Em dia de mata-mata continental, olhemos para o Caribe em vez da Europa, onde um clube haitiano vem fazendo história: trata-se do Arcahaie FC, surgido como um projeto social e que é patrocinado por um dos principais rappers do país. O clube já está nas oitavas da Concachampions.
Arcahaie é uma comuna com valor histórico. Foi lá que, em 1803, o general J. J. Dessalines, líder da Revolução Haitiana que libertou o país do domínio francês, criou a bandeira nacional após uma vitória. É um fato tão importante que 18 de maio, dia da bandeira, é feriado no Haiti
Nascido nesse lugar contestador, o Arcahaie surgiu como uma escola de futebol para ajudar crianças carentes, em 2017. Seu fundador, Ménard Jean Joseph, decidiu então inscrever o clube numa das divisões inferiores do país.
E eles começaram a vencer e chegaram até a 2ª divisão.
Foi nesse contexto em que o rapper Izolan, um conhecido opositor do governo haitiano, passou a se aproximar da equipe. Izolan vive às voltas com a lei, e foi até preso e liberado em março.
A polícia o acusa de ligações com o crime, mas o rapper se diz um perseguido político.
Quando Izolan chegou ao Arcahaie, o clube ainda se mantinha com doações dos pais dos jogadores. Como o rapper é da região da equipe, ele decidiu comprá-la, pra seguir ajudando a comunidade.
Aliás, vale dizer que não é à toa que o clube tem as cores da bandeira do Haiti.
A média de idade do plantel é de 21 anos, e todos chegam ao Arcahaie pela escola de futebol.
Por isso, é surpreendente o desempenho da equipe, que já chegou às oitavas da Concachampions, diante do Cruz Azul, do México.
No entanto, não pôde jogar em casa o jogo de ida.
Pela falta de condições de seu estádio e pela situação insegura do Haiti, a Concacaf transferiu o jogo pra República Dominicana.
E, mesmo fora de sua casa, o Arcahaie segurou o time mexicano em 0 a 0.
Pro jogo da volta, hoje, outro dilema: o time não tinha dinheiro pra viajar
A viagem custaria cerca de 150 mil dólares, inacessível pra uma equipe desse porte. A Concacaf, ciente de que isso prejudicaria a imagem do seu torneio, se comprometeu então a pagar a ida do clube pra partida, que acontecerá no mítico estádio Azteca.
Vem mais história por aí?
O Copa Além da Copa fala sobre história, política, cultura e sociedade.
O príncipe Mohammad bin Salman, que comanda hoje a Arábia Saudita, fez pressão pessoal no primeiro-ministro Boris Johnson para que a compra do Newcastle United fosse aprovada pela Premier League.
Ele ameaçou inclusive as relações entre os dois países caso o negócio não saísse.
A revelação foi feita pelo jornal Daily Mail, que teve acesso às mensagens entre os dois líderes de governo.
A situação ilustra bem como a compra do Newcastle não seria uma simples transação futebolística, mas sim uma movimentação de "sportswashing" do próprio Estado saudita.
Esse é o nome que se dá à prática de usar a credibilidade do esporte para “lavar a reputação” de um regime autoritário.
É o que veremos inclusive agora na semifinal da Champions League, por exemplo, entre PSG (Catar) e Manchester City (Emirados Árabes Unidos).
Você torceria ao lado de um condenado por crimes contra a humanidade?
No Uruguai, um coletivo de torcedores do Peñarol criou uma campanha para expulsão de dois agentes da ditadura militar do quadro de sócios do clube.
Faz parte da iniciativa chamada “gol contra a impunidade”.
Trata-se de uma iniciativa de diversas organizações sociais e torcidas de todo o país para lembrar que, afinal, ainda há agentes das ditaduras militares do Cone Sul presentes nos clubes de futebol.
A presença deles, diz o grupo, "mancha a história de instituições gloriosas".
“Clubes esportivos, que transmitem valores fundamentais como esforço p/ superação, companheirismo, jogo limpo e integração social p/ além da religião, raça ou filiação política, não deveriam dar a honra de ser sócios a quem simboliza o contrário desses valores”, diz a iniciativa.
Carlos Menem, ex-presidente argentino que morreu hoje, era um neoliberal, peronista de direita que rachou o Partido Justicialista.
Mas ele também foi amigo de Diego Maradona.
Em 1989, ainda candidato à presidência, Menem chamou Maradona para estrelar uma campanha anti-drogas.
A ideia era que a campanha seria benéfica tanto para o presidente, quanto para a restauração da imagem do ídolo. E funcionou.
Menem esteve no casamento de Diego Maradona e, mais tarde, foi o responsável por conseguir para o craque seu primeiro trabalho como técnico, ainda em 1994, no modesto Mandiyú.
Os jogadores da seleção de Mianmar anunciaram que se recusarão a defender o país enquanto durar a ditadura militar que derrubou o governo há duas semanas.
“Até que devolvam a democracia, só vamos jogar na rua”, disse o goleiro Kyaw Zin Htet, que se juntou aos protestos populares
Mianmar, que já foi governado por uma ditadura militar entre 1962 e 2011, passou por novas eleições em 2020. O partido que representa os militares sofreu grande derrota, o que fez com que as forças armadas alegassem fraude.
No dia 1º, elas deram um golpe e assumiram o país.
Como já foi colônia britânica, Mianmar tem forte influência do país europeu. A Premier League, por exemplo, é acompanhada de perto pelos mianmarenses.
Nesta semana, torcedores de vários clubes se uniram aos protestos contra o golpe: “somos rivais, mas lutamos pela democracia”.
O Dallas Mavericks parou de tocar o hino nacional norte-americano antes de suas partidas na NBA.
A decisão foi tomada pelo dono da equipe, Mark Cuban, que sempre foi um defensor das manifestações contra o racismo dos atletas da liga.
O hino já não vinha sendo executado desde o início da temporada, mas foi só na última segunda-feira, quando a arena finalmente voltou a receber público, que a mudança foi notada.
O Mavericks convidou 1500 trabalhadores essenciais de Dallas, todos já vacinados, para seu jogo.
Mark Cuban conversou com o comissário da NBA, Adam Silver, sobre a mudança. Recebeu o sinal verde, apesar da regra exigir a execução do hino.
O dono da equipe de Dallas se manifestou a favor dos atletas que ajoelharam durante o hino em variadas oportunidades.
Bert Trautmann foi um soldado da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial e depois eleito o melhor jogador do futebol inglês ainda no pós-guerra.
Essa é uma história controversa, mas que merece ser contada.
Trautmann se alistou na juventude nazista ainda com dez anos de idade (Jojo Rabbit?) e, mais tarde, serviu o exército em vários lugares durante a Segunda Guerra Mundial.
Por seus serviços na Ucrânia, chegou a ganhar várias medalhas, incluindo uma Cruz de Ferro.
Capturado na Bélgica, Trautmann foi um dos 90 homens de seu regimento de mais de mil soldados a sobreviver. Acabou transferido para um campo de prisioneiros na Inglaterra.