Em #Israel 🇮🇱, hoje, dez da manhã no horário de Brasília, Benjamin #Netanyahu será substituído como primeiro-ministro depois de doze anos ininterruptos, mais três de passagem anterior. O mais longevo PM da História país, e o primeiro nascido em Israel

Para entender melhor: (...)
(...) É importante ter algumas coisas em mente

Primeiro, Israel enfrentou quatro eleições em dois anos, sem conseguir formar uma coalizão de governo. São 120 assentos no parlamento, o Knesset, e uma coalizão precisava de ao menos 61 assentos

O maior partido é o Likud (...)
(...) de direita, partido liderado por Netanyahu, com 30 assentos. Para conseguir a maioria parlamentar, Netanyahu habitualmente costura alianças com os partidos da direita religiosa ultraortodoxa

Porém, parte da direita secular não quer formar uma coalizão com a (...)
(...) direita religiosa ultraortodoxa. Esse setor é liderado especialmente por Avigdor Lieberman, líder do Yisrael Beiteinu, com sete cadeiras. Além disso, parte dos partidos, de diferentes matizes políticas, não querem formar uma coalizão com Netanyahu, devido sua (...)
(...) longevidade no poder e, principalmente, seus julgamentos por corrupção. Considerando que o Likud possui 30 assentos, um quarto do parlamento não quer sentar com outro quarto do parlamento, diminuindo muito as opções

Daí chegamos na "bandeira" do novo governo (...)
(...) O governo que assume foi criado com basicamente um único propósito: tirar Netanyahu do poder

Com isso, uma das figuras mais importantes da política israelense dos últimos trinta anos perde seu foro privilegiado. E terá que responder aos processos por corrupção (...)
(...) e abuso de poder

Nesta foto, vemos três dos líderes do novo governo assinando o acordo de coalizão; Yair Lapid, do Yesh Atid, de centro, Naftali Bennett, do Yamina de direita, e Mansour Abbas, do Ra'am, a Lista Árabe Unida, os árabes religiosos (...)
(...) Fazendo uma analogia bem boba (bastante, me perdoem), mas é como William Bonner, Dória e Boulos formando uma frente ampla contra Bolsonaro

Lapid era apresentador de um dos principais telejornais israelenses, antes da política, além de ser escritor e "personalidade"(...)
(...) Juntam-se a eles Benny Gantz, do Azul e Branco de centro, Merav Michaeli, dos trabalhistas de esquerda, Avigdor Lieberman, do Yisrael Beiteinu de direita secular, Gideon Sa'ar, de uma dissidência do Likud, de direita, e Nitzan Horowitz, do Meretz, de esquerda (...)
(...) É como se, na analogia boba da frente ampla brasileira, entrassem Ciro, Haddad, Alckmin, Zema e Marcelo Freixo

Só para tirar Netanyahu do poder. E esse novo governo, talvez, dure pouco (...)
(...) Netanyahu provavelmente vai começar a perder seu poder de controlar seu próprio partido. Aí, possivelmente, teremos um novo governo em Israel, agora de direita. Lembre-se, o Likud ainda é o maior partido

Por outro lado, o acordo do novo governo é bem costurado (...)
(...) Na foto, vemos as lideranças partidárias jantando para fechar e celebrar a Frente Ampla anti-Netanyahu

Bennet, de direita, será o primeiro-ministro até até metade de 2023. Depois, troca com Lapid, que será ministro de Relações Exteriores (...)
(...) Gantz, ex-comandante das forças armadas israelenses, permanece na Defesa, o segundo cargo mais importante. Lieberman ficará com a economia, onde vai cortar o financiamento das pautas políticas dos grupos religiosos, aliados de Netanyahu e que aparelham o Estado (...)
(...) Continuando nossas analogias bobas com a política brasileira, seria a "bancada evangélica" e a Damares de lá

Teremos pautas ambientais, um compromisso no congelamento dos assentamentos e retomada de negociações com palestinos, etc

E Mansour Abbas, do Ra'am? (...)
(...) Ele aceitou fazer parte de um governo com inimigos ferrenhos de seu partido, como o próprio Bennet. Repito, Bennet é de direita, muito parecido com Netanyahu em vários pontos, e ocupou ministérios importantes nos últimos anos

O que explica isso? (...)
(...) Basicamente, políticas de melhoria da qualidade de vida dos palestinos em Israel e dos árabe-israelenses (muita gente trata essas duas populações como sinônimo, mas, do ponto de vista jurídico, não são)

Sem ele, não teria novo governo e não teria queda de Netanyahu(...)
(...) Repito, pode durar pouco esse novo governo, talvez não. O fato é que, hoje, provavelmente, teremos um evento histórico com a queda de Netanyahu, de quem vou falar mais no futuro, obviamente, além do tanto que já falei nos podcasts e nas minhas colunas no jornal (...)
(...) E ele sabe que joga por sua sobrevivência política. Fora do cargo, sem foro privilegiado, pode ficar muito complicado

Por isso, até o último momento, ele, que é raposa velha da política, vai tentar minar essa nova coalizão, apontando os dedos (...)
(...) Acusa Bennet de trair seu eleitorado ao se aliar com a esquerda e com os árabes. Acusa os outros partidos de serem fracos na segurança, colocando Israel em risco contra o Hamas. De fato, praticamente qualquer parlamentar dessa eventual coalizão de governo vai poder (...)
(...) ser rotulado como um “vendido” ou algo que o valha, por se sentar à mesa com quem “não deveria”

Ao ponto de Netanyahu apelar em um tweet agora pouco, o que motivou esse fio enorme

Aqui, ele diz ter recebido benção de um rabino(...)

(...) Mas não é um rabino qualquer na foto. É Menachem Schneerson, rabino da dinastia Lubavitch, um dos intelectuais judeus de maior repercussão no século XX, com um pequeno culto ortodoxo que acredita que ele, falecido em 1994, é o Messias. É comum ver cartazes dele (...)
(...) Netanyahu sabe tanto, mas tanto, que seu futuro político e seu legado histórico estão em jogo hoje, que está usando todas suas armas

Até apelar para quem alguns acham que foi enviado por Deus

Vamos esperar a votação, ouçam o Xadrez Verbal e higienizem as mãos, beijos
Ah, lembrando que, se você achou interessante, aprendeu algo, fez paralelos que achou úteis, enfim, se você sente que esse fio, de alguma maneira, te acrescentou, dê RT e comente

Ou então estes filhotes de urso polar vão ficar tristes. Você quer ser o motivo dessa tristeza?
Pessoal, gostaria de fazer duas erratas na thread, que teve uma boa repercussão, fico feliz

O @gabpac atentou para o fato de que não existe foro privilegiado em Israel como temos no Brasil, e eu escrevi de forma ambígua, o que dá a entender uma semelhança, primeiro erro(...)
(...) Então da onde tirei isso? Esse é o segundo erro. A situação de Netanyahu é inédita, um premiê ser acusado de crimes e se manter no cargo. Ocorreu um debate parlamentar sobre se ele teria imunidade processual ou não, como PM, e ele perdeu (timesofisrael.com/in-blow-to-net…)(...)
(...) Nos últimos dois anos, Netanyahu usou desse vácuo jurídico do ineditismo do seu caso para arrastar o julgamento, mas, formalmente, essa imunidade do cargo não existia e não foi aprovada

Ou seja, o debate fez parte da novela, mas não é factualmente correto. Peço desculpas

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