Em 2016, modéstia à parte, tive razão, até mais do que gostaria, dos custos que o golpe -- sim, golpe -- teria sobre a classe trabalhadora brasileira, principalmente sobre os mais pobres. Não haveria outro motivo para isso, não fosse uma austeridade gigantesca (1/10).
Dilma errou em transigir com a política de austeridade, em parte, mas ela jamais chegaria até aqui. Dilma sabia, a direita sabia. Mas como eu observava ali, a Nova Direita tinha um belo plano para o golpe e depois para ocupar e se manter no poder, mas não por muito tempo (2/10).
Uma coisa é tomar o poder, outra é governar. Com todos os méritos estratégicos de terem chegado com Temer lá e, depois, produzido Bolsonaro para manter tudo como seguia, eles nunca tiveram um plano, digamos Thatcheriano (3/10).
O pulo do gato de Thatcher era ter um plano claro para desindustrializar e financeirizar a economia britânica, de uma forma que conseguia engambelar a classe trabalhadora, oferecendo crédito no lugar de salários. (economicshelp.org/blog/135320/ec…) (4/10)
Ao contrário do que parte dos ricos e, principalmente, a classe média imaginava, nem Temer nem Bolsonaro tinham planos ou meios para essa "contrapartida" -- sobretudo pelo fato do Brasil ser uma economia periférica (5/10).
De 2000 para cá, Lula foi o único a ser capaz de estabelecer um plano e executa-lo. FHC até conseguiu, mas passada a fase de uma estabilização inflacionária ancorada em austeridade, não tinha mais ideia do que fazer (6/10).
Lula transformou a diminuição da desigualdade abissal no nosso grande negócio, junto com uma política de exportação ambiciosa. A demanda reprimida das classes exploradas, uma vez resolvida serviria para impulsionar a economia (7/10).
Isso funcionou bem na década de 2000, mas se perdeu nos anos 2010 em Dilma, que gastou muito dinheiro com os "campeões nacionais", que não devolviam em termos de ganho de produtividade, porque queriam mais é a segurança da financeirização (8/10).
Quando a coisa se esgotou, mas com um crescimento residual ainda, Dilma errou na passagem de 2014 para 2015 e errou feio, mas isso foi apenas um sintoma de sua inabilidade. Esse erro foi muito bem aproveitada pela laia que está a nos tirar o couro (9/10).
O desafio hoje, infelizmente, é outro. É normalizar as instituições e gerar uma grande articulação para recuperar a produtividade, o que passa por aumentar os salários, mas não só (10/10).

• • •

Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh
 

Keep Current with Hugo Albuquerque

Hugo Albuquerque Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

PDF

Twitter may remove this content at anytime! Save it as PDF for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video
  1. Follow @ThreadReaderApp to mention us!

  2. From a Twitter thread mention us with a keyword "unroll"
@threadreaderapp unroll

Practice here first or read more on our help page!

More from @hugoalbuquerque

10 Sep
Bom, quando falamos que Bolsonaro e Temer são uma coisa só, havia quem viesse até que isso era divisionismo e que 2016 era coisa do passado. Mesmo que as coisas na política mudem, e elas mudam, isso não mudou (1/7).
Temer chegou a ser preso em uma articulação bem estranha da Lava Jato. E à época, Bolsonaro sutilmente apoiou a prisão. Seja como for, queiram ou não, os dois estão no mesmo barco e estamos falando do mesmo arranjo. Por isso que Temer foi lá salva-lo (2/7).
A história que Temer foi lá a pedido de Bolsonaro é estranhíssima e foi dada como verdadeira pela Globo News. Em vez de um furo dado com júbilo pelos jornalistas da mídia do establishment, o que se esconde por trás disso? Ninguém realmente vai atrás dessa história (3/7)?
Read 8 tweets
9 Sep
Bolsonaro foi pressionado a mandar os caminhoneiros recuarem. Os caminhoneiros que protestavam ao lado do presidente por ordem do patrão latifundiário ou, quem sabe, alguns autônomos perdidos no mundo. Bolsonaro está lascado e nós temos de empurrar ele pra fora do tatame (1/7).
Talvez os autônomos que estão aí juntos acordem para lembrar, por sinal, que é a política de preços da Petrobrás, mantida por Bolsonaro, que os está sufocando. Já os latifundiários só vão acordar após um golpe Australiano. Ambos podem morrer do coração no processo (2/7).
Agropecuaristas australianos entraram na mesma loucura anti-China dos brasileiros. Perderam o mercado chinês que foi...para agropecuaristas americanos! Caíram no golpe, tolinhos (3/7)
Read 7 tweets
8 Sep
Sobre o 7 de setembro: vencemos e Bolsonaro perdeu. Foi uma batalha, não a guerra toda, mas ele perdeu sim. Mobilizando toda sua base e com muito dinheiro para realizar o ato (de onde veio? É preciso apurar), mas a montanha pariu um rato sim (1/7).
Bolsonaro mobilizou pouca gente perto do alarde. Tentaram invadir o STF e o Congresso, mas os manifestantes *não conseguiram*. Com a esquerda acuada e tudo. A extrema-direita provou sua índole, mas também a sua incompetência (2/7).
E a esquerda tomou a blitz de ontem por medo. E mesmo assim, a militância foi pra rua. Um pouco mais de assertividade teria colocado mais gente ainda no Anhangabaú em São Paulo (3/7).
Read 7 tweets
3 Sep
Um detalhe enigmático, que ainda precisa ser atendido, foram as condições especialíssimas que permitiram Moro fazer misérias na Lava Jato. Mas mais importante ainda é entender como ele caiu, não sem antes ter se desgastado com Bolsonaro (1/10).
Podemos realmente atribuir ao acaso das revelações do hacker que, depois, viraram a Vaza Jato. Ok, tudo bem. Mas há um ponto onde tudo, ao que me parece, começa a mudar. É quando a Lava Jato prende Temer e Moreira Franco (2/10).
Se a Lava Jato já era, por si só, uma construção bizarra que unia Polícia Federal, Ministério Público Federal e Justiça Federal, com Moro no Ministério da Justiça, ela chega à Administração Direta -- em escala federal (3/10).
Read 12 tweets
2 Sep
A História Universal não se move pela autonomia da vontade de sujeitos conscientes ou de grandes personalidades. Ela é fruto das colateralidades das lutas entre e dentro das coletividades humanas, cujas ações são, em grande medida, inconscientes (1/7).
A própria História como narrativa é uma imagem das ações humanas e suas colisões. Pode se falar numa História objetiva, tal como realmente foi, e de fato só há imagem desses fatos, pois há essa materialidade (2/7).
A História em sua dimensão imaginária -- isto é, subjetiva -- se relaciona com a História em sua dimensão objetiva, pois uma influi na outra. Quando eu narro a História, eu faço e mudo a História (3/7).
Read 7 tweets
2 Sep
A pesquisa Genial/Quaest de ontem foi presencial. E como todas pesquisas presenciais bem-feitas, elas demonstram Lula com uma margem maior do que as XP/Ipespe ou PoderData da vida. O que isso prova? (1/3).
genialinvestimentos.com.br/eleicoes/pesqu…
Que um setor não é captado nas pesquisas por telefone ou à distância. E esse setor, possivelmente de baixa renda, é Lulista. É um setor que em grande medida nem votou em 2018 (mas em 2014 também) (2/3).
Esse setor é maior, hoje, dos que os 3 p.p. a menos de 2018 ou 2014 em relação a 2010, embora tenha correlação com ele. Basta ver a taxa de abstenção antes do STF anular as condenações de Lula e depois (3/3).
Read 4 tweets

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just two indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3/month or $30/year) and get exclusive features!

Become Premium

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!

Follow Us on Twitter!

:(