Thread by @_makavelijones

A ideologia dominante e suas sutilezas

O Globo publicou nos últimos dias vários materiais de apologia à Hannah Arendt. Veja como é a blindagem sobre a autora. O autor da matéria diz que ela defendia o "direito à discriminação na esfera privada"

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Isso é um nome bonito para falar que o racista tinha a liberdade de ser racista na sua esfera privada. No segundo parágrafo, surge uma CARICATURA. Nenhum movimento ou líder da época defendia acabar com o racismo "por cima", via "imposição do estado".

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O regime de segregação racial era sustentado pelo poder político, o Estado. Era preciso, por óbvio, acabar com a legislação do apartheid. Reduzir isso a "acabar o racismo por cima" é uma caricatura desonesta. E, de novo, a preocupação é com o "direito" dos racistas

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Em outro momento da matéria, o autor comenta que Arendt "passou por cima da escravidão" no debate sobre a Revolução Americana e francesa. E o que isso significa? Prova algo? É grave? Por que passou por cima? Sem resposta, sem reflexão

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Arendt não "esqueceu" só a escravidão, mas também o extermínio dos povos originários nos EUA, o regime de segregação racial montado após a escravidão e a servidão de "coolie" chineses e indianos. Em suma, EXCLUIU a questão racial e colonial do debate, idealizando os EUA

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Mesmo assim, veja bem, não é que Arendt tenha uma obra racista, anti-negro e pró-colonialismo. É um simples "não entendeu". E note, Arendt esqueceu de debater a escravidão nos EUA no auge da luta antirracista, no tempo de Malcolm X, Luther King e movimento dos direitos civis

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Mesmo assim, mesmo ficando contra os que lutavam contra o racismo e o colonialismo, mesmo repetindo o MESMO discurso da extrema direita que reduziu Fanon a um "apologista da violência" e chamando o movimento negro dos EUA de "violento" e "oportunista", ela é neutra

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O fato de um dos mais famosos livros de Arendt, Sobre a Revolução, ser baseado do começo ao fim na reflexão do liberal Alexis de Tocqueville e ser um ataque violento ao marxismo, é um detalhe. Ela é neutra, "espírito livre", "sem ideologia". Ideologia tem os outros

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Por fim, uma autora que disse que "o Terceiro mundo não existe", é uma ficção, mas dizia fazer parte e defendia o "ocidente" (esse existe, não é ficção rs), é uma pensadora sem teorias. Teoria são tem os outros. E o que é um pensamento sem teoria?

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Toda construção do texto é uma narrativa bizarra para defender Arendt de tudo. É incrível como não é problematizado o fato de que depois de 100 anos de REGIME DE SEGREGAÇÃO RACIAL nos EUA, a preocupação de Arendt é com o direito dos racistas e não com os oprimidos

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E o autor do texto, é claro, joga o espantalho do "stalinismo": "De uns tempos para cá, Arendt tem sido acusada de “conservadora” por militantes de organizações de esquerda simpáticas ao stalinismo". Entendeu como funciona o jogo? Mais claro, impossível!
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