Muito se fala sobre a radicalização do discurso, especialmente do discurso online. O caso do @padaoesilva é um caso de estudo interessante sobre este tema.
A estratégia, que não acredito que seja inocente, foi desenhada habilmente: Quem estiver contra a nomeação - e as benesses - que vão ser recebidas por @padaoesilva é anti-democrata, contra o 25 de abril, e contra o país.
É um discurso que já conhecemos e que, curiosamente, tem muitos pontos em comum com o discurso de Vieira. Aliás é curioso como Costa e Vieira, estrategicamente, são tão parecidos.
Mas não vou escrever sobre isso, agora, porque isso levaria a uma thread muito longa sobre como jornalistas incómodos em certos OCS foram contratados para trabalhar em outros, para se tornarem em porta-vozes oficiosos do governo.
Voltando ao tema do @padaoesilva não ajudou à discussão objectiva do tema que muitos, por aqui, tenham lançado a ideia de que todos aqueles anos, e pagamento associado, fossem para preparar os eventos de um único dia.
Lançadas estas duas narrativas, que são tão opostas quanto são ambas falsas, o discurso radicalizou-se:
De um lado "És um facho!" e do outro "És um xuxalista!"
De um lado "É um dos melhores", do outro "Tanto dinheiro para um dia! VERGONHA!"
Pelo meio perdem-se as perguntas fundamentais:
- É @padaoesilva o mais competente para este lugar? Se sim, porquê? A que se propõe? Que proposta fez ao @govpt para que fosse nomeado? Podemos saber?
- É moralmente aceitável, no momento que estamos a atravessar económica e socialmente, que @padaoesilva vá ser remunerado, em regime de part-time, deste modo? Justifica-se? Como? Porquê? Alguém tem uma resposta que não seja "PORQUE SIM, FACHO!!!"
A comemoração da data não está em causa, a importância da data não está em causa. O que está em causa é o perfil de @padaoesilva para este lugar, o custo que vai ter para todos nós (quando não há dinheiro para cuidadores informais, por exemplo).
A comemoração da data não está em causa, a importância da data não está em causa. O que está em causa é se este governo anda tão à deriva que não tem o mínimo de bom senso para evitar estas clivagems que apenas servem para a radicalização
Como muitos já referiram, existem pelo menos 10 pessoas na nossa sociedade que, tenho a certeza, aceitariam de bom grado - e com orgulho - fazer este trabalho, e que não aceitariam ser remunerados por isso.
São pessoas que percebem a importância da data mas, acima de tudo, percebem em que momento estamos da nossa democracia e em que estado está o nosso país em termos económicos e sociais: não estamos menos bem, estamos mal, e este tipo de casos só servem para que a situação piore.
Tem-se falado muito de #factchecking nos últimos tempos. Tenho a impressão que muitos que falam sobre o tema não sabem como funciona este negócio. Esta thread tenta explicar como funciona, porque é que funciona como funciona, e porque é que é um modelo que não devia existir
Desejo o maior sucesso ao @padaoesilva, alguém com um trabalho reconhecido, até além fronteiras, na temática do 25 de Abril e da defesa da democracia, e que merece todo o nosso respeito pelo papel fundamental que teve durante e após a revolução dos cravos
Isto foi o que aconteceu em #Odemira, desde que se implementou a matriz de risco. Como podem ver foram precisas 7 semanas (SETE!) para as entidades responsáveis aceitarem que existia um problema.
Este gráfico é o retrato factual de como as autoridades locais, regionais, e nacionais falharam em toda a linha. Que não sejam elas agora a resolver este problema - usando todos os meios próprios que têm - não é admissível.
Não é também admissível que os responsáveis da SS, SEF, ACT, e Saúde - que durante 7 semanas andaram a assobiar para o ar - ainda estejam em funções.
O auto-elogio dos membros do governo, deputados do partido do governo e dos seus acólitos nas redes sociais, é uma tentativa de fazer esquecer um período muito grave do combate à pandemia no nosso país, resultado de decisões que foram, intrinsecamente, políticas.
Não bastando este o auto-elogio totalmente despropositado, decidiu-se chamar a todos os que estiveram, e estão ainda, na primeira linha do SNS "uma força adormecida", dando a entender que antes de Março de 2020 não havia esforço ou empenho.
Tudo isto me leva de volta ao "milagre português" do verão passado, onde quem adormeceu foram os responsáveis políticos que não aproveitaram o abrandamento da pandemia para preparar o que já se sabia que aí vinha.
Andam por aí uns gráficos sobre a segurança da vacina da AZ vs outros factores de risco. Têm impacto, são altamente partilháveis, mas nos comentários existem sempre pontos demasiado válidos (e escrevo isto sem ironia) para não os replicar.
Criou-se um problema em Março, relativamente à vacina da AZ. Foram tomadas decisões políticas antes de pareceres científicos, foram revertidas decisões políticas face à evidência científica, e novamente tomadas decisões que levantam questões que têm que ser respondidas
Ainda há uma semana os OCS tratavam este tema com total irresponsabilidade ("Sete pessoas vacinadas com AstraZeneca morreram devido a coágulos no Reino Unido")
Plano de vacinação ajustado para que menores de 60 anos não sejam vacinados com a AstraZeneca.
Intervalo de 3 meses (?) entre doses permite aguardar por mais dados. Vacinação no ensino (docentes/não docentes) adiada uma semana.
A pergunta que se deve colocar é: vamos adiar uma semana a vacinação de pessoal docente e não docente, mas vamos avançar com o plano de desconfinamento?