Na luta teórica, na disputa acadêmica, nos embates políticos, é natural que haja alguma simplificação e estigmatização de posições dos adversários.
Mas estou para ver algo como o que fizeram com os intelectuais do ISEB, especialmente com Alvaro Vieira Pinto e Guerreiro Ramos👇🏼
Estou há dias estudando detidamente Consciência e Realidade Nacional. É de cair o queixo. A clareza, o estilo elegante e indefinível (um ensaio de 1000 páginas?), o rigor.
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Penso que o livro é um exercício de sociologia histórica e não de filosofia, como costuma ser visto. 👇
Lido assim se encaixa, sem perder sua originalidade, em uma larga tradição que vem da alta intelectualidade dos países de modernização retardatária.
É vinho das mesma pipa dos escritos dos românticos alemães e italianos, dialoga com o modernismo brasileiro👇
especialmente com Mário de Andrade, fala com a geração de intelectuais brasileiros que se contrapuseram ao "ruiísmo" ( @CECLynch), principalmente Alberto Torres. Reposiciona as esperanças (cosmopolitas demais) dos dois últimos capítulos de Raízes do Brasil 👇
se aproxima muito das reflexões do peruano José Maria Arguedas e do mexicano José Vasconcelos.
Há ainda muito diálogo com o austro-marxismo, Otto Bauer especialmente.
A questão é que mapear estes diálogos fica a cargo do leitor, já que Vieira Pinto não cita, não usa notas...
O argumento do livro está amparado e vazado em filosofia. Mas ler o livro como um exercício de filosofia é descaminho, penso eu .
O melhor é fazer o exercício de enxergá-lo dentro de uma certa "ecologia", de um pensamento que não deixa de ser sofisticado por estar 👇
a serviço de um projeto.
Aliás, aí está um problema de parte do pensamento social brasileiro: a obsessão com "o encomendante", a visão de que se uma obra está a serviço de um objetivo que esteja fora dela mesma está suja ou é precária 👇
É 1 mistura esquista das teorias de Flaubert sobre a arte pura, ojeriza liberal ao estado, positivismo, ortodoxia bourdieuzista e sei lá mais o que.
Rejeite engajamento em projeto político e encomendante e pague o preço de dispensar de Michelangelo e Rafael Sanzio a Max Weber.👇
Chama a atenção a precariedade dos argumentos com o qual ele, Guerreiro, R. Courbisier foram estigmatizados.
Uma mistura de acusações político-programáticas (eram reformistas) com um positivismo típico do século XIX (faziam ideologia, não ciência) 👇
Como lembra @LuizEdu44533574, alguns autores tiraram a crítica aos intelectuais do ISEB do nível do baixo pugilato, a exemplo dos textos de Renato Ortiz. Mas ainda há muito a ser feito.
Neste sentido, a publicação da obra de Vieira Pinto pela excepcional Editora Contraponto 👇
sob direção de Cesar Benjamin é um grande feito. Mais um, aliás, desta editora que tem prestado tantos serviços ao país.
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1) Nas eleições da Câmara dos Deputados só 2 candidatos podem vencer.
Um é Baleia Rossi, apoiado por uma ampla frente, na qual os liberais tem mais força. O outro é Lira, o candidato de Bolsonaro.
Não há chance matemática de vitória para um terceiro candidato ou candidata...
2) Isso significa - e aqui não vai nenhum juízo de valor prévio - que qualquer outra candidatura seria apenas para marcar posição, na medida em que não seria competitiva.
A pergunta a se fazer é: vale a pena a esquerda marcar posição em uma eleição como esta?
3) Algumas pessoas acham que sim. Como a eleição tem 2o turno e, aparentemente, ele é inevitável, a esquerda poderia apresentar o seu programa, perder, e em seguida apoiar Baleia contra Lira...
Não é correto o argumento do PSOL de que uma candidatura isolada de esquerda não ajuda Lira, o candidato de Bolsanaro, porque afinal tem 2º turno. Segue o fio 🧶
Em primeiro lugar porque é fundamental que a candidatura da frente antibolsonaro tenha “cheiro de vitória”. Essa é a única forma de concorrer com os “milhões de argumentos” que o executivo oferece nesse momento aos parlamentares para apoiar Lira. A esquerda com Maia 🧶
faz o caboclo fazer a conta: o executivo me oferece muitas vantagens, mas quem vai ganhar é a outra turma. Pragmático o meu raciocínio? Temos que ser práticos neste momento, é a democracia e a vida das pessoas que está em jogo 🧶
O século XVI inglês assistiu a um debate muito interessante sobre a capacidade das mulheres governarem. Quando o rei Henrique morreu em 1547 seu filho Eduardo virou Rei, mas adoeceu e morreu logo. Antes, manobrou para que sua meia irmã, Maria, que era católica, não assumisse 🧶
indicando como sucessora lady Joana Grey. Maria, no entanto, não estava pra brincadeira, usurpou o trono, decapitou Joana e tornou-se, salvo engano, a primeira mulher a ser rainha da Inglaterra. Tava com a mão na massa mesmo queimou bem uns 300 protestantes adversários 🧶
A ala crítica à Maria começou a caracterizar o seu reinado como um flagelo de Deus e o núcleo de sua argumentação estava na ideia de que uma mulher não poderia ser rainha, 🧶
1. PT e PSOL começam a formar uma nebulosa com fronteiras pouco nítidas. Lula, sem condições de disputar hegemonia em duas frentes, mistura o PT ao PSOL para se concentrar em demarcar com Ciro. A nebulosa ajuda os dois, deixa o PSOL mais taludo e o PT rejuvenescido 👇🏼
2. Outra nebulosa forma-se em torno de PDT, PSB e REDE. Ciro é o candidato natural desta conformação em 22. A aliança passou no teste de 2020, manteve-se unida nas cidades mais importantes com um comando nacional capaz de aparar arestas regionais. 👇🏼
3. DEM, amplamente vitorioso, é incógnita. Não é fácil apoiarem Dória em 22, candidato por um PSDB francamente menor. Se aparecer um empresariado já saciado com reforma trabalhista e previdenciária e disposto a algum esforço desenvolvimentista para empurrar podem ir de Ciro.
Média de pesquisas na Itália. A Liga de Salvini e os Fratelli d’Italia tem, juntos, 40%. A derrota de Trump foi importante, mas estamos longe, muito longe, de afastar o fantasma do neofascismo e das outras faces da extrema direita. Siga o fio 🧵
O neofascismo e assemelhados não são fruto apenas de mudanças na consciência popular. São uma opção de parte do grande capital. Diante de uma série de crises que se sobrepõe e se retroalimentam uma parte das elites internacionais 🧵
não acredita mais na democracia liberal, mesmo a limitada pelo neoliberalismo, como capaz de governar um mundo à beira do colapso. Isso já aconteceu - mutatis mutandis - na década de 30, que pode oferecer insumos importantes para raciocinarmos 🧵
Tenho um palpite, mas é só um palpite, posso estar errado. Acho que várias séries da Netflix tem refletido a erupção na Europa do nacionalismo 👇
isso pode ser visto, de forma mais óbvia, no tratamento quase que obsessivo que as séries fazem do tema da imigração. Há,
No entanto, coisas mais importantes, interessantes e menos explícitas 👇
Por exemplo, a grande presença da floresta em muitas séries. A floresta, como demonstrou @simon_schama , dentre outros, é parte fundamental da construção da identidade nacional, especialmente no norte 👇