Tem-se falado muito de #factchecking nos últimos tempos. Tenho a impressão que muitos que falam sobre o tema não sabem como funciona este negócio. Esta thread tenta explicar como funciona, porque é que funciona como funciona, e porque é que é um modelo que não devia existir
Em Portugal existe, à data, um OCS reconhecido como fact-checker: o @JornalPoligrafo. O @Observador tem o seu certificado expirado e/ou em renovação ifcncodeofprinciples.poynter.org/signatories
Mas afinal o que é faz de uma entidade um fact-checker? Pertencer à @factchecknet que, por sua vez pertence à @Poynter que por sua vez é financiada pelo @Facebook, @Google, @ckochfoundation entre outros:
poynter.org/major-funders/
Esta rede de internacional de fact-checking surge da necessidade de algumas plataformas digitais demonstrarem que estão a fazer tudo para combater a desinformação mas, não querendo lidar diretamente com fact-checkers independentes, têm um gate-keeper que é a @factchecknet
Daqui deve ficar claro que nem a @SICNoticias, nem a @tvi24pt, são fact-checkers reconhecidos pela @factchecknet. São sub-produtos televisivos do trabalho que é produzido pelos OCS reconhecidos.
Mas então como é que se pode pertencer a esta rede?
1. Ser um OCS reconhecido
2. Pagando
ifcncodeofprinciples.poynter.org/process
O que é isto significa?
Que, logo à partida, o processo está errado. E porquê? Porque limita o fact-checking apenas ao que é do interesse dos OCS, deixando de fora o combate a outro tipo de desinformação que, por vezes, tem um impacto real e negativo nas populações.
Isto significa também que o investimento que é feito, para se pertencer a esta rede exclusiva, tem que ter retorno, e esse retorno é dado em clicks pelas plataformas digitais. "Esta notícia foi ..."
Voltando novamente ao que me parece ser o grande erro fundamental deste sistema, que está instituido: existe uma propensão dos fact-checkers reconhecidos para lidar com alguns temas, e abandonar outros ao esquecimento.
O caso mais recente é o das afirmações de José Gomes Ferreira sobre Marte, que mereceu desmentidos de cientistas mas cujo o único fact-checker reconhecido em Portugal, pela @factchecknet, decidiu ignorar. Porque será?
Entretanto outras entidades, que diariamente lutam contra a desinformação, não têm lugar neste rede porque o acesso está barrado logo à partida, independentemente se estão melhor equipadas técnica e humanamente para o fazer.
O selo de fact-checker faz-me lembrar o "COVID Safe", com a diferença de que o último não era pago. Trazer a atribuição desse selo para o nosso país, nos mesmos moldes, só pode dar asneira.

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9 Jun
Muito se fala sobre a radicalização do discurso, especialmente do discurso online. O caso do @padaoesilva é um caso de estudo interessante sobre este tema.
A estratégia, que não acredito que seja inocente, foi desenhada habilmente: Quem estiver contra a nomeação - e as benesses - que vão ser recebidas por @padaoesilva é anti-democrata, contra o 25 de abril, e contra o país.
É um discurso que já conhecemos e que, curiosamente, tem muitos pontos em comum com o discurso de Vieira. Aliás é curioso como Costa e Vieira, estrategicamente, são tão parecidos.
Read 13 tweets
8 Jun
Desejo o maior sucesso ao @padaoesilva, alguém com um trabalho reconhecido, até além fronteiras, na temática do 25 de Abril e da defesa da democracia, e que merece todo o nosso respeito pelo papel fundamental que teve durante e após a revolução dos cravos
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1 May
Isto foi o que aconteceu em #Odemira, desde que se implementou a matriz de risco. Como podem ver foram precisas 7 semanas (SETE!) para as entidades responsáveis aceitarem que existia um problema.
Este gráfico é o retrato factual de como as autoridades locais, regionais, e nacionais falharam em toda a linha. Que não sejam elas agora a resolver este problema - usando todos os meios próprios que têm - não é admissível.
Não é também admissível que os responsáveis da SS, SEF, ACT, e Saúde - que durante 7 semanas andaram a assobiar para o ar - ainda estejam em funções.
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29 Apr
O auto-elogio dos membros do governo, deputados do partido do governo e dos seus acólitos nas redes sociais, é uma tentativa de fazer esquecer um período muito grave do combate à pandemia no nosso país, resultado de decisões que foram, intrinsecamente, políticas.
Não bastando este o auto-elogio totalmente despropositado, decidiu-se chamar a todos os que estiveram, e estão ainda, na primeira linha do SNS "uma força adormecida", dando a entender que antes de Março de 2020 não havia esforço ou empenho.
Tudo isto me leva de volta ao "milagre português" do verão passado, onde quem adormeceu foram os responsáveis políticos que não aproveitaram o abrandamento da pandemia para preparar o que já se sabia que aí vinha.
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9 Apr
Andam por aí uns gráficos sobre a segurança da vacina da AZ vs outros factores de risco. Têm impacto, são altamente partilháveis, mas nos comentários existem sempre pontos demasiado válidos (e escrevo isto sem ironia) para não os replicar.
Criou-se um problema em Março, relativamente à vacina da AZ. Foram tomadas decisões políticas antes de pareceres científicos, foram revertidas decisões políticas face à evidência científica, e novamente tomadas decisões que levantam questões que têm que ser respondidas
Ainda há uma semana os OCS tratavam este tema com total irresponsabilidade ("Sete pessoas vacinadas com AstraZeneca morreram devido a coágulos no Reino Unido")
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8 Apr
Plano de vacinação ajustado para que menores de 60 anos não sejam vacinados com a AstraZeneca.
Intervalo de 3 meses (?) entre doses permite aguardar por mais dados. Vacinação no ensino (docentes/não docentes) adiada uma semana.
A pergunta que se deve colocar é: vamos adiar uma semana a vacinação de pessoal docente e não docente, mas vamos avançar com o plano de desconfinamento?
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