Não bastasse a enganação do "tratamento precoce" para a COVID-19, agora temos mais uma novidade.
Devido aos relatos raros de trombose pós vacina, muitos médicos têm abusado e prescrito "terapias profiláticas" com anti-plaquetários e anticoagulantes.
Será isso correto? Segue o 🧶
Tudo começou após relatos de trombose pós-vacina, especialmente a ChAdOx1, conhecida como a da AstraZeneca, um tipo de vacina por vetor viral não replicante (ou seja, um agente inofensivo). 🦠💉
Já fiz um apanhado desse tipo de trombose aqui.👇🏻
Em primeiro lugar, trata-se de um evento raríssimo de formação de coágulos no cérebro, intestino ou membros, principalmente em menores de 60 anos. É estimada uma incidência em torno de 1:100.000 doses aplicadas em > 50 anos e 1:50.000 entre 18 e 49 anos.
Mas como o sangue normalmente flui? Nós temos um balanço suave e instável entre fatores que evitam e outros que provocam a coagulação. ⚖️
É com se fosse uma briga constante sem nenhum vencedor.
Mas, quando um lado ganha... temos tromboses ou sangramentos.
O sistema de coagulação é muito complexo, envolvendo as plaquetas, proteínas, e enzimas mais diversas possíveis.
Fármacos foram produzidos para amplificar a ação de um ou outro braço do sistema, como inibidores plaquetários, anticoagulantes, fibrinolíticos e pró-coagulantes.
A trombocitopenia trombótica induzida por vacina (sigla VITT) é autoimune (o próprio corpo produz agentes contra si próprio), e semelhante a um evento que ocorre após a administração de heparina, quando chamamos de Trombocitopenia Induzida por Heparina (HIT).
Bem resumidamente, o organismo produz anticorpos contra uma proteína chamada PF4, presente nas plaquetas, que são ativadas e acabam se aglutinando de forma maciça nos vasos sanguíneos. Com isso, a taxa de plaquetas no sangue também cai (plaquetopenia).
Então, se “afinarmos” o sangue com inibidores de plaquetas, como o ácido acetilsalicílico ou clopidogrel, teremos proteção aumentada contra a trombose?
Não!
Além de ser uma trombose extremamente rara, o uso de aspirina inibindo a função de plaquetas pode causar uma disfunção ainda maior se houver indução de uma aglutinação mediada por imunocomplexo, como é o caso da VITT.
Por outro lado, há uma hipótese de que o uso da aspirina pode sim diminuir a probabilidade desse evento, mas ainda estamos no campo experimental e de suposições. Tudo longe da observação clínica.
Uma outra classe de fármacos são os anticoagulantes. Diferente dos antiplaquetários, eles atuam de forma mais intensa no sistema de coagulação, deixando o mesmo “mais fino” ainda. Vale a pena usar esse tipo de medicamento?
Aí é que não mesmo!
A via dos anticoagulantes de uso comercial (rivaroxabana, enoxaparina, apixabana, etc.) não atuam diretamente na inibição das plaquetas, mas em outra etapa da coagulação. Usá-los não possui nenhuma base fisiológica plausível para impedir a aglutinação de plaquetas e trombose.
Inclusive, na Trombocitopenia Induzida por Heparina, que cursa com trombose e plaquetopenia de forma muito semelhante, o tratamento é justamente parar imediatamente o uso de heparina e usar vias alternativas (no Brasil, o fondaparinux).
Para quem usa os novos anticoagulantes orais (Xarelto, Eliquis, Pradaxa ou Lixiana), deve-se aguardar 4 a 6 h após a tomada para aplicação intramuscular da vacina, para reduzir o risco de hematoma intramuscular. Se toma varfarina, manter o INR < 4 pelo menos.
Além disso, não há nenhuma evidência de risco aumentado de complicação após vacina em pacientes com história de trombose. 👍🏻
Não há nenhuma restrição de vacinação para pessoas que já tiveram trombose ou fazem uso de anticoagulantes. 👍🏻
Para quem está com a saúde 🆗, as únicas restrições para vacinação são:
☑️ Hipersensibilidade ao princípio ativo ou a qualquer dos excipientes da vacina;
☑️ Para aquelas pessoas que já apresentaram uma reação anafilática confirmada a uma dose anterior de uma vacina COVID-19.
Finalmente, fica o esclarecimento:
☑️ Não tome AAS ou qualquer anticoagulante antes, durante ou após a aplicação de vacina com o intuito de prevenir trombose.
☑️ Se você já os usa, tome a vacina sem problemas.
Esse é um dos motivos pelos quais sou contra essa disseminação de preprints. Em especial sobre COVID.
Pesquisadores da Cleveland Clinic publicaram o seguinte trabalho na plataforma medRxiv ⬇️⬇️
Compararam a taxa de novas infecções em funcionários imunizados com a reinfecção de funcionários que já haviam contraído doença, durante 5 meses. Estudo retrospectivo com muitas limitações. Os autores concluem que pessoas que já adoeceram não se beneficiariam da vacinação. ☹️🤔
As limitações são muitas e até que bem descritas pelos autores. A intenção é dizer que seria melhor priorizar vacinação em grupos ainda não infectados, em face à escassez de vacinas.
Várias dúvidas ainda surgem em relação ao risco de trombose após a aplicação de vacinas contra a COVID-19 e muitos pacientes têm sido impedidos de serem vacinados.
Vai uma atualização 🧶
Há relatos raríssimos de tromboses venosas incomuns, como dentro do cérebro (veia sagital), do abdome (veias esplênica e porta), e até embolia pulmonar, em especial após a vacina da Astra Zeneca (ChAdOx1 nCoV-19), mas há casos relatados após vacina da Janssen.
O evento é conhecido como trombocitopenia trombótica induzida por vacina (TTIV), uma reação em que organismo produz anticorpos contra as plaquetas (parte do sangue que atua na coagulação).
O depoimento da Dra Mayra ontem na CPI me fez pensar como é que pode um ministério basear suas ações e elaboração de um aplicativo em UMA publicação científica.
A qualidade da revista pode falar um pouco de seus artigos.1/
A Cureus é uma revista Open Access, disponibilizando o conteúdo de forma gratuita. Porém, é um negócio e precisa gerar lucro💰. Para isso, cobra dos autores valores diversos dependendo de como o artigo será revisado e publicado. Até aqui, tudo normal. Não existe almoço grátis.2/
O fluxo editorial, desde a submissão online de um manuscrito, requer algumas etapas essenciais. Na admissão, verifica-se se os documentos estão 🆗 e se o conteúdo segue as diretrizes da revista. Depois, o texto é enviado para pares (outros cientistas) para revisão. 3/
Preprint sobre o uso de ivermectina pra profilaxia pré exposição em profissionais da saúde na República Dominicana. Trata-se de um acompanhamento retrospectivo de pessoas que voluntariamente tomaram (0,2 mg/kg/semana) ou não a medicação. Segue...
O estudo carrega consigo uma enorme quantidade de vieses de seleção. Os pacientes foram recrutados por somente 1 mês, o que levou a um n pequeno. Também não há estimativa de amostra pra se chegar à uma conclusão do desfecho primário.
O uso de PCR+ como desfecho primário não é clinicamente relevante. Não foi explicado se os indivíduos testaram de rotina ou se só tivessem sintomas. Os desfechos de doença clínica e morte foram secundários.
Testagem na pré-exposição, devido a baixa incidência requer um n alto.