É que tem pergunta sobre frase da Chimamanda em camisa da Dior e na música da Beyoncé, mas não tem pergunta sobre os frequentes posicionamentos transfóbicos da autora.
Isso diz muito sobre como olhamos para as travestis. #RodaViva
Acredito, de fato, que quase todas as mulheres da bancada não sabiam desse olhar transfóbico da Chimamanda. São "pouquíssimas" as notícias sobre tal em veículos de grande circulação. Minha intenção não é desqualificar o debate de hoje, ele foi/é importante, mas de ampliá-lo.
No Brasil, mulheres negras cisgêneros estão abrindo muitos caminhos para mulheres trans e travestis negras. Talvez, por isso, estávamos esperando algo. E digo no sentido crítico, não de cobrança. Contudo, a entrevista foi gravada, e elas acabaram não vendo nossos questionamentos.
Concordo quando a Vera diz que a entrevista não se esgota naquele momento, e espero que possamos colocar mulheres trans e travestis no centro da roda e na bancada para pensar todas essas questões. E isso não é uma reclamação, são contribuições.
Boa noite, gente. Um xêro! 😊
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Vocês nem imaginam como tem sido um desespero para MUITAS nordestinas ter que entender que NÃO teremos São João.
Não imaginam.
Sem fogueira... sem milho cozido... sem quadrilhas juninas na rua... nenhuma amiga se arrumando para ir aproveitar o dia de Santo Antônio... tudo isso poderia tá acontecendo se já estivéssemos vacinadas, pense no ódio!
Dois anos sem São João, gente.... não tem nordestina que aguente! É babado.
Sim: comumente, Chimamanda é chamada de transfóbica por conta de alguns posicionamentos que escolheu ter.
Por muito tempo, questionamos o mito do sujeito universal. Quando Chimamanda falou sobre o processo de socialização das pessoas trans, falou como se fôssemos todas iguais.
Não somos iguais, e Chimamanda sabe disso. Nem mesmo os processos de socialização entre mulheres cisgêneros são iguais: raça, região, deficiência, classe social, religião.... São ALGUNS dos marcadores que, fundamentalmente, criam diferentes possibilidades de mulheridades.
Não costumo ver mulheres trans e travestis negando especificidades nas nossas construções ou nas construções sociais de mulheres cis. Existem diferenças, mas como pontuamos essas diferenças é importante para estabelecermos um pensamento crítico.
A diferença entre o termo “trans” e “travesti” não está APENAS na força da palavra.
Eu não conheço a moça que gravou o vídeo, mas existem diversos equívocos e vou apontar alguns deles.
1. Travestis não são mulheres trans que foram marginalizadas.
2. Ao afirmar isso no vídeo, ela desconsidera o processo histórico do movimento social organizado de travestis no Brasil.
Ainda que não tenha sido com essa intenção, acredito que é necessário entender que a identidade travesti tem história. Ela não surge do “nada”.
Desde 1979, o movimento social organizado de travestis materializa a necessidade de organização e mobilização para pensar políticas públicas no Brasil.
JK Rowling, mais conhecida como "autora de Harry Potter", é uma transfóbica assumida. Acabou de revelar que, em seu novo livro, terá um "homem que se veste de mulher para matar". Corroborando e reiterando um imaginário social de mulheres trans e travestis como criminosas.
O que essa mulher está fazendo é inadmissível! Usando o lugar de destaque e de grande repercussão que tem para criminalizar vidas trans/travestis. Sabe muito bem como operar com tecnologias e dispositivos que precarizam, mais ainda, identidades trans e travestis. Ela é perversa.
Não existe cancelamento de JK. O que ela está fazendo é criminoso. É um investimento no que Foucault chamaria de "biopolitica". Um processo de regulação do que se compreende enquanto travesti e pessoas trans. Ou melhor: uma projeção desses sujeitos como assassinos.
Ontem no Fantástico foi exibida uma reportagem sobre "travestis e prisões". Em uma das falas, umas das meninas diz que se sente "mais livre" para ser uma travesti dentro do presídio. É triste compreender que esse é o projeto trasnfóbico que o Brasil construiu para as travestis.
A prisão não é um lugar para viver. Nela existe um processo de precarização das vidas e identidades. A maioria das travestis que estão detidas, segundo a reportagem, estão lá por crime de roubo. Percebam: é um projeto contínuo do que o Foucault chamaria de "fazer morrer".
Ou seja: a produção de regulações sobre a população das travestis, no Brasil, perpassa por algumas instituições de poder. É como se "para ser uma travesti" fosse construída a necessidade de passar por uma instituição de sequestro como a prisão, por exemplo.