1. Vamos analisar o espantoso "hino" da Prevent Senior, obtido pela @GloboNews ? Comecemos pela música: marcha militar, tom monocórdico, alteração alguma, pura monotonia, paisagem sem horizonte, que reitera e repisa ecos autoritários de triste memória.
2. Passemos à letra, ainda mais espantosa do que a música?

"Nascemos para trilhar
Um caminho a desbravar
Nascemos para viver
de lutas até morrer"

De forma macabra, a proximidade inquietante entre os verbos "viver" / "morrer" parece antecipar os horrores que agora vem à tona.
3. "Até morrer"? É um lema? Morrer pelo lucro? Morrer em função de "cuidados paliativos"? Repare que o verbo protagonista dos versos não é viver, pois se vive "de lutas até MORRER" - eis o eixo da letra, o espírito que preside a composição. Aliás, espírito revelado na sequência:
"E, juntos, NÓS estaremos
E, juntos, NÓS venceremos"

4. Recordemos que fascismo vem do latim "fasces": um machado, revestido de varas, que era usado para flagelar e decapitar cidadãos desobientes! Em italiano, vem de "fascio", feixe, isto é, "conjunto de objetos unidos; molho". Image
Mais uma vez, união absoluta; impossibilidade de divergência, espaço algum para autonomia. Aliás, repare-se na repetição obsessiva do pronome pessoal "NÒS" - nessa mentalidade autoritária, o "eu" não tem vez.

5. Nas palavras proféticas de bolsonaro, tudo sempre pode ficar pior:
"Com espadas e com canhões
NÓS somos os guardiões
NÓS somos os guardiões
NÓS somos os guardiões"

Espadas e canhões? Não se trata de medicina? De salvar vidas? De cuidar do outro? Guardiões? Da vida do segurado? Ou da estrita "lealdade e obediência" à mentalidade autoritária?
6. É espantoso que um tal "hino" sequer tenha sido composto em pleno século XXI. Como se a história tivesse sido apagada, como se não tivéssemos memória dos horrores do século XX.

Vamos superar o atual obscurantismo?

Primeiro passo: lembrar, analisar e denunciar o HORROR.

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30 Sep
1. Podemos caracterizar o "método Leandro Narloch" de revisionismo? Sim! Fazê-lo é passo necessário para superar o efeito reacionário de sua escrita, polida na aparência, mas brutalíssima em sua essência.

2. Brilhante o artigo de @thiamparo sobre o texto de Leandro Narloch.
Thiago Amparo vai além e toca o dedo na ferida que bem pode gangrenar a própria democracia brasileira. Nesse sentido, a última frase de sua coluna já nasceu antológica:

"em algum momento a corda do pluralismo esticou a tal ponto que nos enforcará".
www1.folha.uol.com.br/colunas/thiago…
3. Como evitá-lo? Veja o exemplo discutido por @thiamparo : Narloch parte de um dado concreto, mas que é sistematicamente descontextualizado e mesmo distorcido, de modo a apagar toda a história, substituída por meras anedotas, cuja finalidade é "suavizar" o passado escravocrata.
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28 Sep
1. No meu exercício semanal de autoflagelação, assisto ao “Direto ao Ponto”, da Jovem Pan. Hoje o entrevistado é o presidente bolsonaro. Por 15 minutos, ele defendeu a cloroquina! E não falou em vacina. Mostrarei como o bolsonarismo é necessariamente autodestrutivo. Siga o fio.
2. Gregory Bateson destacou a centralidade da retroalimentação negativa (negative feedback) para o equilíbrio homeostático (isto é, dinâmico) de um organismo vivo, de um sistema. Geralmente, valorizamos a retroalimentação positiva (positive feedback), ou seja, estímulo recebido.
3. Contudo, a retroalimentação negativa é essencial, pois permite encontrar um ponto dinâmico de equilíbrio entre o interno e os estímulos externos. Nenhum sistema se sustenta somente recebendo estímulos sem cessar; nesse caso, o colapso seria inevitável. Um exemplo prosaico?
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25 Sep
1. A dissonância cognitiva Brasil: a realidade paralela bolosnarista é o resultado de uma midiosfera própria, que produz sem parar narrativas polarizadoras com base em notícias falsas e teorias conspiratórias. A teoria de Leon Festinger é valiosa para decifrar o fenômeno. Image
2. Tudo começou um em 1954 numa pesquisa sobre uma seita, quando Festinger se infiltrou no culto “The Brotherhood of the Seven Rays”, que combinava crença em vida extraterrestre, discos voadores e apocalipse, e cujo pendor milenarista era preciso como um relógio suíço: Image
no dia 21 de dezembro de 1954, um dilúvio levaria ao fim do mundo. Contudo, os membros da “Brotherhood” não tinham com o que se preocupar, pois um disco voador viria salvá-los. Ocorreu então uma decepção dupla: o disco voador nunca chegou, mas, o mundo também não acabou!
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24 Sep
1. Há uma série na Netflix que ajudaria muito a abolir o reconhecimento de "criminosos" por fotografia no Brasil: "The Innocence Files". Um método tão suspeito quanto foi usado nos Estados Unidos: reconhecimento pela arcada dentária. Siga o fio.
canalcienciascriminais.com.br/the-innocence-…
2. Acompanhamos a saga de Levon Brooks e Kennedy Brewer, condenados por crimes que não cometeram com base no "reconhecimento" da arcada dentária a partir de mordidas nos corpos das vítimas. Os episódios são chocantes: a condenação seguiu o padrão que se repete no Brasil de hoje.
3. Praticamente todos os casos que foram "resolvidos" com o reconhecimento pela comparação da arcada dentária envolveram homens negros e pobres. No caso de Levon Brooks e Kennedy Brewer, felizmente, depois de muitos anos na cadeia, foram inocentados pela coleta de DNA.
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20 Sep
1. Hipótese nova (digam o que acham): precisamos diferenciar "bolsonarismo bolsonarista" de "bolsonarismo brasileiro". O primeiro chegou ao poder em 2018; o segundo, sempre lá esteve. O primeiro tende à autodestruição; o segundo, mostra grande capacidade de preservação. Há mais.
2. O "bolsonarismo bolsonarista" depende obviamente da figura de bolsonaro e sua mentalidade bélica implica a invenção de inimigos em série, numa tensão política permanente, que, no limite, inviabiliza a possibilidade de um governo bolsonaro. Logo, seu caráter autodestrutivo.
3. Daí, a base do "bolsonarismo bolsonarista" se reduzir a olhos vistos: um governo golpista de si mesmo, motor de instabilidade em todos os níveis, tende a esgotar-se e, ao mesmo tempo, a exaurir a sociedade. Em breve, a figura de bolsonaro provavelmente provocará asco. Exagero?
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19 Sep
1. Vamos homenagear a obra de Paulo Freire neste domingo? A melhor forma de celebrar um autor é ler o que escreveu. Que tal começar por um artigo de umas 20 páginas, no qual Freire sintetizou sua visão do mundo e apresentou com clareza cristalina seu método de alfabetização?
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3. Na visão do mundo freiriana, a vocação do ser humano é ser sujeito de sua própria vida e também da história; afinal, “gente é pra brilhar, não pra morrer de fome”. Mais: nunca estamos completos; somos, pois, seres-estudantes por definição. E o mundo também sempre muda. Visão
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