Aconteceu há mais de um ano. Eu andava dormindo mal. Peguei uma gripe e adormeci no final da tarde, na cama do João, que ainda estava na escola.
Caí em um sono desorganizado e agitado. Em um certo momento, senti o toque de um lençol caindo sobre mim. Alguém me cobre, ajeita meu travesseiro. Eu resisto a despertar. Deve ser a Josefa, que trabalha conosco. Estranho. Ela nunca fez isso.
Voltei pro meu sono.
Quando acordei, saí pela casa, corpo ainda doído da gripe. “João chegou”, Josefa me diz na cozinha. “Está na sala, viu o senhor dormindo e não quis incomodar”.
Na sala, João assiste TV mastigando alguma coisa.
“Filho”, eu pergunto, “foi você que me cobriu?”
“Foi pai”, diz ele. Me cobriu com um lençol, ajeitou meu travesseiro, fechou a janela e ligou o ventilador, e saiu.
Quando eu era criança, dividia o quarto com meu irmão Danilo. Toda noite, antes de deitar, meu pai entrava no quarto para ver se estava tudo bem, ajeitar nossas cobertas e dar a benção.
João é meu primogênito muito amado. Quando ele era pequeno, sua mãe fazia “enrola-enroladinho” nele, ajeitando as cobertas bem justas ao redor do seu corpo. Ele adorava.
Décadas depois, quando meu pai ficou muito doente do câncer que iria matá-lo, foi minha vez de cuidar dele e ajeitar suas cobertas no hospital.
Naquele dia da minha gripe, há um ano e pouco, foi o João que me cobriu.
E nesse gesto está quase tudo o que eu queria, um dia, dessa vida.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Um dos fenômenos mais impressionantes dos últimos anos são as pessoas públicas que mudaram 100% suas posições e convicções políticas - para pior.
É gente que subiu comigo em carros de som nas manifestações anti-PT, que angariou seguidores defendendo a liberdade, e hoje anda de mãos dadas com o que há de mais atrasado na extrema-esquerda.
A pergunta é: por que?
Não pode ser por desconhecimento, ingenuidade ou desinformação.
Eu não reivindico o monopólio da verdade nem da virtude (isso é coisa da esquerda), mas é IMPOSSÍVEL aceitar tamanha maleabilidade moral.
Voltamos da praia e Maria quer colo. Não está cansada. Só quer colo. Maria está grande, eu a ajeito de um lado, as cadeiras de praia do outro. A tardinha cai no Rio de Janeiro.
“Papai”, Maria me chama, quando chegamos na esquina: “Olha só que engraçado”.
Eu presto atenção. Ela me explica:
“A boneca está no meu colo, eu estou no seu colo”.
Ela abre o sorriso: “e você está no colo do chão !”
“Todo mundo está no colo do chão. todas as pessoas, em todos os lugares”.
É verdade minha pequena, estamos todos no colo do chão, no colo da Terra.
Eu olho ao redor as pessoas indo e voltando da praia, turistas, moradores, ambulantes. As ondas quebram na praia levantando espuma. Surfistas passam distraídos, roupas de borracha, pranchas do lado, em paz
Foram criadas no Rio restrições à exploração econômica do solo e ao desenvolvimento imobiliário em nome da proteção ambiental. Um exemplo é a legislação que diz que acima da cota 60 nada pode ser construído.
Mas já sabemos que não se mede uma política pública pelas intenções, mas pelos resultados.
O resultado dessas restrições é que, acima da cota 60, apenas favelas são construídas.
A devastação ambiental no Rio é inacreditável. Vejam o que está acontecendo com a floresta de São Conrado.
A mesma coisa vale para as margens das lagoas. As “margens lagunares de preservação” viraram todas favelas.
As restrições só valem para quem constrói legalmente.
Eu fui o outro criador do Novo. A maioria das pessoas nunca ouviu falar de mim porque fui “cancelado” da história oficial ao discordar da transformação do partido em uma “empresa” com funcionários e dono.
Não se enganem:
O espírito original do Novo nada tem a ver com essa histeria oportunista ou androginia ideológica.
O partido deveria der celeiro de líderes, e não escola de subserviência.
É inconcebível alinhamento com a esquerda ou com políticos populistas e patrimonialistas.
A maioria dos “dirigentes” tem tanto entendimento e experiência com politica quanto um imitador de foca tem com assuntos militares.
A natureza do equívoco intelectual e moral é o mesmo.
São funcionários, cumprindo ordens. Mas ordens de quem?
Vou contar agora a história do livro que produziu analfabetos.
É inacreditável, mas é verdade.
É uma história importante nesse momento em que se debate, mais uma vez, a direção que o país vai tomar.
Aconteceu aqui mesmo no Brasil.
Foi assim:
Em 2011 o Ministério da Educação e Cultura aprovou o livro didático "Por Uma Vida Melhor" para o ensino da língua portuguesa nas escolas públicas.
O livro continha a frase: "Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado", com a explicação: "Na variedade popular, basta que a palavra 'os' esteja no plural".
Veja a orientação que os autores do livro dão aos alunos (página 15):
"Sou de esquerda", muita gente diz, "porque acredito em uma vida melhor para todos". É uma posição sincera, mas cabe uma explicação: o pensamento político de esquerda é bem definido. Se você é de esquerda, você tem que ser socialista ou comunista.
Socialistas acreditam na estatização dos meios de produção. Tudo – fábricas, lojas, pizzarias, hospitais, supermercados – deve pertencer ao Estado.
Comunistas acreditam na ditadura do proletariado.
No comunismo todos os bens são propriedade coletiva.
Tudo pertence a todos e nada pertence a ninguém.
Nos dois regimes só existe um partido ao qual devemos obediência cega.
Nesse ponto me interrompem: "Mas eu não sou socialista nem comunista. Eu sou de esquerda porque desejo uma vida melhor para os menos favorecidos".