Um detalhe enigmático, que ainda precisa ser atendido, foram as condições especialíssimas que permitiram Moro fazer misérias na Lava Jato. Mas mais importante ainda é entender como ele caiu, não sem antes ter se desgastado com Bolsonaro (1/10).
Podemos realmente atribuir ao acaso das revelações do hacker que, depois, viraram a Vaza Jato. Ok, tudo bem. Mas há um ponto onde tudo, ao que me parece, começa a mudar. É quando a Lava Jato prende Temer e Moreira Franco (2/10).
Se a Lava Jato já era, por si só, uma construção bizarra que unia Polícia Federal, Ministério Público Federal e Justiça Federal, com Moro no Ministério da Justiça, ela chega à Administração Direta -- em escala federal (3/10).
É claro, já antes Moro está desgastado. No fim, pouca gente ficou ao lado de Lula. Havia quem defendesse a condenação, mas outros cruzam os dedos secretamente para ver o ex-presidente fora do jogo -- como de fato aconteceu (4/10).
Quando o resultado foi Bolsonaro, muita gente se arrependeu do que fez, ou do que não fez. Quando Bolsonaro mostrou as garras, mais ainda. Mas a coisa muda quando uma vez trocado o governo, quase o regime, a LJ prende duas figuras centrais da "classe política" (5/10).
Houve quem pretendesse derrubar mesmo Lula, mas a coisa é que a classe política foi de um lado convencida pelo capital, mas por outro lado foi pressionada e até admoestada pela Lava Jato a promover o Impeachment (6/10).
Sem Lula, com Bolsonaro e Guedes, prosseguir nas prisões -- aqui talvez para dobrar o Congresso -- se mostrava não só desnecessário como, ainda perigoso. A Faria Lima concordou com essa tese (7/10).
O resto da história, sabemos. Temer e Moreira Franco, ao contrário de Lula, mal esquentaram a cela. E a sorte de Moro começou a mudar, com ele perdendo espaço, ao passo que conspirava mais e mais para desenhar sua candidatura (8/10).
Um sentimento de preocupação com Bolsonaro levou o aparato de Justiça a desfazer a injustiça de manter Lula preso naquelas condições. Mas uma inércia interna do governo Bolsonaro, e um temor em relação a Moro colaboraram (9/10).
Quando Moro achou estar fazendo um movimento genial ao largar o governo no começo da Pandemia, quando se sabia o que viria, ele se viu surpreendido por um abandono geral (10/10).
P.S.: o curioso é que Lula, ao ver o cerco contra si mesmo, passou ele mesmo a apostar na própria prisão. E os 580 dias dele na prisão geraram, para além do alto sacrifício pessoal, um violento dano aos seus carrascos.
*entendido (escrevi voando)
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Bom, quando falamos que Bolsonaro e Temer são uma coisa só, havia quem viesse até que isso era divisionismo e que 2016 era coisa do passado. Mesmo que as coisas na política mudem, e elas mudam, isso não mudou (1/7).
Temer chegou a ser preso em uma articulação bem estranha da Lava Jato. E à época, Bolsonaro sutilmente apoiou a prisão. Seja como for, queiram ou não, os dois estão no mesmo barco e estamos falando do mesmo arranjo. Por isso que Temer foi lá salva-lo (2/7).
A história que Temer foi lá a pedido de Bolsonaro é estranhíssima e foi dada como verdadeira pela Globo News. Em vez de um furo dado com júbilo pelos jornalistas da mídia do establishment, o que se esconde por trás disso? Ninguém realmente vai atrás dessa história (3/7)?
Bolsonaro foi pressionado a mandar os caminhoneiros recuarem. Os caminhoneiros que protestavam ao lado do presidente por ordem do patrão latifundiário ou, quem sabe, alguns autônomos perdidos no mundo. Bolsonaro está lascado e nós temos de empurrar ele pra fora do tatame (1/7).
Talvez os autônomos que estão aí juntos acordem para lembrar, por sinal, que é a política de preços da Petrobrás, mantida por Bolsonaro, que os está sufocando. Já os latifundiários só vão acordar após um golpe Australiano. Ambos podem morrer do coração no processo (2/7).
Agropecuaristas australianos entraram na mesma loucura anti-China dos brasileiros. Perderam o mercado chinês que foi...para agropecuaristas americanos! Caíram no golpe, tolinhos (3/7)
Sobre o 7 de setembro: vencemos e Bolsonaro perdeu. Foi uma batalha, não a guerra toda, mas ele perdeu sim. Mobilizando toda sua base e com muito dinheiro para realizar o ato (de onde veio? É preciso apurar), mas a montanha pariu um rato sim (1/7).
Bolsonaro mobilizou pouca gente perto do alarde. Tentaram invadir o STF e o Congresso, mas os manifestantes *não conseguiram*. Com a esquerda acuada e tudo. A extrema-direita provou sua índole, mas também a sua incompetência (2/7).
E a esquerda tomou a blitz de ontem por medo. E mesmo assim, a militância foi pra rua. Um pouco mais de assertividade teria colocado mais gente ainda no Anhangabaú em São Paulo (3/7).
Em 2016, modéstia à parte, tive razão, até mais do que gostaria, dos custos que o golpe -- sim, golpe -- teria sobre a classe trabalhadora brasileira, principalmente sobre os mais pobres. Não haveria outro motivo para isso, não fosse uma austeridade gigantesca (1/10).
Dilma errou em transigir com a política de austeridade, em parte, mas ela jamais chegaria até aqui. Dilma sabia, a direita sabia. Mas como eu observava ali, a Nova Direita tinha um belo plano para o golpe e depois para ocupar e se manter no poder, mas não por muito tempo (2/10).
Uma coisa é tomar o poder, outra é governar. Com todos os méritos estratégicos de terem chegado com Temer lá e, depois, produzido Bolsonaro para manter tudo como seguia, eles nunca tiveram um plano, digamos Thatcheriano (3/10).
A História Universal não se move pela autonomia da vontade de sujeitos conscientes ou de grandes personalidades. Ela é fruto das colateralidades das lutas entre e dentro das coletividades humanas, cujas ações são, em grande medida, inconscientes (1/7).
A própria História como narrativa é uma imagem das ações humanas e suas colisões. Pode se falar numa História objetiva, tal como realmente foi, e de fato só há imagem desses fatos, pois há essa materialidade (2/7).
A História em sua dimensão imaginária -- isto é, subjetiva -- se relaciona com a História em sua dimensão objetiva, pois uma influi na outra. Quando eu narro a História, eu faço e mudo a História (3/7).
A pesquisa Genial/Quaest de ontem foi presencial. E como todas pesquisas presenciais bem-feitas, elas demonstram Lula com uma margem maior do que as XP/Ipespe ou PoderData da vida. O que isso prova? (1/3). genialinvestimentos.com.br/eleicoes/pesqu…
Que um setor não é captado nas pesquisas por telefone ou à distância. E esse setor, possivelmente de baixa renda, é Lulista. É um setor que em grande medida nem votou em 2018 (mas em 2014 também) (2/3).
Esse setor é maior, hoje, dos que os 3 p.p. a menos de 2018 ou 2014 em relação a 2010, embora tenha correlação com ele. Basta ver a taxa de abstenção antes do STF anular as condenações de Lula e depois (3/3).