jairbolsonaro voltou ao patamar da chamada "década perdida", os anos 80.
Para quem não sabe, esse foi o legado da gestão dos militares no Brasil. Além das múltiplas e graves violações dos direitos humanos: deixaram um país totalmente destruído, tanto na economia quanto no aspecto social.
No campo econômico, o legado dos militares foi uma dívida externa praticamente impagável: tudo no país era feito com empréstimos em dólar, ao passo que a moeda nacional desvalorizava de forma galopante.
Nesse momento o país só não está se endividando profundamente pois está torrando suas reservas contraídas ao longo dos anos 2000, aquela década em que o PT supostamente destruiu o país, sabe? Quando implementou o comunismo e tal.
Como resultado tivemos, entre outras coisas, a hiperinflação. E com o ela o achatamento (ainda maior) das camadas mais pobres. Não é a toa que um dos resultados da ditadura militar foi o aumento crítico da concentração de renda.
Não dá para dizer que foi Bolsonaro que começou esse processo, mas a verdade é que sua política econômica (e social) deram a ele uma nova intensidade, velocidade. O achatamento das camadas mais pobres se reflete na mudança dos padrões de consumo.
Quem, como eu, beira os 40 e teve uma infância pobre lembra bem do quanto a proteína animal era artigo raro. Carnes, quando tinha, era bucho, músculo, fígado, língua, pé de galinha. Arroz com feijão e ovo era a base da alimentação.
Frango mesmo só tivemos (minha família e o Brasil) a partir dos anos 90, durante o governo FHC. Lembram que 1996 foi chamado de ano do frango? A ave se tornou o símbolo da retomada do consumo durante o Plano Real. O boi foi o símbolo da era do PT.
É muito triste, para quem viveu isso e lembra bem - como eu -, ver o país voltando a esse tipo de alimentação. E veja bem, estamos falando dos "remediados", pois a fome voltou a ser um problema real. Só essa semana já passaram umas três pessoas aqui na rua pedindo comida.
Não são pessoas em situação de rua, são vizinhos e vizinhas, gente que mora nos entornos. A fome tá batendo aqui do lado, nas periferias das grandes capitais. Não é, como nunca foi, um fenômeno exclusivo dos rincões do Brasil.
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A decisão do Fachin foi, ao mesmo tempo, o melhor e o pior dos mundos para o Bolsonaro. No melhor dos mundos lhe deu uma narrativa para suportar os próximos meses, no pior, lhe deu o pior cenário possível para 2022.
Melhor dos mundos: tem semanas, meses até, que a máquina de desinformação bolsonarista vem tentando, sem muito sucesso, emplacar uma narrativa capaz de virar o jogo político. A viagem para Israel foi uma tentativa desesperada de criar algo.
O desespero da máquina era tão grande que chegavam a testar narrativas conflitantes no mesmo dia. As pessoas percebem - e comentam isso nos grupos. No geral, existe um período de tempo entre elas, alguns dias. Isso demonstra desespero.
Essa história do Bolsonaro se filiar ao Partido da Mulher Brasileira sendo aventada, justamente, no 8 de Março tem toda cara do mundo de ser uma estratégia de comunicação pensada.
Real ou não a filiação já nasce como trending por conta do efeito de ultraje. Revoltados, estamos divulgando a notícia, o deboche. Os partidários do sujeito estão rindo nos comentários. Bullying como política tem eficácia comprovada.
Povo adora utilizar a palavra "cortina de fumaça", né? Exceto quando se trata de uma. A filiação, real ou factoide, por se tornar uma trending desvia atenção do fracasso político que foi a criação do Aliança Pelo Brasil.
Já perceberam que sempre tem mais gente divulgando as manifestações dos bolsonaristas malucos do que manifestantes nos vídeos? E não estou falando dos bots, tô falando de gente do nosso lado do muro na base do "veja só mais esse absurdo".
Não é a toa que as manifestações de 2015-2016 tenham atraído tantos aspirantes de famosos. Lembram da "miss impeachment"? Ir para manifestação de direita é o palco perfeito, todo os lados repercutem.
Já pararam para pensar que se não divulgarmos os seis malucos que estão na rua chamando quem usa máscara de comunista serão apenas seis malucos na rua e não um trending na internet.
Desde, pelo menos, 2014 o sistema político brasileiro vem operando uma espécie de ligação direta entre a esfera federal e a local. Agora, com Lira, esse sistema vai ser oficializado.
Não é de se estranhar que, pelo menos desde 2012, as municipais estejam servindo como bom termômetro das eleições federais, pega 2016 e 2018, por exemplo. Acabou a história de que são eleições diferentes ou de que o contexto federal determina o municipal.
"'O Brasil, pós-2010 (diria), vive uma espécie de "glocal" intensivo, onde a política da nação acaba sendo determinada por redes muito específicas - donde a importância do voto dos evangélicos.
Eu digo, insisto e repito. Disparar absurdos diários, que vão desde declarações estapafúrdias aos erros de grafia, é método, é uma forma de ocupar os noticiários, mas também as redes sociais.
Fala-se muito do papel da mídia nisso, com o jornalismo declaratório, as notas de repúdio, mas se ignora a nossa própria responsabilidade no processo. Se você pega a timeline da várias pessoas da esquerda, vai ver que boa parte delas basicamente só repercute esse material.
E nem vou aqui repetir tudo que já disse - ou outros já disseram - sobre o funcionamento dos algoritmos. Pois já cansei de ser xingado - de coach de esquerda a "Zé algoritmo".
Totalmente contraproducente exigir que os autores deste ou daquele vídeo venham a público.
Olhem o conteúdo e vejam se concordam? Tem logo de algum partido? De algum grupo? Não? Então a propaganda é de quem compartilhar.
Não faz qualquer sentido se pensar em uma tática de reação que seja supraindividual (ou seja, que escape dessa lógica do protagonismo nas redes) se a primeira reação das pessoas é literalmente exigir que seus autores venham a público.
Toda essa especulação se é ou não feita por um grupo de direita, ou por grupos que - a depender do enunciador - não são suficientemente à esquerda, também me parece contraprodutiva.