Sim, é mais uma thread com uma pegada mais reflexiva, pois ultimamente tenho visto muito do discurso de “se você se sente "confortável" com X rótulo, use-o (pelo seu conforto)”, e isso tem me aborrecido bastante.
Para começarmos a pensar o que são rótulos e a seriedade deles, precisamos saber como, o que é e porquê nos rotulamos. Então vamos lá!
Antes de mais nada, um aviso: a thread será dividida em dois tópicos:
1— Por quê usamos rótulos?
2— Por quê a criação de rótulos alternativos?
Primeiro, devemos entender uma coisa: nenhuma categoria sexual/romântica LGBTI+ nasceu com o mesmo significado que têm hoje, atualmente. Isso significa que homosseuxal, por exemplo, não nasceu como sendo uma identidade de pessoas que amam outras pessoas do mesmo gênero.
Como exemplo, a homossexualidade, em seu significado primário, significava algo de cunho psicopatológico que colocava pessoas demarcadas como homossexuais numa posição de doentes, mentalmente perturbados etc. +
Assim, todo mundo que se relacionavam com pessoas do mesmo sexo/gênero, era vista como homossexual (= doente). Passava por procedimentos médicos de "readequação psicossexual" etc.
Com isso, mais ou menos a partir dos anos 70, pessoas vistas como homossexuais começaram suas campanhas, marchas e suas revoltas, assim começando a usar o termo "Gay", que significa(va) algo próxima de "alegre, sorridente", +
usado (também) para falar sobre o jeito de alguns homens gays afeminados, com o intuito fundamentalmente político de se posicionar socialmente para consquista de suas reivindicações.
Assim como gays, que ressignificaram termos que foram utilizados inicialmente para categorizá-los como doentes, oprimi-los e, consequentemente, marginalizá-los, lésbicas, bissexuais +
e transgêneros utilizaram de palavras que foram criadas com o intuito de uma segregação e eliminação as ressignificando e as usando como termos político-sociais.
Com isso, fica claro que nossos termos de reivindicações são de cunho político, além de autoidentificatórios. Homossexual e Monodissidente são categorias analíticas de fatos sociais políticos. Gay, lésbica, bissexual e transgênero são termos de cunho político-sociais. +
Nos chamamos assim porque fomos categorizados assim socialmente por um projeto de demarcação de corpos que importam e corpos que não importam, e reivindicamos tais termos para falar "também importamos!"; "também merecemos dignidade, direito de viver, de nos reafirmar como somos!"
Os rótulos, nessa sociedade, carregam inerentemente estigmas. Estigmas esses que afetam diretamente e materialmente nossas vidas. Os rótulos foram impostos à homossexuais, do mesmo modo para bissexuais e transgêneros.
É uma política de segregação social, onde quem é desviante da cisheteronormatividade é demarcado e sofre as consequências. Reivindicamos esses rótulos para lutarmos e derrubarmos essa lógica engendrada nessa socidade cis, hétero e patriarcal.
Está longe de ser confortável ou esteticamente agradável ter rótulos, uma vez em que eles não foram produzidos para suprir tais "necessidades"/inquietudes puramente individuais.
Usamos rótulos, antes de tudo, não porque os achamos lindos, esteticamente agradáveis ou reconfortantes, mas sim porque existe uma necessidade no embate político da comunidade LGBTI+ de tomar e +
ressignificar os termos impostos à nós para construção de políticas de sobrevivência, respeito, acessibilidade e conscientização de nossas vidas, demandas e pautas.
Kravitz M. Em "Reivindicando Bissexual" nos explica:
2— Por quê a criação de rótulos alternativos?
Vejo essa questão como muito delicada. Veja, não estou dizendo que rótulos alternativos sejam inerentemente prejudiciais ou coisas do tipo, para a comunidade LGBTI+ e seu compromisso e agenda política. Porém, pensemos...
Rótulos cuja nascença se dá em páginas/blogs e que servem apenas como mais um rótulo para algo ultra-individual me parecem bem suspeitos. Não devemos esquecer qual a necessidade da comunidade LGBTI+ existir. Ela não existe para o conforto. Dizer do contrário seria sem sentido.
Obviamente, a partir do momento em que você se encontra, se aceita e é aceitade em uma comunidade, você se sente confortável, claro. Esse não é o meu ponto. A questão é: rótulos alternativos sem necessidade prática e política são realmente necessários? +
E a resposta é: podem suprir alguma inquietude individual, mas no plano comunitário e da articulação política da comunidade LGBTI+, não têm uma real necessidade de existirem.
Isso porque esses rótulos não se pretendem como políticos, nem como rótulos de reivindicações de políticas de cuidado à vida e manutenção da nossa comunidade, coisa que nada na contra-corrente dos "princípios" da mesma.
O artigo "Bissexualidade, bifobia e monossexismo: problematizando enquadramentos" nos explica:
Perceba como o artigo fala em "dogmatismo identitário", que produz alianças (quase que) exclusivamente narcísicas. Uma interpretação disso seria que o dogmatismo identitário, esse que só se preocupa com empresas fazendo campanha no pride month, mas também esse que só se importa +
com (criação de novos) rótulos acaba produzindo alianças exclusivamente narcísicas, isto é, que se esgota no campo puramente identitário, sem articulação e compromisso de embate político algum.
A conclusão dessa nossa reflexão é: nossos rótulos não são brincadeiras.
A comunidade LGBTI+ está lutando por um mundo em que não haja necessidade de apontar, demarcar etc., O diferente, ou por uma sociedade onde esse projeto político de segregação seja normalizado?
Nossas experiências não deveriam precisar de rótulos. Não deveríamos ter rótulos só porque somos diferentes disso visto como "o padrão"/"natural", +
mas esses termos foram empurrados à nós e nossa tarefa não é reforçá-los ou produzir ainda mais rótulos sem necessidade e que não ajuda em nada na comunidade.
Isso não é um ataque à ninguém, mas se você se rotula com base no que te cai bem ou no que "te conforta", peço que os reveja. Aí estariam divididas duas esferas: a ultra-individual e a da comunidade LGBTI+. Na sua esfera ultra-individual, você se rotula como bem entender, sabe?!
Mas temos que entender que nossa comunidade não é "terra sem lei". Não é como se não tivéssemos um objetivo.
Nossos rótulos simplismente não existem para conforto porque 1) sequer fomos nós que decidimos num belo dia nos rotularmos como diferentes dos "normais" (héteros cis). +
2) você acha mesmo que encontramos conforto em nos rotularmos (como sendo não-héteros)?
Não existe conforto em ser LGBTI+. Ninguém se diz LGBTI+ porque está confortável com um rótulo que lhe foi imposto para segregação social. +
Buscamos orgulho, mas definitivamente não é confortável levar uma vida como sendo LGBTI+ em nossa sociedade.
Nossa comundiade é uma comunidade política, e não de pessoas que vivem de se rotular de um milhão de coisas. Jamais se esqueça disso.
Os rótulos são uma ferramenta que reutilizamos para marcar presença e resistência diante dos que nos querem mortos.
É pra/por isso que a comundiade tem rótulos. Não é algo que existe apenas numa esfera subjetiva onde você escolhe os rótulos que "mais te caem bem".
Isso é romper com as políticas progressistas LGBTI+ e se esgotar em puro identitarismo (com um viés mais liberal), onde não existe projeto e compromisso de superação da segregação do diferente, mas sim o reforçamento (mesmo que inconsciente) disso.
Esse assunto sempre é muito levantado dentro da comunidade e o que mais vemos, infelizmente, é oposição à comunidade bissexual porque de alguma forma muitos nos veem como menos bem-vindos que eles. +
Ver esse tipo de comentário realmente nos coloca a pensar e duvidar da nosso papel dentro de tudo isso, já que nenhum dos lados (dentro e fora da comunidade) somos vistos como suficiente, carregamos uma falsa culpa que tentam colocar nas nossas costas.
Uma coisa que é importante lembrar que a nossa sigla LGBTA+ é uma sigla só por um motivo, quem está incluído nela já foi e ainda é atacado por assumir uma identidade que vai contra o tradicionalismo, que é vista como uma ameaça.
Perguntas sobre bissexualidade para bissexuais respondem! — Thread para entreter e refletir.
⚠️ AVISO! Caso alguma pergunta lhe remeta a algum trauma/gatilho/situação desagradável, não se sinta na obrigação de responder, priorize seu bem-estar!
Deixando um pouco de lado os tweets mais superficiais sobre o dia da visibilidade bissexual, gostaríamos de chamar a atenção de vocês para o real significado dessa data. #BiVisibilityDay#VisibilidadeBi
De modo algum os posts superficiais perdem a sua importância, afinal esse é um dia para fazermos barulho e poder gritar para todo mundo ouvir “nós existimos!!” e é o que eles fazem. Mas o que queremos dizer é que, além de celebração, não podemos esquecer o motivo +
da existência dessa data: ganharmos visibilidade. Essa visibilidade que nos referimos não é a visibilidade que viemos recebendo ao longo dos anos; apesar de muita gente estar se educando sobre a nossa comunidade elas não são maioria, +
E então chegou o tão aguardado Dia da Visibilidade Bissexual! Sem o ativismo de figuras como Wendy Curry, Gigi Raven e Michael Page, tal dia não teria sido demarcado como o dia de especialmente gritarmos aos 7 ventos dizendo: Nós existimos!
Data que se inicia por nossos ativistas em fim dos anos 90 a fim de criar uma consolidada Visibilidade Bissexual nos espaços gays e lésbicos e até mesmo héteros.
Inicialmente com um aspectos mais ativistas e com presença bissexual extremamente forte, atualmente “ele agora +
+ presencia eventos como discussões, festas de jantar e danças em Toronto e um grande baile de máscaras em Queensland, Austrália.”
No Brasil, a primeira manifestação foi feita em 2021, na cidade de Porto Alegre que oficializou 23 de setembro +
Bom dia gente! estamos um pouco inativos por conta da correria do dia-a-dia, trabalho, aula, família, etc. Já que não produzi nenhum conteúdo pra agora gostaria de recomendar uns vídeos que assisti no decorrer desse mês. Pra quem tem interesse em cinema vale a pena assistir
A representação bissexual na mídia é quase nula (isso quando há). A retratação de pessoas bissexuais na mídia não costuma expôr a bissexualidade como identidade que abarca tais práticas. Embora hajam filmes/séries que representem a bissexualidade em algum grau, (+)
não existe uma explicita exposição da bissexualidade como algo consistente e existente. Malmente é dito a palavra "bissexual" nesses filmes. Loraine Hutchins, ativista bissexual e feminista, falou algo parecido num artigo chamado "Bisexuality in the Media:
A Digital Roundtable".
Representação é algo importante que pode fazer parte da construção/identificação de muita gente que está em fase de auto-descoberta, mas infelizmente esse processo é mais difícil para pessoas LGBTI+ (aqui falo especialmente para bissexuais).