Uma amiga perguntou se o hospital onde trabalho está usando ivermectina para COVID, pois a viu numa prescrição.
Falei que ivermectina É INEFICAZ contra COVID e não a usamos para isso. Mas que podemos prescrevê-la como antiparasitário para prevenir estrongiloidíase disseminada.
Então...
Vocês já devem ter visto que há recomendação de uso de corticóide (como a dexametasona) em doenças pulmonares graves, incluindo a COVID-19.
E corticóides podem, em altas doses, predispor a imunossupressão (baixar a imunidade/diminuir a defesa do organismo).
Com a defesa baixa, o vermezinho "Strongyloides stercoralis" que estava morando há anos no seu intestino sem fazer barulho, pode proliferar, se espalhar e causar uma hiperinfecção, chamada de estrongiloidíase disseminada.
Ainda me impressiona como há médicos que preferem insistir no achismo, pondo em risco a saúde do paciente, para defender um presidente que claramente não tá nem aí pro seu povo.
Isso me leva a reforçar algo que deveria ser bem óbvio na prática da saúde:
OS PRINCÍPIOS BIOÉTICOS
Existem 4 princípios bioéticos:
• Beneficência
• Não-Maleficência
• Justiça
• Autonomia
E eles servem pra nortear as ações dos profissionais de saúde em relação a vida de outros seres humanos.
• Beneficência: deve-se maximizar benefício e diminuir prejuízo.
• Não-maleficência: não se deve fazer o mal (‘Primum non nocere’)
Ex: se o uso de cloroquina/ivermectina não tem evidência científica para COVID, ou seja, não tem benefício, um médico NÃO deveria prescrevê-lo.
Desde que voltaram os atendimentos ambulatoriais pelo SUS tenho observado que muitos pacientes chegam usando máscaras bem suja, provavelmente com vários dias de uso.
Isso, além de mostrar o abismo social no qual estamos inseridos, me trouxe um questionamento pessoal.
É melhor a pessoa usar a máscara suja ou não usar nada?
Sabemos que a eficácia da máscara diminui se ela não for higienizada e usada corretamente, mas sua proteção ainda é maior do que simplesmente não usá-la.
Claro que orientamos o paciente as medidas de higienização e o quanto ao uso correto da máscara.
Mas algumas vezes, por motivos sociais e culturais, o paciente deixa até de usar a proteção pra não “levar carão” porque tá usando errado.
Não sei se vocês viram que várias médicas estão postando foto de biquíni nas redes sociais. Inclusive aquelas que geralmente só postam coisas profissionais.
Não, não é o concurso Miss Médica Brasil, nem calourada atrasada da faculdade.
Senta aqui que eu explico.
Em dezembro de 2019 foi publicado o artigo: “Prevalence of unprofessional social media content among young vascular surgeons” pelo Jornal of Vascular Surgery.
Em tradução literal: “Prevalência de mídias sociais não-profissionais na entre jovens cirurgiões vasculares”
O artigo foi escrito por 6 HOMENS e 1 MULHER que fizeram uma análise das redes sociais pessoais de 480 médicos e médicas da cirurgia vascular.
Basicamente o objetivo da coisa era identificar comportamentos não-profissionais supostamente “mal vistos” por chefes e pacientes.
Pediram pra eu contar minha experiência pessoal (como paciente) com a COVID.
Então senta que lá vem história.
Sim, pra quem não sabe, me infectei no final de abril, muito provavelmente em conseqüência aos diversos plantões (praticamente diários) que eu tinha na linha de frente.
Na época a sala de parada do hospital (onde também faço plantão) ainda não era uma área covid.
Ou seja: Não recebíamos paramentação para trabalhar lá.
Tínhamos que nos contentar com nossos próprios EPI e as N95 recebidas a duras penas e mta humilhação pessoal a cada 14 dias.
Como toda sala de parada, vários pacientes chegavam graves, desacordados, tendo que ser prontamente entubados e estabilizados.
Após o manejo inicial pra manter o paciente vivo, íamos coletar a história com os familiares e tcharam: paciente tinha sintomas de gripe.