Uma das frases que mais me intrigam é a ideia de "país fragmentado" para falar do Brasil (mas de qualquer outro, na verdade), pois pressupõe a existência de algo como uma "unidade nacional" perdida ou vindoura. Algo que nunca existiu e nunca existirá.
A ideia de nação como unidade coesa é mais uma dessas ficções que, de tanto serem repetidas, se tornaram "reais". Reais apenas no campo da representação, pois nunca se manifestaram como fenômeno.
Se você pega a própria fundação dos estados nacionais na Europa (fenômeno relativamente recente em termos históricos) vai encontrar algo que só pode ser definido como "briga de foice no escuro". Com diversos grupos tentando se tornar a "identidade nacional".
E depois ainda vai encontrar movimentos de unificação: a própria história da escola de sociologia francesa passa por isso, pela sua relação direta com a pedagogia e formação de uma "unidade francesa".
Aí quando olhamos para os fenômenos do tipo fascismo vemos, justamente, esse princípio de unidade (nacional, regional, global e até individual), esse sonho, como um dos seus principais pilares.
O Brasil não está fragmentado, divido ou algo assim. O Brasil nunca foi UM, nem em época de Copa do Mundo: se você pegar um Oliveira Viana reclamando dos "poderes locais" no começo do século passado e olhar para realidade atual vai ver que não mudou nada.
O Brasil do UM era o sonho de Vargas, da Ditadura Militar... mas graças a Exu esse sonho nunca se concretizou.
Não por coincidência esse é o sonho do Bolsonarismo, declarado já no dia seguinte da eleição. Sonho que está expresso no nome e na constituição do partido que ele desejava fundar.
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