Desde quando comecei a frequentar as rodas de capoeira angola e depois os terreiros de candomblé, uma expressão comum martelava: só passa axé quem tem axé. Essa é uma sabedoria de como transmitir a tradição ao futuro de maneira desalienada, direta, mestre a discípulo.+
De alguma forma nós reproduzimos isto no meio das esquerdas quando valorizamos escritos de Chê, Lenin, Fidel, Mao, Ho Chi Minh, SCI Marcos, Sankara, etc. Ou seja, lemos os escritos revolucionários daqueles que fizeram a seus modos suas revoluções e aprenderam com elas.+
Contudo, também, sempre rolou muitos intelectuais que não vivenciaram muita coisa, não participaram das lutas de seus tempo, ficaram nos gabinetes e ali e acolá nós aprendemos algumas coisas. O profeta Muhammad diz que o conhecimento devemos buscar até na China (no lugar longe).+
Ou seja, todo conhecimento é válido. Porém o capitalismo, que num é besta, vai se adaptando, percebendo que é possível alienar mesmo o conhecimento das esquerdas, é possível feitichizar como mercadoria mesmo a radicalidade. E aí começamos a correr atrás do rabo na luta.+
Há uma parcela considerável do pensamento considerado radical que substitui hoje o pensamento de gente que fez e transformou suas realidades. O protagonismos destes intelectuais em detrimento a lideranças que construíram lutas é ação do mercado editorial, logo do capitalismo.+
Claro, neste aspecto, as universidades também tem sua parcela no processo de alienação, substituindo o real e histórico, por reflexões teóricas e projeções ainda distantes da prática dos movimentos e organizações políticas. No fundo, vamos aprendendo de quem dissimula saber.+
Então alguns destes intelectuais não conseguiram mudar nem seu condomínio, sua rua, perderam todas em seu sindicato, nunca conduziram uma greve, mas nos se colocam mas nos ensinar muitas coisas e nos explicam que sem saber estas coisas, não triunfaremos. Sinal amarelo, alerta!+
Este sistema que alia mercado editorial com tradição acadêmica universitária fazem parte do jogo. E esse jogo coloca de fora as lideranças quilombolas, indígenas, ciganas, extrativistas, pesqueiras e de todos os povos que formam os e as de baixo. Isso é um erro.+
Nesse bojo de substituir as lideranças por intelectuais que não transformaram objetivamente a sociedade, há um outro aspecto negativo: substitui quem tomou meios de produção e tirou do mercado de capitais por gente que se propõe a organizar o povo na luta difusa por direitos.+
As esquerdas, portanto, que tomam meios de produção foram ficando velhas, arcaicas, chamadas de até de pelegas por seus posicionamento frente a política institucional nacional. Enquanto isso a direita discute (re)tomada de meios por todas as formas necessárias. E vencem.+
Nós precisamos perguntar aos Tupinambá de Olivença como enfrentar a Força Nacional, a Polícia Federal e o Exército e vencer. Nós temos muito poucas vitórias para crer que podemos ensinar quem já fez isto há bem pouco tempo. Esse radicalismo teórico é de goela. Não serve.+
Por todas as críticas que se pode ter ao MST pelo alinhamento aos petismo que se aliou ao agronegócio, é preciso perguntar ao MST como tomar meios de produção, mantê-los e produzir para melhorar as condições de existência da classe trabalhadora.+
Que moral podemos ter na crítica aos companheiros e as companheiras se nem soberania alimentar mínima conseguimos ter? O que falo, portanto, é conseguir aliar o exercício da crítica à ação concreta, real, histórica. E, no mais, aprender com quem fez.+
Passa Axé quem tem Axá. Passa Báraka quem tem Báraka. Ensina revolução quem pelo menos já começou a fazer, já trilhou um bom percusso, não quem acumulou livros na estante. Que nossa palavra tenha um pouco de suor de nosso esforço na luta! Que nossa fé seja exercício da crença!

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29 Mar
Se o PM trabalhava em Itacaré, são 5h de carro até Salvador, com um Ferry-Boat no meio do caminho. Ele passa obrigatoriamente por 2 postos de policia rodoviária. Se ele não se apresentou com o fuzil de trabalho no batalhão, pergunta: como a PM não parou ele antes?+
Se ele não passou pelo Ferry, então foi pela BR. Ai são 2 postos de PRF no mínimo, e uma da rodoviária estadual. Por que não foi dado o alerta para que as polícias parassem um PM que levou um fuzil da guarnição? +
Disseram na imprensa que ele estava sendo seguido por viaturas antes de chegar no Farol da Barra. Pergunta-se: então a PM alertou só depois de mais de 5h da situação? Ou que outro incidente ele teria causado para chamar atenção de policiais de Salvador?+
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8 Mar
Nós ficamos felizes por uma injustiça ser parcialmente desfeita - Lula pegou cana e foi impedido de usar seus direitos políticos, por tanto, alguéns deveriam ser penalizados por terem feito isto. Mas eu penso logo: que tipo de arte do cão trama a burguesia contra nós?+
Para mim vem mais um ciclo de de ilusões. Ilusão do campo democrático-popular, no petismo, na democracia burguesa, nas eleições, enfim. E com tudo isto há que ter a certeza absoluta: a burguesia tem projeto de poder e não envolve romper a desigualdade que estrutura o BR.+
O mau governo e muitos militares estão cometendo genocídio. O golpe dado em 2016 não foi derrubado pelo povo. Se houver uma transição pacífica será, evidentemente, com todo perdão pelas perversidades do mau governo. Isso não é paz.+
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24 Feb
Uma coisa tb que ficou muito evidente para mim é que a galera tem uma formação política para o debate racial rasa como um pires (de cabeça para baixo), mas eficaz para este modelo de redes. Você mete uns termos pré-fabricados, uma emulação de altivez e estética. Cabô.+
O problema que um pouco mais de olhar sobre o processo e as contradições vão do não domínio de conceito básico e/ou história até não conseguir extrair da experiência registrada como lidar com situações de subalternização e de ódio racial. É tudo superficial.+
Quando a gente se expõe ao trabalho de base, com as comunidades e mesmo se coloca como aprendizes das lideranças, vamos percebendo que estes termos pré-fabricados podem dar lugar ao silêncio diante da dor, à escuta sensível e à postura de combate que nasce das coisas simples.+
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30 Jan
Antes deste modelo de agricultura industrial houve toda uma cultura de difusão de como viver na cidade era moderno, desenvolvido, culturalmente mais avançado. Pq antes de tomar a terra, é preciso enfraquecer a resistência e isso começa pelo imaginário, pela cultura.+
Quando falamos em êxodo rural, nós associamos a secas, paisagens castigadas, mas falamos pouco do papel do rádio e da TV, por um lado, e da violência e autoritarismo dos fazendeiros, por outro. A operação de força precisa e financia a operação ideológica, cultural.+
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7 Jan
se eu num tivesse num BR fodido de fome, fascismo, genocídio preto e indígena, eu até estendia minha mão e preocupação com o nazismo no EUA. Mas daqui, o que posso fazer? Combater os daqui, né?! E só se faz impedindo eles de cativarem mais gente pobre.+
O @detetivevsilva esteve escrevendo textos sobre como os pobres daqui estão embarcando na ação direta, em manifestações, contra o lockdown em várias cidades e sendo abraçados, é claro, pelos comerciantes e sua política de morte.+
Estão errados em lutar contra as medidas sanitárias? Veja, muitos deles estão entre duas possibilidades de morte: pela fome e toda desgraçada da ausência de renda; ou pela COVID-19. É uma decisão no meio do completo desamparo. Não dá para a gente criticar muito.+
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6 Jan
Quando eu comecei aqui na rede falando sobre voltar à terra, uma turma de intelectuais de esquerda, algumas pessoas até com história de vida na periferia, fez cada crítica como se fosse um absurdo, como se ninguém tivesse tempo para isso pq estava sobrevivendo, etc.+
Quando nós soltamos a convocatória do Quilombo Terra Livre, recebemos gente de todas as regiões do Brasil interessados. E claro, muita gente tá muito longe da Bahia para poder vir. Estamos ouvindo histórias de vida dolorosas em que a terra será de fato liberdade.+
Ouvimos muita disposição de gente da cidade para aprender a lidar com a terra, respeitar o bioma e trabalhar com habilidades urbanas na construção de uma nova comunidade. E muita gente disposta a tomar um meio de produção do latifúndio. Isto é fundamental.+
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