Sobre fascista e não-fascista, tem um textinho que encontrei uma vez vendo as referências de uma pesquisa do antropólogo Gilberto Velho.
Se chama "Good people, dirty work", escrito pelo antropólogo Everett C. Hughes focado na Alemanha nazista (procurem nos russos).
Na verdade, o foco é Hughes analisando o imediato pós-guerra na Alemanha. As pessoas comuns lá, tudo arrependidas, mas no fundo, elas soltavam pistas de que sua adesão ao nazismo na época é porque os nazistas faziam o "trabalho sujo".
O trabalho sujo poderia ser uma série de coisas, mas basicamente, na compreensão das pessoas comuns, eles resolviam os problemas das pessoas com antisemitismo, diversidade, pautas morais que estavam disseminadas antes do nazismo.
As pessoas comuns (as "boas pessoas") teriam, portanto, essa propensão de aceitarem que há trabalhos sujos na sociedade que devem ser feitas - e aí o toque de mestre de Hughes, para seu público americano, de comparar com duas coisas: linchamentos e sistema prisional.
Em ambos os casos, a branquitude americana olharia para esses casos e veria, sim, coisas terríveis...mas não é como se ela estivesse desejosa de enfrentar o racismo. O que esperavam é que houvesse um corpo de funcionários ou voluntários que...
...resolveria o "problema sujo", que sujaria as suas mãos para o bem da ordem da sociedade. Ou seja, mesmo que seu tio Franz não fosse nazista, é possível que ele acreditasse que toda aquela violência tinha uma finalidade.
Só não precisava mostrar.
É como o slogan do fascismo italiano: "Ao menos com Mussolini, os trens sempre chegam no horário". Ou seja, independente da violência (que sempre choca o bom cidadão), ao menos o trabalho sujo estava sendo feito.
Isso tem uma série de implicações, mas a que eu mais gosto é que ser/estar nazista (ou fascista, ou bolsonarista) é sempre circunstancial. Mas para além da circunstância, a adesão conta necessariamente com essa convicção da necessidade do "trabalho sujo".
É aí que mora o perigo. Ou aí que mora o fascista dentro de nós, que terceriza a responsabilidade social para um corpo de pessoas que ganha licença para resolver os problemas "by any means necessary".
Talvez isso seja muito diferente do que mandar wpp de mamadeira de piroca ou passear de moto com o verme. Mas no fundo, retoma a ideia de que não há um "innocent bystander" num regime fascista. O foco é cooptar todo mundo...e quem não for cooptado, vira inimigo do regime.
Alguém pode dizer, com razão, que Bolsonaro não criou um regime fascista no Brasil. E eu concordo.
Mas não é como se ele não quisesse criar. Pelo contrário...o golpe tá aí e cai quem quer. Ou quem achar que os trens tão chegando no horário.
PS: Não faltou (e não falta) gente pra dizer que Bolsonaro é terrível, mas as reformas tão aí, fazendo o mercado feliz, o bolsolão tá alimentando os partidos de direita, tudo certo...
Os trens tão chegando no horário.
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Sobre o Hamas ser legítimo, ou não, para mim parece óbvio.
Quem confere a legitimidade do Hamas enquanto partido é o povo palestino. Parte significativa dele apoia o Hamas. A legitimidade tá aí.
Pode se alegar que há discurso no Hamas que promovem o fim de Israel e anti-semitismo. Mas consideremos que o Likud também promove o fim da Palestina e o sentimento anti-árabe.
Entretanto, só o Hamas é representado como terrorista.
Ainda que desde 2008 o partido tenha se posicionado a favor da solução dos dois Estados, ainda hoje impera a versão de que o Hamas é contra o Estado de Israel. A cobertura de boa parte da imprensa segue o mesmo tom desde os anos 1990 (mesmo que o maior atentado político...
Graças ao @ThiagoKrause2 li uma das resenhas da nova biografia de Edward Said e graças ao @MundosTrabalho li a resenha da Barbara Weinstein sobre a biografia do Eric Hobsbawm.
O foda é que agora quero ler muito ambas. Já falei que gosto muito de biografias?
Mas falando sério, as duas resenhas são muito boas. E me chama atenção como dois intelectuais que escreveram textos autobiográficos ao longo da sua vida são, agora, biografados em morte.
Enfim, para quem quer ler as resenhas, essa é a da professora Barbara Weinstein (em português) sobre a biografia de Hobsbawm:
Não acompanhei a CPI, mas apesar de querer, sei que o foco não é prender ninguém.
CPI é palco.
Nesse ponto, o fato do Flavinho caganeira ter ido lá fazer chacrinha é sintomático de que é preciso criar factóide pra não ser engolido no tsunami de merda.
Isso não quer dizer que a CPI vai necessariamente dar em pizza, mas... né, o primordial dela é fazer palco, mostrar que os caras são culpados mesmo para a opinião pública. Nesse ponto, o Waisifuden lá contribuiu lindamente.
A narrativa da CPI o Planalto já perdeu faz tempo. Mas vai rolar cada vez mais chinelagem.
Renan vai jogar com chuva, no La Bombonera e sem policiamento. Vai ser bonito de ver.
Não são poucas as falas nostálgicas de colegas sobre a universidade no passado, quando ela supostamente era uma ilha de excelência diante de nossa tamanha desigualdade.
Nesse ponto, vejo que a extrema-direita soube capturar esse lamento, transformando-o em arma ideológica.
Na guerra cultural que ela promove, há esse insólito encontro do fascismo com docentes que se recusam a repensar suas abordagens didáticas, seus comportamentos e até mesmo o papel da universidade. Aquele chorume que a própria Piauí publicou de um anônimo reclamando...
- 400 mil mortos.
- Abril foi o pior mês do COVID no Brasil (e no Rio Grande do Sul também, bairristas).
- Secretaria da Educação defende que máscara de pano é tão boa quanto a PFF2.
A Rosane é a porta-voz do grupo RBS e representa o medo deles perderem anunciantes se, por acaso, defenderem coisas como testagem em massa, obras estruturais em escolas, distribuição gratuita de equipamentos de biossegurança para a comunidade escolar...
Todos esses são protocolos defendidos pela OMS, que só recomenda a retomada das escolas quando o contágio estiver baixo.
Lidar com pais sempre foi a pior parte de trabalhar em escola privada.
Numa delas, as reuniões trimestrais com os pais aconteciam no ginásio da escola. Cada professor recebia uma mesa, uma cadeira e uma água e, na hora designada, os pais iam lá.
Determinados professores recebiam filas imensas de pais que não vinham só para saber do desempenho escolar dos filhos. Vinham cobranças de toda sorte e a gente lá, rebolando, sem poder bater boca com os pais porque direção e equipe pedagógica estavam sempre por perto.