Beleza, fera. Imaginemos então que todo o campo progressista apoie Lula e ele vença Bolsonaro em 2022. A partir de 2023 a direita volta a crescer e Bolsonaro reaparece com força. Qualquer mínima derrapada do PT reacenderá a chama do inferno. Aí em 2026 teremos que apoiar...+
Lula novamente porque Bolsonaro pode se eleger. Então vamos lá, todo o campo progressista deixa de lado qualquer outro candidato e projeto e foca no Lula, porque apenas ele pode vencer Bolsonaro. Mas supomos que dê errado e Bolsonaro vença em 2026. Aí, em 2029, Felipe Neto...+
anunciará a todos, mais de um ano antes das eleições de 2030, que o campo progressista deve se unir em torno de Lula, pois apenas ele pode derrubar Bolsonaro. E que pensar assim não o torna petista, e sim apenas 'realista'. Então abandonamos mais uma vez...+
todos os outros nomes progressistas, inclusive aqueles com projeto real para o Brasil e que também poderiam derrotar Bolsonaro, e apoiamos Lula, já com 84 anos. Mas vamos lá, o que importa é que apenas ele pode vencer Bolsonaro. E veja só, dá certo! +
Mas em 2034 Bolsonaro volta com tudo. As pessoas não aguentam mais tanto PSDB/PT, digo, Bolsonaro/Lula, só que elas são convencidas novamente pelo Felipe Neto que apenas Lula pode derrotar Bolsonaro e que o contrário, veja só, também é verdade!...+
E a partir dessa lógica de que apenas um pode vencer o outro e o outro pode vencer o um se o um e o outro participarem, a gente transforma o Brasil numa democracia de bosta. Não que já não seja, mas pelo menos hoje ainda podemos votar em quem queremos.
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Não sei se já falei isso, mas há uma década, ou um pouco mais, eu não gostava do Ciro. Como ele aparecia pouco na mídia, muito menos na do sul, o conhecia à distância. A imagem que ele passava para mim era a de um político falastrão, arrogante e meio playboy. ++
Enquanto que para mim os anos 90 foram brizolistas, numa certa melancolia por não ter eleito Brizola e seu projeto trabalhista, os 00 foram petistas, como foram pra praticamente todos os que hoje votam em Ciro e também para muitos dos revoltados com o PT ou que apertaram 17. ++
Ciro começou a chamar a minha atenção em meados de 2010, quando então do PSB e pré-candidato à presidência pelo partido. Nesse ano, Eduardo Campos, presidente do PSB, retiraria o nome de Ciro à candidatura para apoiar Dilma, do PT. Ciro aceitou e a apoiou. ++
Tudo, simplesmente tudo, qualquer coisa que algum cientista, pesquisador, jornalista, político de esquerda/liberal ou influenciador progressista disser é transformado em farsa, ilusão ou comunistice pelos bolsonaristas. Não há espaço para diálogo, para troca de ideias. +
Tudo, absolutamente tudo, é transformado em conteúdo a ser atacado, menosprezado, depreciado, inferiorizado, desqualificado, assim como aqueles que transmitem as ideias.
Esse padrão de ataques e desqualificação é uma orquestração espontânea. Já não exige um líder. +
Ou seja, já não é necessário que algum influenciador bolsonarista, seja o presidente ou algum de seus filhos, ministros ou 'jornalistas' inicie o processo de ataque. Os apoiadores já aprenderam que devem fazer isso com qualquer assunto que venha da oposição. +
PT continua sendo o inimigo da nação, assim como Maia, Alcolumbre e o STF. Todos corruptos.
E juntos à grande mídia (Globolixo, etc), PSOL e outros partidos da esquerda, não deixam o mito governar.
Isso cai todo o dia no zap.
Essas são as pessoas que em 2021 ainda perguntarão quem matou Celso Daniel, falarão sobre a caixa-preta do BNDES, lembrarão do 'kit gay' do Haddad e do Foro de São Paulo.
E em 2022 manterão o mesmo discurso. Sempre com pitadas fascistas, olavistas, insanas.
Lembrem que o discurso anti-petista e lavajatista mesclou-se ao olavista. Mesmo quem não conhece Olavo de Carvalho acaba, de alguma maneira, reproduzindo suas ideias.
A extrema-direita construiu um excepcional arsenal retórico, discursivo, estético e simbólico.
Os problemas de se levar a sério Darcy Ribeiro, Paulo Freire e outros:
- O Estado precisaria investir muito mais em escolas - muitas de turno integral -, em educação de qualidade, em bons salários para professores, em qualificação - cursos universitários - etc.
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- Para isso acontecer o Estado deve ter dinheiro. Esse dinheiro viria dos impostos, e seria cobrado de forma progressiva. Ricos pagariam mais impostos do que os pobres. Ricos teriam que saber que estão pagando mais impostos para bancar educação pública.
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- Aqui começam os conflitos. Rico pode pagar educação privada, particular. Não tem interesse em cooperar com educação pública. Seus filhos estudarão nas melhores escolas e, provavelmente, viverão no exterior em poucos anos.
Foucault e Agamben estão mais atuais do que nunca, e a nova geração de filósofos recorre a eles sem pestanejar. O Youtuber exposto em um suposto caso de pedofilia é uma demonstração clara da chamada sociedade da intimidade - para usar uma expressão do Byung-Chul Han. +
Ele consegue como poucos ligar os pontos da contemporaneidade a começar pelo capitalismo neoliberal, que transforma tudo e todos em mercadoria. A intimidade, na era da exposição, da transparência, também vira mercadoria. E a ciência da exatidão, do cálculo, guia nosso tempo. +
A intimidade está para todos a qualquer momento, de modo acelerado, geralmente em tempo real. O passar do tempo das redes sociais desafia o tempo natural. Nossa intimidade exposta pode ser assistida e julgada por todos, independentemente do lugar. Quando e onde confundem-se. +
Sobre o que venho falando nas últimas semanas e que deixou muitos amigos indignados comigo.
Sei que ainda é muito cedo para esse tipo de diagnóstico, mas percebam o padrão: economia e segurança.
Toda crítica que faço ao campo da esquerda passa por isso. +
Repito o que já escrevi antes: como explicar o dólar alto, o preço da gasolina, do diesel, da carne, o desemprego, a informalidade, a retirada de direitos trabalhistas, a falta de investimento em saúde, educação, meio ambiente, e tudo parecer andar bem para o cidadão médio? +
Há um aumento vertiginoso da categoria evangélica no Brasil, que apoia tanto as ideias ditas conservadoras de Bolsonaro quanto as medidas econômicas e de segurança. A tríade Bolsonaro, Moro e Guedes continua firme e forte no horizonte de esperança da maior parte da população. +