Fala-se muito que a falta de chuvas pode levar o Brasil a um apagão no setor elétrico nos próximos meses
Mas a situação tem se agravado conforme destruímos nosso principal bioma responsável por absorver as águas das chuvas e soltá-la regularmente ao longo do ano, o CERRADO
Fio:
Nascem no Cerrado 8 das 12 bacias hidrográficas do Brasil, entre as quais a do Paraná, central para a produção hidrelétrica no país
Diferentemente do que muitos imaginam, 80% água desses rios tem origem subterrânea. Mas a destruição do Cerrado golpeia o funcionamento do sistema
Há milhões de anos, as plantas do Cerrado desenvolveram raízes profundas e ramificadas para sobreviver no bioma. Quando chove, essas raízes encharcam e permitem a chegada da água até lençóis freáticos e aquíferos
São esses depósitos que alimentam o fluxo dos rios mesmo na seca
Quando o Cerrado é substituído por lavouras, tudo muda. As plantas novas têm raízes superficiais e não conseguem conservar tanta umidade no solo
Boa parte da água das chuvas então evapora ou escorre para os rios quando sua vazão já está alta
Em pesquisa recente, o geógrafo Yuri Salmona, da UnB, notou que nos últimos anos houve uma redução na vazão dos rios mesmo em áreas do Cerrado onde os padrões de chuva mantiveram os padrões históricos
Qual a explicação? A alteração no uso do solo
A imagem do MapBiomas mostra o desmatamento na bacia do Paraná. De 1985 a 2020, 2 milhões de hectares de vegetação nativa foram derrubados - área 127 vezes maior que Belo Horizonte
Resta na bacia só 22,4% da vegetação original
O desmatamento sozinho já muda o fluxo dos rios, mas o impacto é ainda maior quando há implantação de lavouras irrigadas
É o caso de Cristalina (GO), cortada por 256 rios e riachos que desembocam no Paraná. Entre 1985 e 2020, o Cerrado perdeu 1/3 de sua extensão na microbacia
A irrigação é responsável por 89,5% do consumo de água naquela microbacia (Alto Paranaíba 3), enquanto o abastecimento público responde por 2,9%
Até 2040, espera-se um crescimento de 76% na área irrigada no Brasil. Boa parte desse avanço ocorrerá justamente na bacia do Paraná
Há estudos que associam a redução de chuvas no Cerrado à destruição da Amazônia e às mudanças climáticas. A oferta de água no futuro é incerta. De tempos em tempos, a La Niña também entra em cena e piora tudo
Dito isso, encerro com uma reflexão do geógrafo Yuri Salmona (UnB):
"Se esses fenômenos existem, e existem, como podemos mitigá-los?
Será que é irrigando mais, desmatando nascentes? Ou será que é tendo um plano de gestão da bacia em que se determina o quanto de água pode ser usado, se mede se a pessoa está usando e se protegem as cabeceiras?"
Todas as informações deste fio estão nesta reportagem
Em 1997, membros do Greenpeace foram presos ao protestar em Santarém, mesma cidade onde ambientalistas foram detidos na 3ª
Ao cobrir aquele episódio, a Folha ouviu o dono de uma madeireira crítico à ONG. Chamava-se Alexandre Rizzo, O MESMO NOME do juiz que prendeu os brigadistas
Há dois dias questiono o juiz Alexandre Rizzo se ele é ou tem parentesco com o madeireiro citado na reportagem de 97. Um assessor me disse que lhe repassou o questionamento, mas ele não quis responder. A madeireira deixou de operar há vários anos
Cito essa historinha nesta matéria sobre as disputas que há décadas opõem poderosas famílias de Santarém a ONGs e ambientalistas. A briga aumentou nos últimos anos conforme o turismo cresceu na região, impulsionado por visitantes de SP bbc.com/portuguese/bra…
Já pensou se você acordasse e topasse com um enxame inteiro de abelhas dentro da sala? Foi o que aconteceu comigo ontem. Em São Paulo. Num apartamento. NO DÉCIMO TERCEIRO ANDAR.
Segue o FIO
Estou passando alguns dias na casa da minha mãe enquanto me preparo para mudar de casa. Anteontem resolvi fechar uma das caixas de abelha que eu crio em casa e levá-la para a minha mãe. São mandaçaias, abelhas nativas sem ferrão
As mandaçaias são adoráveis. Passam o dia trabalhando e nunca atacam. Ficam no quintal dos fundos. Deixam a cidade menos hostil, polinizando plantas que produzem frutos para nós e os passarinhos. Também cuido de uma colônia de jataís, igualmente admiráveis (outro dia falo delas)
O governo Bolsonaro tem insistido no discurso que o levante indígena no Equador é arquitetado pelo Foro de São Paulo, que teria perdido espaço no país com a saída do presidente Rafael Correa. Mas esse raciocínio ignora três informações essenciais:
1 - O atual presidente do Equador, Lenín Moreno, pertence ao Movimiento Alianza País - partido que, vejam só, é PARTE do Foro de São Paulo
2 - Principal organização por trás dos protestos, a Confederación de Nacionalidades Indígenas de Ecuador (Conaie) é inimiga política de Correa e não quer que ele volte ao poder. Vejam a chapuletada que os indígenas deram no ex-presidente por ele tentar surfar nos protestos
Escrevi sobre a ofensiva evangélica (e a contra-ofensiva católica) para dominar os Conselhos Tutelares, órgãos estratégicos para o avanço da agenda moral e religiosa dentro do Estado bbc.com/portuguese/bra…
Todos os municípios terão eleição para Conselho Tutelar no domingo. Como o voto é facultativo, grupos capazes de mobilizar eleitores saem na frente. Dezenas de igrejas evangélicas estão engajadas. A Universal convocou fiéis a votar em candidatos que "tenham compromisso com Deus"
Um dos maiores objetivos das igrejas é controlar o que escolas ensinam sobre gênero e sexualidade. Uma busca que fiz no Facebook revelou dezenas de candidatos, de todas as regiões do país, que se apresentam como pastores. Alguns citam passagens bíblicas no material de campanha
Garimpeiros ilegais irritados com operações do Ibama no Pará bloquearam a BR-163. Resultado? Foram recebidos em Brasília pelos ministros da Casa Civil, Meio Ambiente, Secretaria de Governo, Sec Geral da Presidência, Gabinete de Seg Institucional e AGU casacivil.gov.br/central-de-con…
O ministro da Casa Civil prometeu apresentar "soluções para a regularização fundiária e a exploração mineral em terras indígenas". Vários rios amazônicos já foram destruídos pelo garimpo - caso do Fresco, na terra Kayapó. Abaixo o avanço da atividade entre janeiro e julho de 2019
Os garimpeiros voltarão à Casa Civil em outubro. Não foi o primeiro afago do governo a grupos diretamente ligados ao desmatamento. Em julho, o ministro do Meio Ambiente visitou madeireiros em Rondônia após um caminhão do Ibama ser incendiado numa operação www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/…
Conto uma história sobre o que militares chamam de "estranha coincidência" entre algumas terras indígenas e reservas minerais na Amazônia. Não é bem coincidência, mas poucos conhecem o papel de um poderoso ex-ministro da ditadura e de geólogos nacionalistas nesse arranjo. Segue:
A antropóloga Manuela Carneiro da Cunha acompanhou na Constituinte (87) a negociação do capítulo sobre direitos indígenas. Até então o Estado tinha a perspectiva de que os índios se misturariam com outros brasileiros, logo, não precisavam de muita terra. A Constituição mudou tudo
Ao reconhecer os direitos dos indígenas à reprodução física e cultural, a Carta abriu o caminho para a demarcação de terras extensas. Mas grandes mineradoras pressionavam para impedir que terras fossem demarcadas em cima de reservas minerais. Eis que dois 'milagres' operaram