Ontem comentei que não tinha base a "notícia" de que a China iria suspender, aplicando uma espécie de boicote, a venda de insumos de vacina para o Brasil. Fui chamado de "defensor da China". Agora estudar a diplomacia de um país, conhecer seu padrão de ação, é ser "defensor"
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Um dos grandes problemas da nossa época é a lógica do "pouco estudo e muita certeza". A China trabalha com uma lógica diplomática de longo prazo com objetivos estratégicos bem definidos. Não importa o quão bizarro seja o Governo Bolsonaro, o país não vai romper com o Brasil
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5 motivos para entender isso: a) o Brasil é o maior mercado consumidor da América do Sul, rico em recursos naturais e com papel estratégico no continente; b) Bolsonaro é passageiro e mesmo se reelegendo em 2022, uma hora isso passa, na visão dos chineses;
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c) a China confia na pressão interna dos agentes econômicos e políticos que dependem do país para moderar possíveis hostilidades do governo do momento; d) a China não vai abandonar um país estratégico para os EUA se colocar como único parceiro;
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e) embora cresçam as tensões diplomáticas, dificuldade de parcerias e outras ações, a China evita ao máximo trabalhar com boicotes, sanções e ações diplomáticas que pareçam unilaterais ou hegemonistas. Isso é parte de sua estratégia global;
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E duvido que a China vá realizar uma ação que contradiga sua estratégia global e discurso oficial logo no Brasil, um país que tem nível significativo de importância internacional. Não se trata de "defender a China", mas de estudar os padrões de ação geopolítica da China.
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O academicista e a crítica: sobre o elitismo primário de Jessé Souza.
Jessé Souza participou de uma conversa no canal do Paulo Gala. A conversa teve a participação de Gabriel Galípolo e José Marcio Rego.
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A partir dos 46 minutos do vídeo, o professor Rego pergunta para Jessé o que ele achou do meu artigo criticando sua produção – em particular, seus comentários sobre o marxismo. Jessé, respondendo à pergunta, mostra uma espécie de tipo ideal do acadêmico brasileiro:
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não responde às críticas, não debate, tenta apenas humilhar quem o criticou para não responder a crítica.
Primeiro, Jessé diz que não leu todo o artigo porque não achou interessante. Já que não leu, por coerência, deveria dizer que não tem opinião
É um dado conhecido que na totalidade das experiências socialistas, a criminalidade baixou a quase zero. Em Cuba, por exemplo, assaltado, latrocínio e homicídio é algo raríssimo. Muitos falam que isso é pela redução drástica da desigualdade social
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Esse é, sem dúvida, um elemento importante. Mas vocês já se perguntam como é viver numa sociedade onde o cinema, a TV, o rádio, a escola, o mercado editorial, em suma, todo mundo da cultura e comunicação, não estimula violência, consumismo e valores individualistas?
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Imagine, por exemplo, que efeito teria no Brasil, ao longo de uma geração, se todo conteúdo da indústria cultural de legitimação da violência sumisse e no sentido contrário, tivéssemos valorização dos direitos humanos e campanhas permanentes contra a violência e a tortura?
Cuidado com algumas abordagens. Toda vez que falo da vitória sobre o colonialismo clássico, alguém lembra as derrotas dessas lutas que pretendiam o socialismo ou regimes de soberania real. Verdade, existiu a derrota, porém cuidado com o "é tudo a mesma coisa"
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A Argélia de hoje é um país cheio de problemas e um capitalismo dependente horrível, mas não ser mais colônia francesa foi sim um avanço enorme, por exemplo. Dizer que é tudo a mesma coisa, é o mesmo que falar que democracia burguesa ou fascismo dá tudo no mesmo
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Afinal, democracia burguesa ou fascismo, é tudo ditadura da burguesia. De fato, são iguais, porém não são o mesmo. Viver no capitalismo dependente é uma merda, mas não é o mesmo que no colonialismo clássico. O colonialismo é em muitas dimensões bem pior que o fascismo!
Orlando Zaccone, no seu livro Indignos de Vida. A Forma Jurídica da Política de Extermínio de Inimigos na Cidade do Rio de Janeiro, lembra que a polícia não puxa o gatilho e mata sozinha. A reflexão de Zaccone não é para tirar a responsabilidade da polícia, mas
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lembra e analisar o complexo de morte que permite a política de extermínio. Por partes, primeiro: a mídia solta essa chamada. Temos pesquisa mostrando que muitos brasileiros não vão além da chamada da matéria. Segundo, em seguida a chamada, diz que
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"Ação mais letal da história do RJ, com 25 mortos, foi realizada para coibir tráfico". Já mobiliza a ideologia da guerra às drogas para legitimar as mortes e o extermínio do inimigo interno. As vítimas não são humanizadas. Nada sobre quem é quem.
No Brasil, a TV ainda é o veículo de comunicação com maior alcance. Em todos os canais, no horário do almoço e final da tarde (alguns pela manhã também), temos programas policiais glorificando a violência, criminalizando direitos humanos e defendendo execução em favelas
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Não sou um estudioso da comunicação, mas tenho sérias dúvidas se em outro país do mundo, a população é submetida a tal grau de propaganda e glorificação da violência estatal. Propaganda diária, ininterrupta e sem contraponto
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A linguagem, em si, já é justificadora da violência. Não é "morte de pessoas" ou "assassinatos", mas "morte de suspeitos", "troca de tiros", "tiroteio em favelas". A suposta lógica do Estado de direito burguês, a presunção da inocência, não existe
4 ou 5 anos atrás, circulou pelo mundo um vídeo de Pablo Iglesias, líder e fundador do Podemos, falamos que temos que abandonar os velhos símbolo do socialismo, comunismo, o vermelho, a foice e o martelo. Era o momento de ganhar
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Pablo disse que estava cansado de perder e de saudosismo do passado. O Podemos provocou enquanto em várias partes do mundo. Entre 2015 e 2018, no Brasil, muitas organizações e militantes falavam da experiência e queriam aprender ou imitá-la
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O VAMOS de 2018, liderado por Guilherme Boulos, tinha clara e explicita influência do Podemos. O tempo passou. O Podemos, lamentavelmente, foi perdendo sua radicalidade e seu encanto. A experiência entrou numa encruzilhada histórica e parece cair no abismo