Percebo que há certo oba-oba de todo setor empresarial e de direita (os de extrema-direita não conseguem falar de coisa séria) sobre a tal "retomada da economia". Até economistas aparentemente do campo progressista estão ingressando nessa ladainha.
Gente que confunde crescimento econômico com desenvolvimento econômico (seria bom retornar às cartilhas que leram na faculdade) e são tão ingênuos que não entendem que se trata de disputa, no âmbito da política. Gente que se envolveu com as discussões de miocroeconomia
Com a taxa de desemprego beirando os 15% e consumo familiar (ver ICF) atingindo o menor nível desde novembro de 2020; com ritmo de vacinação projetando sua finalização somente em junho de 2023 (ver vacinômetro, da USP), chega a ser uma afronta ao bom senso bater bumbo
Para piorar, os fatalistas de plantão que perderam o eixo, estão divulgando em seus blogs artigos apressados (quando o senso comum dominou o pensamento aparentemente acadêmico no Brasil?) afirmando que a "pujança" econômica dominará o cenário de 2022. É a "Miséria da Teoria"
Pior: em abril, no acumulado do ano, enquanto as famílias de renda mais baixa, registravam uma taxa de inflação positiva de 0,45%, a faixa de renda mais alta apontava uma deflação de 0,45%
Segundo o IPEA, as famílias com faixa de renda entre 4 mil e 8 mil reais mensais tiveram taxa de inflação de 3,4% (janeiro a maio). Em seguida, vem a faixa de renda entre 2 mil e 4 mil (3,3% de inflação). Renda acima de 16 mil mensais registrou inflação de 3%.
O bate-bumbo para a tal "retomada do PIB" surte efeito. Pesquisa XP indica que há aumento dos que avaliam que a economia está indo para o rumo certo (de 23%, em março, para 29% em junho). Trata-se de disputa de narrativa sobre o Brasil e seu futuro.
Ainda segundo o IPEA, os mais pobres seguem sentindo a principal alta de preços: a parcela com renda muito baixa com registro de inflação de 8,91% nos últimos 12 meses (fechando em maio), com crescimento da inflação superior ao observado na faixa de renda alta (6,3%).
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Um breve fio sobre a necessidade de estarmos atentos ao % de brasileiros vacinados com a segunda dose (contra Covid), não com os vacinados apenas com a primeira dose. O governo está procurando nos confundir. Lá vai.
1) Vejam o slide que estou postando como ilustração desta nota que fiz para apresentar na minha análise de conjuntura de amanhã às 8h. Percebam como vínhamos tendo a 1a e 2a doses com ligeira diferença em abril.
2) Contudo, a partir de maio, o número de pessoas que tomou a 2a dose despencou, aumentando muito o número dos que tomaram a 1a dose
Prometi que faria um fio sobre o desastre que se abate sobre nossa estrutura econômica. Dificilmente conseguiremos recuperar nossa pujança econômica na próxima década. Então, vamos ao fio.
1) Os empresários brasileiros festejam um crescimento do PIB neste ano que gira ao redor de 3,5%. Com um desemprego ao redor de 15% e aumento significativo do poder aquisitivo e precarização das condições gerais de trabalho no Brasil.
2) Sabemos como nosso empresariado é superficial e é incapaz de pensar um projeto nacional. Pensa a partir de seu próprio umbigo. Em 1994 lançou as bases de uma ofensiva para desregulamentação dos direitos sociais sob o slogan da redução de custos de produção.
Ontem, na minha participação de toda terça na live do DCM, apareceu o incômodo que uma minoria" sente com leitura crítica sobre a esquerda. Vou me apoiar nos perrengues de ontem para propor uma leitura sobre os obstáculos para avançarmos numa proposta de Estado pela esquerda.
1) Temos algumas barreiras que dificultam a superação do nosso arcabouço institucional. Uma delas é a política como ascensão social: num país com tanta desigualdade social, ser eleito é uma possibilidade concreta de subir no degrau do seu status. Sem projeto coletivo
2) Tal lógica arrivista acaba por criar uma subcultura na prática política nacional: ser candidato é uma promessa de sucesso e pode destacar o candidato da selva de concreto que o leva ao anonimato. Acontece que essa lógica, além de egocêntrica, alimenta o conservadorismo
Fico perplexo com o rombo na formação política no campo progressista. Tudo é emocional e a leitura é sempre impressionista. É uma raridade encontrar alguma leitura sobre o jogo político. Quase sempre, é só leitura do acontecimento. O pós-modernismo causou estragos
Há, ainda, a lógica do mundo da internet que dissemina uma profusão de informações que inibe um olhar mais panorâmico do mundo. Quase sempre, ficamos atolados em notícias do momento. A estrutura mental passa a ser míope, focada nos pés.
O pós-modernismo se alastrou pelas universidades brasileiras e deram sentido às narrativas de cunho biográfico. Falar de si emparelhou os currículos pessoais ao de Getúlio Vargas, Lula ou Zumbi. Tudo ficou pasteurizado. Lideranças são substituídas por celebridades fugazes
Bom dia. Outro dia, retruquei uma postagem de alguém que dizia que não gostava de gente que tocava no seu corpo enquanto conversava. Como estou assustado com essa onda puritana que vem dos identitários ("não me toque, não me rele"), contestei. Mas, acho que fui superficial
1) O primeiro argumento que quero apresentar é o da "descorporificação" que a internet promove. Retomo aqui as teses do canadense Arthur Kroker em seu livro "Data Trash", de 1993. A tese central de Kroker é que a internet recalca o corpo e as relações sociais.
2) O humano se resumiria, para Kroker, aos "dedos agitados". O corpo fica paralisado, as relações sociais ficam suspensas pela decisão de continuar na tela ou mesmo de reduzir a atenção ao olhar em várias telas ao mesmo tempo. Ora, isso não é exatamente relação social
Bom dia. Postarei um fio sobre a agressividade desproporcional destilada nas redes sociais e que envolve agrupamentos políticos distintos. Os alvos nem sempre são os inimigos ou adversários, mas os que sugerem uma leitura crítica sobre a realidade e sobre as correntes políticas.
1) Não se trata de constatação estranha o fato das redes sociais acolherem ataques extremamente agressivos. Postagens amorais são frequentes revelando um total descontrole emocional.
2) Bolsonaristas são campeões dessa prática, mas outros agrupamentos políticos – mesmo aparentemente progressistas – têm seus cães de caça a postos para atacar os que não pensam como eles ou até os que sugerem uma reflexão mais crítica sobre seu próprio campo político.