Thread by @CrimesReais

“Nosso primeiro sexo durou cerca de cinco horas e eu ficava sentindo dor depois. Ela tinha essa mania, que tinha de haver esperma no final. Eu seria esfregado até que conseguisse.“, relatou.

O jovem, que preferiu o anonimato e deu entrevista, relatou que seus pais disseram que ele tinha de sair da casa deles, logo depois que começou a namorar. Iniciar um relacionamento já significava abrir mão da família e de um teto: em um dia, ele teve que abrir mão de tudo.

As primeiras tentativas de sexo dele foram com Ira (sua mulher) e, naquela época, ele queria isso. No entanto, não era completamente normal: "Era doloroso e agressivo. Sexo é para ser agradável, mas nunca foi agradável para mim. Eu estava sobrecarregado e queria descansar.”

“Eu não tinha experiência e costumava pensar que era assim, e por isso costumava dar consentimento. Mas logo eu disse 'não', porém isso não a impediu de continuar. Foi quando se transformou em estupro. Ira foi minha primeira mulher, a gente se conheceu aos vinte e poucos anos.”

“Ela me batia, arranhava minha pele com as unhas até sangrar, e me socava. Nunca deixou marcas no meu rosto, só machucava o que ficava coberto: peito, costas, mãos. Não enfrentei porque pensei que bater em uma mulher era agressivo e errado, foi assim que meus pais me educaram.”

O jovem ficava com medo de voltar do trabalho para casa, então passeava pelo shopping até a hora de fechar. Depois, andava pela cidade - era frio e ele não levava nenhuma roupa quente. Acabou tendo infecções do trato urinário, prostatite e febre, mas nem isso impediu os abusos.

“Ira tinha ciúmes de todos: meus amigos, minha família. Onde quer que eu fosse, tinha que sempre ligar para ela. Eu tinha que estar com ela, ao seu alcance. Ela não podia ir a lugar nenhum sem mim. Eu era uma espécie de brinquedo que tinha de entretê-la o tempo todo.”

Eles brigavam, ele desligava o telefone, a bloqueava em todo lugar, e se escondia; mas Ira vinha e sentava do outro lado da porta fechada, ligava e prometia que tudo ficaria bem. Ele voltou para ela todas as vezes, porque estava com muito medo de ficar sozinho.

“Para evitar tudo isso, eu trabalhava 10, 12, 14 horas por dia, nos finais de semana e feriados. Quando está em uma situação como essa, não percebe o que está acontecendo, não vê saída e não ouve ninguém. Você nem pensa que tem chance de escapar, é total falta de esperança.”

“Fiz coisas que não queria fazer porque estava acostumado a isso, eu sempre devia algo à todos e nunca me pertencia. Pertencia à minha avó, aos meus pais. Sempre achei que era preciso sacrificar tudo pelo bem de um relacionamento. E então eu sacrifiquei a mim mesmo."

Depois de um tempo, o jovem encontrou um terapeuta familiar, que deu apoio. Ira e ele tinham tempo para conversar nas sessões, e ela foi proibida de interromper ele: “Foi quando eu falei pela primeira vez sobre o abuso, ela ficou tão furiosa que gritou e disse que era mentira."

No entanto, Ira propôs um divórcio logo depois disso. Ele não achou que ela queria isso, mas acreditou que foi sua tentativa de o silenciar e então concordou: “Quando peguei os documentos do divórcio, um mês depois, foi o dia mais feliz da minha vida.”

“Um dia após o divórcio, gritei para ela: 'Você estava me estuprando!', e ela respondeu: “Eu estava te estuprando? E daí?” [...] O primeiro psicoterapeuta que o jovem visitou na Ucrânia, o ridicularizou: "Isso não acontece assim. Ela é uma menina e você é um menino.”

Para quem se interessou em ler mais sobre a trágica história do sobrevivente, ou quem deseja conferir as fontes, nossa equipe deixa aqui o link da matéria original, completa e traduzida: g1.globo.com/google/amp/mun…