Meta-análise da Nature conclui que a Hidroxicloroquina pode estar associada a uma maior letalidade e Cloroquina não tem efeito.
E por que devemos acreditar nela e não na c19study? Por que acreditar nela e não no seu médico leigo? Segue o fio.
A meta-análise, de acordo com o novo conceito de pirâmide fluida da MBE, é como uma lupa. Ela é usada para amplificar o resultado de diversos estudos. Quando apontamos uma lupa para o lixo, amplificamos lixo. Quando apontamos uma lupa para estudos de qualidade, obtemos respostas.
Matemáticos e médicos sérios não precisam usar de métodos estatísticos não aplicáveis para convencer ninguém. Não há paixão por uma causa, nem viés político ou financeiro. Há sim a busca pela melhor evidência. Agora vejamos como alguém sério faz uma meta-análise.
Os guidelines PRISMA foram recentemente atualizados e orientam que os autores de meta-análises reportem vários dados importantes porque a falta de cada um deles aumenta o risco de viés. É basicamente uma forma de evitar que lixo entre na pesquisa.
PRISMA: bmj.com/content/372/bm…
Esse daqui é o "pequeno" checklist PRISMA (tem mais uma página!).
Uma das orientações mais importantes diz respeito à construção deste esquema. Ele serve, basicamente para excluir lixo da pesquisa.
Ao contrário do que fazem os aventureiros do c19study, ivmeta e afins, pesquisadores sérios preferem tirar o lixo da análise antes da análise.
O esquema da meta-análise da Nature ficou assim:
Observe que a cada fase da pesquisa, ele exclui umas dezenas ou centenas de estudo. E por que deve se fazer isso?
Uma vez mais: para excluir o lixo. Os dados que só vão poluir a amostra. As pesquisas ruins.
As razões para exclusão em cada fase estão disponíveis no texto na seção "Resultados".
E os resultados?
Bem, os resultados da análise amplificada de bons artigos é de um possível aumento de 12% na probabilidade de morrer de COVID.
"Mas eu li no c19study..."
O c19study é uma vergonha, uma aberração. O que eles fazem é ludibriar leitores amplificando resultados de estudos de má qualidade.
O médico que compartilha c19study assina um atestado de que é leigo em Medicina.
"Mas eu e minha família tomamos cloroquina e nos curamos".
Vamos lá, cara pálida, mais uma vez, destruir o argumento mais comum e também mais burro entre todas as classes sociais, políticas e econômicas desse país.
A letalidade atual da COVID-19 no Brasil é de 2,5%. Significa que, ao ficar doente, você põe sua mão em uma urna com 1000 bolinhas. Delas, 975 são azuis e 25 são vermelhas. Se pegar uma vermelha, morre.
A maior chance é que você pegue as bolas azuis.
Portanto, eu lamento informar
Que tomar ivermectina, nebulizar hidroxicloroquina e qualquer que seja o seu relato pessoal (ou mesmo o tal "sucesso do Dr Fulano") não serve para nada porque:
- Você já tinha 97,5% de probabilidade de pegar a bola azul.
Agora o que esse estudo mostra? Esse estudo conclui que naquela urna são acrescentadas bolas vermelhas quando se usa Hidroxicloroquina (aumenta a probabilidade de morte). O aumento de 12% equivale a colocar 3 bolas vermelhas.
- 972 bolas azuis; 28 vermelhas.
É muito grande o aumento do risco? Em termos individuais não. Mas ao contrário do que os twitteiros de xadrez 4D e os "jornalistas" do twitter pensam, nós somos animais sociais. E o que significam essas 3 bolas vermelhas a mais na nossa comunidade?
Que a cada 100 milhões de infectados, teremos 300 mil mortes a mais do que teríamos sem esse remédio falso.
Falar que isso não é nada é como escolher uma dessas cidades para varrer do mapa.
Agora se me perguntam uma opinião pessoal: eu acho que HCQ aumenta letalidade? Não, eu não acho.
Assim como nunca houve plausibilidade suficiente para mim - mas entendo que para alguns há - não há plausibilidade que explique que a droga em si mate.
Explicando "plausibilidade" em poucas palavras:
- "Será que vale a pena estudar isso?"
Pra mim, nunca valeu porque eu vejo oportunismo de longe.
E mesmo que houvesse, a plausibilidade não define conduta. Quem define é o que os estudos farão com essa plausibilidade.
No caso, os estudos sérios amplificados por essa excelente meta-análise desmontaram a plausibilidade que já era baixa para praticamente nula.
Novos estudos sairão, lógico (pesquisar HCQ virou uma mina de ouro). Mas eles já partirão de uma probabilidade próxima do zero absoluto.
"E por que você acha que a HCQ aumentou a letalidade?" Porque médicos que prescrevem HCQ/ivermectina estão aquém da boa Medicina. Acreditar neste tratamento ilusório virou um símbolo da Medicina leiga. Estar aquém da boa Medicina, sim, aumenta chance de morte dos pacientes.
É o mesmo médico que até hoje não sabe que a dexametasona reduz a letalidade. É o mesmo cara que fala que intubação mata. É o mesmo médico que manda nebulizar HCQ...
É o mesmo que não entende que quando se prescreve algo ineficaz, só sobram os seus efeitos colaterais.
Ah o link da meta-análise (meta-análise de verdade dessa vez. Como é bom quando vemos pesquisas bem feitas).
Seu Ednaldo, 58 anos, funcionário de uma emissora de TV, dá entrada no PS por "síncope".
Foi solicitado um CATE e o paciente recebeu um stent (lesão entre 70 - 90% na DA).
Mas ele não infartou e o stent foi mal indicado. Quais erros e vieses cognitivos foram cometidos aqui?
1o erro: "garbage in, garbage out". Assim como em uma meta-análise, se os dados que você recebe são lixo, sua interpretação também será um lixo.
Em uma conversa mais detalhada, Ednaldo conta que teve uma sensação que ia desmaiar e ficou fraco. Não perdeu a consciência.
2o erro: "negligência da taxa base". É o viés cognitivo presente quando o médico não pratica o raciocínio clínico bayesiano. Isso se faz quando o médico ignora o paciente, passando a interpretar apenas o exame.
Qual RCT testou maracugina em dias de lua cheia, com desfechos duros, que tinha RT-PCR...?
Achou estranha a analogia? Então você precisa conhecer a "inversão do ônus da prova" contido nesse print.
Isso contribui para que as falsas narrativas conspiratórias nunca morram.
Quando uma ideia nasce, ela precisa ter uma plausibilidade pra ser testada. Com a plausibilidade, temos:
- Uma pequena probabilidade que seja realmente eficaz.
Não temos: prova que funcione.
O maracujá, por exemplo, tem ação antiviral
Como deve ser interpretado um dado plausível em Medicina?
- Precisamos fazer estudos para testar se Maracugina funciona mesmo no mundo real.
O que não deve se fazer?
- Não se deve pedir provas de ineficácia de algo que nunca comprovou eficácia em primeiro lugar.
A nossa sociedade está pronta para uma Medicina Baseada em Evidências?
Não médicos respondem:
a) “Vou passar esse remédio pra você e pra outras 24 pessoas para que 1 delas não tenha um AVC. 1 delas também terá hemorragia”
b) “Se você tomar esse remédio certinho, não terá AVC”
Na minha opinião, o modo B de informar, apesar de parecer inócuo, leva a uma super-simplificação dos tratamentos médicos.
Ao apertar a mão do paciente, informando que ele não terá um AVC, o médico omite fatos importantes:
Quando um médico prescreve algo (ou intervém em algo), ele oferece probabilidades:
- De melhorar
- De piorar
O médico baseado em evidências também reconhece o papel da história natural das doenças.
Então os 25 pacientes devem ser interpretados assim:
Uma situação muito comum em empresas é a testagem de contactantes de pacientes de COVID para liberar ou isolar seus funcionários.
Uma empresa decidiu testar todos os funcionários após 1 deles positivar para COVID. Essa estratégia os protege? Fio sobre testagem de contactantes.
Imagine que em uma empresa com 101 funcionários, 01 deles ficou sintomático, foi afastado, coletou PCR que foi positivo.
"Seguindo todos os protocolos de segurança", o chefe decidiu fazer testagem em massa e ordenou que os 100 funcionários fizessem também um PCR.
Atualmente, o Rt do Brasil (em média, isso varia de estado para estado) está em 1,12. Isso significa que cada 100 pessoas com COVID atualmente contaminam outras 112. Ou, arredondando, cada pessoa com COVID contamina 1 outra.
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