O técnico Alberto Illanes foi demitido do The Strongest, da Bolívia, após a estreia com derrota em casa na Libertadores diante do Boca Juniors.
Em tese, uma situação normal no futebol.
O diferencial desse caso é que o técnico deu a entender que foi demitido por racismo.
Para explicar que racismo seria esse, é preciso dizer que a Bolívia se divide entre dois grupos de raízes étnicas distintas: os cambas e os collas.
Há também os chamados chapacos e chaqueños, de regiões mais próximas da Argentina, mas não vamos falar deles aqui.
São dois povos que se identificam de formas diferentes e têm costumes e histórias diferentes: os collas, que moram no oeste do país, mais próximos dos Andes, nas “terras altas”, e os cambas, que moram no leste, nas regiões mais florestais, nas chamadas “terras baixas”.
Para alguns andinos, porém, o termo “colla” é considerado pejorativo. Há outros que se identificam orgulhosos com essa palavra.
Os collas são, em sua maioria, de ascendência indígena, enquanto entre os cambas há mais bolivianos brancos e descendentes de europeus.
Um fato que expõe a diferença entre esses dois povos é a participação de Gabriela Oviedo, miss Bolívia em 2003, no concurso de Miss Universo.
Ela se disse orgulhosa de ser da região leste do país, onde faz calor e não há “gente pobre, de baixa estatura, gente indígena”.
No governo de Evo Morales, 1º presidente indígena do país, houve muita tensão entre collas e cambas.
No golpe de Estado realizado durante as eleições de 2019, um dos principais responsáveis foi Luis Fernando Camacho, um camba, líder da extrema-direita boliviana.
Mas voltemos ao futebol. La Paz, de onde é o Strongest, também é região colla.
Mas Illanes insinuou que técnicos que soam “como argentinos ou espanhóis” ganham mais paciência da torcida.
“Eu sou colla, collita, igual aos paceños”, afirmou.
Estava no cargo desde março de 2020.
Illanes chegou a dizer até que implicavam com sua maneira de falar, típica de um colla.
Talvez tenha a ver com o fato de o Strongest ter uma torcida mais elitizada, como já falamos por aqui antes:
Não somos especialistas no assunto, e se tivermos algum seguidor boliviano que quiser nos corrigir em algum ponto, ou complementar a explicação, estamos à disposição.
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Oficialmente, a Rússia não participará dos Jogos Olímpicos de Tóquio, como punição por casos de doping.
Mas alguns atletas russos poderão competir.
Em vez de ouvir o hino do país caso ganhem o ouro, ouvirão o Concerto para Piano nº1, de Piotr Tchaikovsky, um compositor russo.
A punição foi determinada em 2019, quando a WADA, agência mundial antidoping, disse ter identificado a participação do governo russo na dopagem de seus atletas.
Serão duas Olimpíadas sem Rússia, uma de verão e outra de inverno.
Como então haverá atletas russos em Tóquio?
Eles participarão individualmente, desde que a WADA confirme que estão “limpos”, e competirão sem a bandeira da Rússia, sob o nome de “Time COR”, sigla para comitê olímpico russo.
Essa punição, porém, exclui a Rússia de participar de esportes coletivos nessas Olimpíadas.
Você já viu um time ser campeão e se recusar a receber o troféu?
É o que pode acontecer com o Hearts, tradicional clube escocês, na segundona local.
O Hearts foi rebaixado na temporada 2019-20 da Premier League escocesa, mas considerou o rebaixamento injusto.
O campeonato foi interrompido com ainda uma boa porção por jogar. A queda foi determinada pelo fato do clube ser o lanterna no momento da parada.
Um ano depois, o clube, que é o terceiro mais tradicional da Escócia atrás apenas da dupla Celtic e Rangers e tem quatro títulos nacionais, já garantiu título e acesso com antecedência.
Mas ainda não aceitou a validade do rebaixamento no ano anterior.
O príncipe Mohammad bin Salman, que comanda hoje a Arábia Saudita, fez pressão pessoal no primeiro-ministro Boris Johnson para que a compra do Newcastle United fosse aprovada pela Premier League.
Ele ameaçou inclusive as relações entre os dois países caso o negócio não saísse.
A revelação foi feita pelo jornal Daily Mail, que teve acesso às mensagens entre os dois líderes de governo.
A situação ilustra bem como a compra do Newcastle não seria uma simples transação futebolística, mas sim uma movimentação de "sportswashing" do próprio Estado saudita.
Esse é o nome que se dá à prática de usar a credibilidade do esporte para “lavar a reputação” de um regime autoritário.
É o que veremos inclusive agora na semifinal da Champions League, por exemplo, entre PSG (Catar) e Manchester City (Emirados Árabes Unidos).
Você torceria ao lado de um condenado por crimes contra a humanidade?
No Uruguai, um coletivo de torcedores do Peñarol criou uma campanha para expulsão de dois agentes da ditadura militar do quadro de sócios do clube.
Faz parte da iniciativa chamada “gol contra a impunidade”.
Trata-se de uma iniciativa de diversas organizações sociais e torcidas de todo o país para lembrar que, afinal, ainda há agentes das ditaduras militares do Cone Sul presentes nos clubes de futebol.
A presença deles, diz o grupo, "mancha a história de instituições gloriosas".
“Clubes esportivos, que transmitem valores fundamentais como esforço p/ superação, companheirismo, jogo limpo e integração social p/ além da religião, raça ou filiação política, não deveriam dar a honra de ser sócios a quem simboliza o contrário desses valores”, diz a iniciativa.
Em dia de mata-mata continental, olhemos para o Caribe em vez da Europa, onde um clube haitiano vem fazendo história: trata-se do Arcahaie FC, surgido como um projeto social e que é patrocinado por um dos principais rappers do país. O clube já está nas oitavas da Concachampions.
Arcahaie é uma comuna com valor histórico. Foi lá que, em 1803, o general J. J. Dessalines, líder da Revolução Haitiana que libertou o país do domínio francês, criou a bandeira nacional após uma vitória. É um fato tão importante que 18 de maio, dia da bandeira, é feriado no Haiti
Nascido nesse lugar contestador, o Arcahaie surgiu como uma escola de futebol para ajudar crianças carentes, em 2017. Seu fundador, Ménard Jean Joseph, decidiu então inscrever o clube numa das divisões inferiores do país.
E eles começaram a vencer e chegaram até a 2ª divisão.