A maior força política de Jair Bolsonaro - provavelmente a única coisa que o mantém na presidência - é o fato de que nenhum grupo político quer assumir essa bomba que virou o Brasil. Estagflação, desemprego histórico, fome e uma situação sanitária calamitosa.
Não existe solução para o Brasil no curto ou médio prazo. Só nos resta torcer para que não tenhamos ultrapassado o ponto de não retorno de uma nova Década Perdida. Eu, sinceramente, estou um tanto pessimista quanto a isso.
A situação é tão grave, mas tão grave, que até setores que passaram incólume por outras crises estão em franca decadência - como os frigoríficos.
Enquanto o resto do mundo está conseguindo retomar o crescimento sem grandes riscos de inflação, a economia brasileira simplesmente afundou e se mostra cada vez mais incapaz de se recuperar. E isso é algo que vem se desenhando desde antes da pandemia.
Por isso existe um certo consenso entre setores que poderiam puxar o tapete do Presidente: ninguém quer assumir isso sob o risco de se tornar o novo governo Sarney. O plano de todo mundo é manter o governo sangrando enquanto o pior (supostamente) passa.
O problema dessa estratégia é: se estivermos entrando em outra década perdida o pior ainda vai demorar para passar.
Digo, insisto e repito, a @ninadhora é um dos perfis essenciais dessa rede (e de outras) no que diz respeito a influência da tecnologia no debate político contemporâneo.
O @MarceloFreixo sempre fala do caso em que um áudio falso foi utilizado na campanha de 2016 para minar o seu apoio entre os taxistas. Uma parcela da população muito importante nas estratégias de propaganda política.
Tratava-se de um áudio tosco, onde "ele" (alguém imitando sua voz de forma ridícula) atacava os taxistas. A mesma coisa se repetiu em diversos outros momentos e com outras figuras, já vi até áudio falso com Lula combinando "roubos". Agora imagina isso com vídeo?
Sempre bom lembrar que foi EXATAMENTE assim que ele começou a sua corrida presidencial ainda em 2016. Isso não é apenas uma visita, é um símbolo, uma estratégia de aproximação dos "comuns".
Pessoal fica zoando dizendo que parece vereador em época de eleição, e é, a estratégia é essa mesma. Criar uma relação com o "local", com o "popular". Lembrando que enquanto ele faz isso, ele também tira fotos com Malafaia e companhia.
Uma parte crucial da política é que ela é abstrata. O bom político, a boa comunicação política, é aquele, aquela que transforma o abstrato em cotidiano. É isso que Bolsonaro está fazendo aí. Não é "patético", é uma estratégia de comunicação política muito poderosa.
Em um país sério a surra que o Lula daria no Bolsonaro seria considerada tortura qualificada.
É impressionante como Bolsonaro é incapaz de concatenar meia dúzia de ideias em uma frase que faça algum sentido. Todos os seus discursos são construções precárias que visam atingir um bordão.
Percebam que seus discursos sempre tem um bordão para ser atingido. É uma espécie de áudio de whatsapp - e não estou sendo leviano na comparação. Ele fala como quem manda áudio no WhatsApp (e sempre foi assim, mesmo antes da tecnologia).
Lembram que, diante do aumento da sua rejeição, o Bolsonarismo passaria os próximos meses "aquecendo" as redes religiosas para - de alguma forma - controlar a narrativa da pandemia, especialmente diante da nova rodada do auxílio emergência.
É exatamente isso que estamos vendo.
Não é "cortina de fumaça", como muitos estão dizendo, é tática, é método que agitação popular, mobilização de suas bases. No auge da pandemia criam uma suposta guerra pela liberdade religiosa, uma guerra onde os fieis são arregimentados para lutar.
Veja bem, lutar não apenas contra o fechamento de Igrejas, não apenas contra as medidas de isolamento social, mas contra todos os inimigos de sua religião. Uma guerra que tem várias frentes, desde a desobediência das normas, passando pela criação de listas de "políticos malditos"
A tragédia brasileira em três atos (imagens): na primeira, o fantasma da Venezuela, suposta terra devastada onde as pessoas passam fome. Na segunda, esse fantasma sendo conjurado para justificar as atitudes desse governo. Na última, o país do real se torna o próprio fantasma.
No Brasil de @jairbolsonaro, 116 milhões de pessoas não tem segurança alimentar. Não estamos falando da redução do poder de consumo, como nas crises anteriores, estamos falando de FOME. Ou seja, da impossibilidade de adquirir o mais básico dos itens, a comida.
A pandemia deixou 19 milhões com fome em 2020, atingindo 9% da população brasileira, a maior taxa desde 2004, há 17 anos, quando essa parcela tinha alcançado 9,5%. E quase o dobro do que havia em 2018, quando o IBGE identificou 10,3 milhões de brasileiros nessa situação.
Um mito que precisa ser combatido é o de que o Brasileiro é um povo particularmente indisciplinado, não apenas por ser particularmente conveniente para os políticos - que a utilizam para se isentar de suas responsabilidades -, mas por sua origem eugenista/racista.
O mito se baseia amplamente na crença racista de que a composição genética, vamos dizer assim, do povo brasileiro é comprometida na origem por conta dos componentes africano e ameríndio. Lembram da fala racista do Mourão, ela representa bem essa ideologia
Sempre bom lembrar que a "importação" de europeus já foi política oficial do governo para "melhorar" a "raça brasileira" (vide, por exemplo, o decreto-lei 3.010 de 1938). Isso vem de antes de Vargas - Dom Pedro II tem uma atuação forte nessa área - e não terminou com ele.