O academicista e a crítica: sobre o elitismo primário de Jessé Souza.

Jessé Souza participou de uma conversa no canal do Paulo Gala. A conversa teve a participação de Gabriel Galípolo e José Marcio Rego.

👇
A partir dos 46 minutos do vídeo, o professor Rego pergunta para Jessé o que ele achou do meu artigo criticando sua produção – em particular, seus comentários sobre o marxismo. Jessé, respondendo à pergunta, mostra uma espécie de tipo ideal do acadêmico brasileiro:

👇
não responde às críticas, não debate, tenta apenas humilhar quem o criticou para não responder a crítica.

Primeiro, Jessé diz que não leu todo o artigo porque não achou interessante. Já que não leu, por coerência, deveria dizer que não tem opinião

👇
(esse é o "método científico" do grande intelectual: criticar sem ler), mesmo assim diz que “psicanaliticamente” eu tento o imitar, em seguida fala que tem mais tempo de estudo do que eu tenho de vida, fala que eu “defendo teorias racistas” (???),

👇
diz que espera até hoje um “crítico à altura de sua obra” e para concluir, insinua que por eu usar redes sociais para o trabalho de comunicação, eu seria raso, no velho elitismo conhecido.

Vamos por partes. Primeiro, no meu artigo,

👇
O fantástico mundo de Jessé Souza: notas sobre uma caricatura do marxismo (publicado na Revista Opera), centro minha atenção aos comentários de Jessé Souza sobre o marxismo. Busco mostrar que suas críticas de que o marxismo é economicista não se sustentam.

👇
Faço isso por vários caminhos: a) mostro a ausência de bibliografia marxista nos seus livros; b) o trato desleixado com a obra de Marx; c) a ausência total de pensadores marxistas brasileiros (como Clóvis Moura e Nelson Werneck Sodré) nos “debates” que faz;

👇
d) como ele faz caricaturas toscas do debate marxista sobre classes sociais.

Aliado a isso, como argumentos adicionais, mostro que o suposto ineditismo de Jessé ao pensar a escravidão como instituição definidora da morfologia social do Brasil não tem nada de inédito e

👇
que a interpretação que ele faz de Florestan é totalmente injusta, errada e unilateral. Tudo isso, no meu artigo, foi demonstrado com citações, referências e um trato cuidadoso de publicações e seu ano de lançamento (provando que não existe nada de novo no que Jessé diz).

👇
Como fica claro no artigo, não me preocupei em debater a interpretação de Jessé da obra de Sérgio Buarque de Holanda ou Raymundo Faoro. Essas seriam as “teorias racistas” que Jessé fala que eu defendo. Jessé mente!

👇
Aliado a isso, quando, mais de 20 anos atrás, ele começou a criticar Buarque de Holanda e Faoro, ele não tinha a idade que esses pensadores tiveram de estudo e produção. Se fosse coerente, Jessé deveria tomar para si seu critério etário para fazer a crítica.

👇
O autor, simplesmente não responde nenhum dos argumentos, tenta deslegitimar o interlocutor (pela idade, por ser youtuber, etc.) e ainda se coloca no grau da incompreensão, onde sua crítica dorme tranquila, sendo difícil demais para os meros mortais entendê-la.

👇
O mesmo Jessé que em diversas entrevistas diz que um dos seus méritos é fazer uma escrita popular e acessível. Ou seja, na hora de se auto elogiar, é didático e acessível, não hora de receber uma crítica, é incompreensível e ultra rebuscado.

👇
O autor ainda é acompanhado pelo economista Paulo Gala, que diz que eu sou um “não pensador” e um “pensador não sério”. O curioso é que esse ano estive com @paulogala , Elias Jabbour e Uallace Moreira ao lado de Juliane Furno, debatendo Teoria Marxista da Dependência.

👇
Gala esteve comigo no mesmo espaço de debate, poderia me confrontar, fazer questões, críticas, mas ficou calado. Seguindo outra tônica cultural brasileira, é muito corajosa para falar, menos na frente do interlocutor.

Em suma, um show de “você sabe como quem está falando?”

👇
Medíocre? Sem dúvidas, mas em conteúdo, não esperava nada melhor. Na forma, talvez por ingenuidade, não imaginava algo tão bizarro. Erro meu. O céu é o limite no mundinho quase feudal dos nossos mandarins de lattes!

• • •

Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh
 

Keep Current with Jones Manoel

Jones Manoel Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

PDF

Twitter may remove this content at anytime! Save it as PDF for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video
  1. Follow @ThreadReaderApp to mention us!

  2. From a Twitter thread mention us with a keyword "unroll"
@threadreaderapp unroll

Practice here first or read more on our help page!

More from @_makavelijones

9 May
É um dado conhecido que na totalidade das experiências socialistas, a criminalidade baixou a quase zero. Em Cuba, por exemplo, assaltado, latrocínio e homicídio é algo raríssimo. Muitos falam que isso é pela redução drástica da desigualdade social

👇
Esse é, sem dúvida, um elemento importante. Mas vocês já se perguntam como é viver numa sociedade onde o cinema, a TV, o rádio, a escola, o mercado editorial, em suma, todo mundo da cultura e comunicação, não estimula violência, consumismo e valores individualistas?

👇
Imagine, por exemplo, que efeito teria no Brasil, ao longo de uma geração, se todo conteúdo da indústria cultural de legitimação da violência sumisse e no sentido contrário, tivéssemos valorização dos direitos humanos e campanhas permanentes contra a violência e a tortura?

👇
Read 5 tweets
8 May
Cuidado com algumas abordagens. Toda vez que falo da vitória sobre o colonialismo clássico, alguém lembra as derrotas dessas lutas que pretendiam o socialismo ou regimes de soberania real. Verdade, existiu a derrota, porém cuidado com o "é tudo a mesma coisa"

👇
A Argélia de hoje é um país cheio de problemas e um capitalismo dependente horrível, mas não ser mais colônia francesa foi sim um avanço enorme, por exemplo. Dizer que é tudo a mesma coisa, é o mesmo que falar que democracia burguesa ou fascismo dá tudo no mesmo

👇
Afinal, democracia burguesa ou fascismo, é tudo ditadura da burguesia. De fato, são iguais, porém não são o mesmo. Viver no capitalismo dependente é uma merda, mas não é o mesmo que no colonialismo clássico. O colonialismo é em muitas dimensões bem pior que o fascismo!

👇
Read 4 tweets
7 May
Ontem comentei que não tinha base a "notícia" de que a China iria suspender, aplicando uma espécie de boicote, a venda de insumos de vacina para o Brasil. Fui chamado de "defensor da China". Agora estudar a diplomacia de um país, conhecer seu padrão de ação, é ser "defensor"

👇
Um dos grandes problemas da nossa época é a lógica do "pouco estudo e muita certeza". A China trabalha com uma lógica diplomática de longo prazo com objetivos estratégicos bem definidos. Não importa o quão bizarro seja o Governo Bolsonaro, o país não vai romper com o Brasil

👇
5 motivos para entender isso: a) o Brasil é o maior mercado consumidor da América do Sul, rico em recursos naturais e com papel estratégico no continente; b) Bolsonaro é passageiro e mesmo se reelegendo em 2022, uma hora isso passa, na visão dos chineses;

👇
Read 6 tweets
7 May
Orlando Zaccone, no seu livro Indignos de Vida. A Forma Jurídica da Política de Extermínio de Inimigos na Cidade do Rio de Janeiro, lembra que a polícia não puxa o gatilho e mata sozinha. A reflexão de Zaccone não é para tirar a responsabilidade da polícia, mas

👇
lembra e analisar o complexo de morte que permite a política de extermínio. Por partes, primeiro: a mídia solta essa chamada. Temos pesquisa mostrando que muitos brasileiros não vão além da chamada da matéria. Segundo, em seguida a chamada, diz que

👇
"Ação mais letal da história do RJ, com 25 mortos, foi realizada para coibir tráfico". Já mobiliza a ideologia da guerra às drogas para legitimar as mortes e o extermínio do inimigo interno. As vítimas não são humanizadas. Nada sobre quem é quem.

👇
Read 9 tweets
6 May
No Brasil, a TV ainda é o veículo de comunicação com maior alcance. Em todos os canais, no horário do almoço e final da tarde (alguns pela manhã também), temos programas policiais glorificando a violência, criminalizando direitos humanos e defendendo execução em favelas

👇
Não sou um estudioso da comunicação, mas tenho sérias dúvidas se em outro país do mundo, a população é submetida a tal grau de propaganda e glorificação da violência estatal. Propaganda diária, ininterrupta e sem contraponto

👇
A linguagem, em si, já é justificadora da violência. Não é "morte de pessoas" ou "assassinatos", mas "morte de suspeitos", "troca de tiros", "tiroteio em favelas". A suposta lógica do Estado de direito burguês, a presunção da inocência, não existe

👇
Read 8 tweets
4 May
O novo e o velho

4 ou 5 anos atrás, circulou pelo mundo um vídeo de Pablo Iglesias, líder e fundador do Podemos, falamos que temos que abandonar os velhos símbolo do socialismo, comunismo, o vermelho, a foice e o martelo. Era o momento de ganhar

👇
Pablo disse que estava cansado de perder e de saudosismo do passado. O Podemos provocou enquanto em várias partes do mundo. Entre 2015 e 2018, no Brasil, muitas organizações e militantes falavam da experiência e queriam aprender ou imitá-la

👇
O VAMOS de 2018, liderado por Guilherme Boulos, tinha clara e explicita influência do Podemos. O tempo passou. O Podemos, lamentavelmente, foi perdendo sua radicalidade e seu encanto. A experiência entrou numa encruzilhada histórica e parece cair no abismo

👇
Read 9 tweets

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just two indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3/month or $30/year) and get exclusive features!

Become Premium

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!

Follow Us on Twitter!

:(