Num plantão de clínica médica no internato, conheci uma "cidadã soviética". Idosa, firme e segura de si, aguardava um familiar buscá-la após aliviar suas dores, uma cólica renal (por uma pequena litíase, "pedra no rim").
Nós, os estrangeiros e imigrantes, em qualquer lugar do mundo nos reconhecemos. Uma sintonia natural da condição de quem em terra alheia fala uma língua não-materna com "acento" e sotaque diferente, somos tratados como "alguém de fora", forasteiro, no caso de Cuba como "yuma".
Percebendo seu "acento raro", me apresentei como brasileiro e ao questiona-la sobre sua nacionalidade, me respondeu:
- Sou soviética.
- Sim, mas de qual país?
- Sou soviética, nasci na Ucrânia, mas não sou ucraniana, sou soviética.
Eu querendo puxar um papo:
- Que legal ("chévere"), também temos uma professora de inglês ucraniana na Escola de Medicina, ela também decidiu viver em Cuba.
Com um olhar carregando mais de 60 anos de socialismo, com a história do séc. XX nas costas, a senhora me impressionou.
- Ninguém tinha vergonha quando éramos URSS. Hoje todo mundo se esconde, critica. O território da Ucrânia era atrasado e subdesenvolvido, como República Soviética se industrializou, viveu justiça social, hoje é um país atrasado e desigual. Eramos a União, hoje é dividida.
Seguindo...
- Eu sou soviética, não sou ucraniana. Sou professora, vim para Cuba nos anos 70 e após a queda do "campo socialista", decidi seguir vivendo em aqui, no socialismo de resistência.
- Derrotamos o nazismo. Até os países capitalistas tiveram que ter leis trabalhistas para competir com os direitos dos trabalhadores no socialismo. O passado não voltará, tivemos erros, mas ainda precisamos de um novo caminho. Vou morrer como vivi, no socialismo e soviética.
Após o desabafo do "orgulho soviético", foram pelo menos mais 20 min. de escuta atenta de um latino, brasileiro imigrante "sem parentes importantes", vivendo uma madrugada de estudante de medicina. Aquela noite não saiu da minha memória.
Com encanto e olhar afável, foram 1/3 de hora de declarações de respeito, carinho e admiração pelo Brasil que com suas novelas encantavam o mundo soviético nos anos 80 e promoviam alegria em Cuba até os dias de hoje.
Chegou o "Lada" e a paciente seguiu sua vida, com seus alívios, "pedras", recorrências, sorrisos e convicções.
Serão distribuídos por toda a rede de atenção, com o foco no papel da atenção básica. A orientação é que todo paciente sintomático, independente dos dias de sintomas teste no momento da consulta. Caso negativo deverá manter o isolamento, repetir o RT-PCR na janela de 3-7 dias.
O coronavirus.es.gov.br/painel-covid-1… irá acompanhar a evolução da testagem por tipo de testes realizados nos municípios. Cada caso testado obrigatoriamente deverá ser notificado no Sistema de Informação do SUS para Vigilância em Saúde (eSUS/VS).
Em alguns municípios o absenteísmo a coleta agendada de swab para RT-PCR chegou a 40%. Desta forma iremos garantir resultado imediato, evitar deslocamento de suspeitos e garantir que pacientes sintomáticos realizem adequadamente o isolamento.
A Quarentena/Lockdown reduz a competição pelos recursos hospitalares com outras doenças: caem traumas e condições clínicas/cirúrgicas.
No período da quarentena no ES a demanda diária por leito clínico não-COVID caiu 32,80%. Já a demanda por COVID-19 aumentou 61,47%.
Na atual fase de ampliação de leitos, entre 13/03-31/04/21 serão 824 leitos/COVID-19 abertos, que associados a diminuição de outras demandas, permitirão que o SUS se prepare com maior rapidez para responder a fase de aceleração/estabilidade da pandemia no ES.
O mesmo ocorre com a rede privada que, ao suspender cirurgias eletivas e receber menor pressão por outras doenças, pode ampliar sua capacidade de atendimento.
Na subida, os óbitos dobram. Nas 2 expansões anteriores aconteceram uma sequência de 3 meses de crescimento dos óbitos. Estamos no segundo mês da 3ª expansão. A violência da pandemia nesta fase parece repetir no ES algumas características da 3ª onda da gripe espanhola em 1919.
⚠️Alerto a população: com a carga atual de doentes e infectados (nem todo infectado é doente), é possível ter em abril mais óbitos que em março/21. Serão pelo menos 3 semanas com mais de 900 leitos de UTI/COVID-19 operando com a ocupação crítica.
Na primeira quinzena de abril chegaremos próximo a 2.000 leitos de UTI/Enfermaria COVID-19 operando com mais de 80% de ocupação. A expectativa é que o início da queda na pressão por leitos ocorra na segunda quinzena de abril e deverá ser lenta.
Hoje não convém dizer, talvez num livro um dia. Para hoje resta serenar e preparar a armadura para mais uma madrugada, ânimo para mais um dia levantar cedo e para o dia depois de amanhã.
Hoje não terminei a coletiva com a expressão "venceremos". Sei que vamos resistir até o final. Já não considero mais uma vitória o ponto de chegada. Seremos sobreviventes de uma catástrofe, não haverá vencedores.
O dia 23/03/21 registrou 49 óbitos pela COVID-19, superando o recorde de 47 perdas observadas durante a primeira expansão da pandemia no ES, nos dias 03/06/20 e 16/06/20.
✝️ A mortalidade entre não-idosos (menores de 60 anos) cresceu em maior proporção que a dos idosos (60 anos ou mais) entre os meses de fev/março no Espírito Santo.
🔴Nesses últimos dias seguimos tendo no Espírito Santo as maiores pressões assistenciais de toda a pandemia.
🤧No último dia 25/03 tivemos o recorde de internações de pacientes confirmados em 24h: 178 pcts.
Como explicado em outro momento, a melhora da capacidade de "giro de leito" tem otimizado o uso dos recursos hospitalares. No mês de março tivemos os melhores desempenhos de altas nos finais.
🚑🚑🚨🚨Somente no dia de hoje, até às 22h34min, foram 109 atendimentos do SAMU que resultaram em internações hospitalares.🚨🚨🚑🚑