Bolsonaro está lá, dando vexame atrás de vexame nesta terceira ida à ONU por ocasião da Assembleia Geral. A pior de todas elas, se é que é possível. Mas ele fez e desfez ao longo desses anos, foi com o envergonhado apoio do establishment. Vide o comportamento do Congresso (1/7).
Ainda que Maia não tem colocado para votar "a pauta de valores", colocou a pauta econômica. E Lira abriu a caixa de pandora, embora tenha puxado o freio de mão quando a agenda que chegou foi a do golpe do golpe. Mas lá está: 75% de apoio da Câmara e 83% do Senado (2/7).
É claro que há votações protocolares na casa, mas é bizarro o apoio de partidos. O PT na Câmara tem menos de 25% de apoio ao governo, o PSOL, menos de 20% e o PC do B menos de 30%. Todos são bem disciplinados nas votações, o mesmo não se pode dizer de PSB ou PDT (3/7).
O PDT consegue ter 42% de votos pró governo e 3 deputados bem acima disso. Uma delas é sim, ela: Tabata Amaral com quase metade dos votos pró-governo (4/7).
O PSB tem mais gente acima dos 50% e 43% dos votos pró-governo. Em suma, isso é a "oposição" à esquerda do centro. Em tese. Já a tal oposição de direita não é oposição coisa nenhuma. PSDB dá 5 de 6 votos para Bolsonaro (5/7).
O que isso importa? Que existe uma agenda que é de Bolsonaro, e ela é sim pior, mas não é tão diferente da agenda da direita "democrática". Detalhe: sozinho, sem o apoio dos liberais, Bolsonaro não teria sido eleito em 2018, nem teria governado (6/7).
Evidentemente, derrotar Bolsonaro é derrotar isso e, inclusive, forçar o "centrão", a direita tradicional, na direção do Centro e para longe da Direita. Mas isso não quer dizer que esse impulso, nem de longe, possa vir de lá. Bolsonaro é, e sempre foi, o Bolsodória (7/7).
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Desde o trágico governo Temer, a centro-direita tradicional entra numa espiral: ela não tem mais voto. E um sentimento de Volta Lula, apesar de Lava Jato e o escambau, se estabelece com tudo entre os eleitores. Aí é que surge Bolsonaro e que chegamos aqui (1/5).
Em 2018, Bolsonaro foi um paliativo, parte da "ponte para o futuro", porque era a única força capaz de evitar que PT retornasse ao poder -- isso depois da prisão de Lula e o golpe parlamentar contra Dilma. Mas a solução (paliativa) virou um problemão (2/5).
Os entendidos do jogo sabiam dos riscos de Bolsonaro, mas havia quem se iludisse ou quisesse iludir. Os primeiros meses do Capitão, contudo, eliminaram qualquer ilusão. E a pandemia fechou a questão (3/5).
O que o Ipec e o Datafolha, os dois melhores institutos confirmam é (1) vitória de Lula em 1° turno nos cenários mais prováveis; (2) estabilização do quadro desde o meio do ano. Há mais coisas (1/7):
O Datafolha foi mais longe e testou quatro cenários de 1° turno. Lula só não leva antecipadamente em 2, com muitos candidatos. Esses cenários são, no entanto, improváveis sob as atuais regras. Os partidos não tendem a lançar candidatos próprios (2/7).
Hoje, lançar candidato a presidente significa ter menos dinheiro para eleger deputados. Imaginar que o MDB ou o DEM banquem candidaturas é, por exemplo, apostar em algo bem difícil (3/7).
Pesquisa Datafolha prevê vitória de Lula em 1° turno em dois dos seus 4 cenários, nos outros 2 ele chega perto disso. Mas da última pesquisa para cá, ele deu uma variada para baixo, dentro da margem, embora misteriosamente tenha subido na espontânea. O que isso significa (1/7)?
Primeiro, que Lula tende a não vencer em 1° turno em uma eventual eleição com menos candidatos. Mas isso tem um custo para os partidos, que podem preferir não lançar candidato presidencial para gastar dinheiro elegendo deputados (2/7).
Bolsonaro viu sua popularidade cair, mas (como sempre) ele fanatizou mais sua base com a micareta do 07 de setembro. E num 2° turno, ele reúne quase o campo conservador todo em torno de si contra qualquer candidato, embora espante os centristas e perca para geral (3/7).
Brasil tem uma economia indexada ao dólar até a tampa. Aluguéis, tarifas e ainda os custos de importações. Guedes deixou correr solta a desvalorização cambial para favorecer o agro e a mineração, dando uma banana ao mercado interno: em um ano e meio, gerou inflação (1/7).
Conseguimos um efeito duplo de deprimir o mercado interno e ainda aumentar o custo da produção. Quem não ganha em dólar está espremido entre uma economia que não gira e custos crescentes. Ainda mais num país que se desindustrializa (2/7).
A jogatina da Bolsa funcionou até o ano passado, agora com expectativas maníacas da Faria Lima virando vapor, o rentismo precisa do terrorismo dos juros de novo, inclusive tendo por mote resolver o problema criado por ele mesmo ano passado (4/7).
Sobre o convescote de Temer, na casa de Nahas, ainda. Um detalhe engraçado é que ali congregavam dois grupos, o de Temer e o de Kassab, que disputam o mesmo nicho e convivem juntos em meio à burguesia cristã árabe de São Paulo (1/7).
Kassab sangrou a direita nacional para criar seu próprio partido, o PSD. Hoje, ele é "dono" de um dos maiores partidos da República, cuja função é ser adesista e fazer a mediação conforme interesses da elite. Uma direita que age como pântano (2/7).
No duro, Kassab faz o que Temer sempre fez do MDB e pelo MDB. Mas Kassab nunca trilhou o caminho de Temer, sempre estando, curiosamente, à direita dele, passando pelo compadrio de figuras como Afif, Maluf, Alckmin e, finalmente, Serra (3/7).
Bom, quando falamos que Bolsonaro e Temer são uma coisa só, havia quem viesse até que isso era divisionismo e que 2016 era coisa do passado. Mesmo que as coisas na política mudem, e elas mudam, isso não mudou (1/7).
Temer chegou a ser preso em uma articulação bem estranha da Lava Jato. E à época, Bolsonaro sutilmente apoiou a prisão. Seja como for, queiram ou não, os dois estão no mesmo barco e estamos falando do mesmo arranjo. Por isso que Temer foi lá salva-lo (2/7).
A história que Temer foi lá a pedido de Bolsonaro é estranhíssima e foi dada como verdadeira pela Globo News. Em vez de um furo dado com júbilo pelos jornalistas da mídia do establishment, o que se esconde por trás disso? Ninguém realmente vai atrás dessa história (3/7)?