Lembram que, diante do aumento da sua rejeição, o Bolsonarismo passaria os próximos meses "aquecendo" as redes religiosas para - de alguma forma - controlar a narrativa da pandemia, especialmente diante da nova rodada do auxílio emergência.
É exatamente isso que estamos vendo.
Não é "cortina de fumaça", como muitos estão dizendo, é tática, é método que agitação popular, mobilização de suas bases. No auge da pandemia criam uma suposta guerra pela liberdade religiosa, uma guerra onde os fieis são arregimentados para lutar.
Veja bem, lutar não apenas contra o fechamento de Igrejas, não apenas contra as medidas de isolamento social, mas contra todos os inimigos de sua religião. Uma guerra que tem várias frentes, desde a desobediência das normas, passando pela criação de listas de "políticos malditos"
Não se trata, ainda, do dízimo; não se trata apenas disso. A questão é ainda mais profunda: trata-se de uma operação psicológica. A teocracia difusa, amplamente informada, fundamenta, por uma leitura televangelista da Bíblia, só existe em estado de guerra.
Parte considerável de sua eficácia é a guerra eterna contra o mal cotidiano. Vide, por exemplo, a criação contínua de pânicos morais, e isso vem de muito antes do "Kit Gay" e companhia. O que estamos vendo agora é mais um episódio disso.
Parte da estratégia é criar um novo estágio/estado da guerra: se antes o problema eram os políticos que apoiavam a "ditadura gay", "abortistas", agora a pauta se volta contra aqueles que seguem normas sanitárias (pois o objetivo é destruir a igreja).
Esse será o tema de hoje da nossa live na twitch (10:00) - não precisa ter conta para assistir, sempre bom lembrar.
A tragédia brasileira em três atos (imagens): na primeira, o fantasma da Venezuela, suposta terra devastada onde as pessoas passam fome. Na segunda, esse fantasma sendo conjurado para justificar as atitudes desse governo. Na última, o país do real se torna o próprio fantasma.
No Brasil de @jairbolsonaro, 116 milhões de pessoas não tem segurança alimentar. Não estamos falando da redução do poder de consumo, como nas crises anteriores, estamos falando de FOME. Ou seja, da impossibilidade de adquirir o mais básico dos itens, a comida.
A pandemia deixou 19 milhões com fome em 2020, atingindo 9% da população brasileira, a maior taxa desde 2004, há 17 anos, quando essa parcela tinha alcançado 9,5%. E quase o dobro do que havia em 2018, quando o IBGE identificou 10,3 milhões de brasileiros nessa situação.
Um mito que precisa ser combatido é o de que o Brasileiro é um povo particularmente indisciplinado, não apenas por ser particularmente conveniente para os políticos - que a utilizam para se isentar de suas responsabilidades -, mas por sua origem eugenista/racista.
O mito se baseia amplamente na crença racista de que a composição genética, vamos dizer assim, do povo brasileiro é comprometida na origem por conta dos componentes africano e ameríndio. Lembram da fala racista do Mourão, ela representa bem essa ideologia
Sempre bom lembrar que a "importação" de europeus já foi política oficial do governo para "melhorar" a "raça brasileira" (vide, por exemplo, o decreto-lei 3.010 de 1938). Isso vem de antes de Vargas - Dom Pedro II tem uma atuação forte nessa área - e não terminou com ele.
Temos que parar de tratar o "mercado" e o "empresariado" como sujeitos racionais e pragmáticos. Se tem uma coisa que a história prova é que tanto o "mercado" quanto o "empresariado" jogam contra seus próprios interesses por ideologia.
O "mercado" e o "empresariado" não são compostos por sujeitos capazes de avaliação política fora da curva, não são. Eles agem segundo suas próprias paixões, motivados por pressupostos como os de quaisquer outros. "Apenas" - e coloque aspas aí - tem uma influência maior.
Essa ideia de que os "investidores" são uma encarnação da razão interessada é uma invenção dos próprios que as esquerdas tomam de barato. Para entender os movimentos e interesses do mercado é preciso compreender a própria moral dos sujeitos que o encarnam.
Galera, fica a dica fundamental, jamais percam tempo discutindo com contas do tipo ZeBolso176739728 ou Lilaconserva1736637. Se tem um monte de número no fim é fake ou bot. De uma forma ou de outra não merecem atenção, vamos parar de dar engajamento para esse tipo de manobra.
Manobra mesmo, pois a estratégia é essa, não apenas disseminar a mensagem deles, como nos manter presos naquilo, nos desgastando psicologicamente, ainda, nos fazendo perder tempo com aquilo no lugar de estarmos fazendo algo produtivo, como nos organizar.
Salvo alguma coisa extraordinário nesse domingo, esse deve ser o tema da minha live de segunda na twitch
Quem me acompanha na twitch tem visto meus alertas sobre essas mobilizações dos bolsolavistas contra alguns nomes das FA que ocupavam cargos no governo Bolsonaro. Ainda ressaltei: apenas o Heleno está sendo poupado nos grupos e no tal mel*nci* g*te.
Já vi menções de que membros das altas cúpulas militares eram leais ao PT - ontem, inclusive, durante sua live, Bolsonaro falou de um general fez parte do seu governo e deve vir como vice do Lula -, falavam, inclusive, do aparelhamento das FA.
Hoje emerge essa teoria da conspiração estapafúrdia de que Heleno impediu um golpe do STF e por isso a troca geral no comando das tropas. Basicamente, a última cartada (desesperada) dos sujeitos.
Quem viu minha live na Twitch mais cedo já sabe, ontem acompanhei a Live do Presidente, aquela que ninguém assistiu e teve chat fechado. Queria saber qual narrativa ele utilizaria para falar sobre a troca dos comandantes das tropas. A resposta? Nenhuma - e isso é um ótimo sinal.
Pois sinal de que eles não conseguiram emplacar nenhuma narrativa eficaz no mundo do whatsapp. Sinal claro de desgaste entre as bases, até mesmo entre setores que até então tinha uma fé inabalável no seu governo.
Basicamente, ontem, ele se limitou a dizer que o PT que "aparelhou" o ministério da defesa e disse que o que se passou entre ele e o ministro da defesa não cabe a mais ninguém. Sim, a narrativa foi essa.