O bolsonarismo (que é a forma brasileira do fascismo) é um ethos. Não apenas um comportamento político, mas um conjunto de valores e práticas para a vida.
(segue o fio para entender o que é isso e pq a gente reconhece bolsonarista na rua ...)
O fascismo, entre inúmeras outras características, acredita que a sociedade é o local das disputas pelo poder e não um local de convivência. É o espaço social onde "os mais fortes sobrevivem" e os mais fracos "perecem".
Este tipo entendimento acarreta 3 consequências diretas. Por um lado a glorificação da violência e, in extremis, a guerra. Ela é vista como uma forma de "purificação" da sociedade. Por meio da violência, é possível "depurar" a sociedade de seus membros fracos que pouco contribuem
Uma segunda consequência é a glorificação do estereótipo do "macho" como o local sócio-psicológico da demonstração de força e violência. Isso reifica de forma gigantesca a opressão e violência contra mulheres e aos grupos lgbt, incitando a TODO fascista que "limpe" a sociedade.
Uma terceira consequência é a percepção da violência como o meio pelo qual a sociedade precisa existir. Isso significa ressignificar a democracia, não como a celebração da paz, mas como uma forma de guerra. Para os fascistas, o voto é uma arma com a qual eles "calam" a oposição.
O voto assume o papel da "arma" no imaginário fascista e uma eleição é uma guerra. Da mesma forma, o poder judiciário é o exercício da força pura e a polícia apenas mais um braço especializado da violência. Sendo dado a estas instituições TOTAL LIBERDADE para agir na "limpeza".
Isso seduz juízes, promotores, policiais, militares e todo tipo de indivíduo que se via como aquém da importância social que se imaginava poder exercer. Esta forma de pensamento faz o sujeito projetar seus desejos de reconhecimento acima da realidade social de sua função.
Daí que, quanto maior for a diferença entre o que o indivíduo imagine que seja ou que possa numa sociedade e seu papel atual, maior será sua adesão incondicional ao fascismo (bolsonarismo). Entendendo, inclusive, o movimento como o "espaço de existência" que ele não tinha.
Não é errado, portanto, colocar o fascismo e o bolsonarismo no campo psicológico do recalque. Tanto do ponto de vista político, quanto do ponto de vista sexual. É por acreditar-se maior do que é que o bolsonarista apoia um regime que ataca as ordens existentes e o promove.
Da mesma forma, é por acreditar que seus desejos sexuais são primordialmente perversos que os fascistas e bolsonaristas passam a agir com violência contra todos os que gozam de seus corpos de forma livre e nõa se submetem aos preconceitos e limites sociais. Misoginia e violência.
Os símbolos da moto, da arma, do culto ao corpo, da violência pura, do "macho alfa", da "liberdade de agir" (e não deixar-se submeter a regras) se tornam, assim, formas fáceis de reconhecer esse ethos fascista, já que ocupam o local mais alto da escala de valores destes indivíduo
A defesa da arma e da violência é não apenas uma forma de ação social, mas um reflexo da psicologia formativa destes indivíduos que foram castrados por toda a vida e que repetem esse tipo de comportamento, agora com legitimação religiosa (Deus quer) ou política (pelo bem do país)
Me preocupa muito a interpretação da eleição. Para vencer uma guerra - ou uma eleição - vale tudo. Vale infringir regras, agredir, corromper, matar e etc. É isso que enfrentaremos em 2022. E com ações em todos os locais do país ordenadas pela ideologia fascista.
Aqui explico um pouco isso
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Nossas manifestações floparam. É preciso entender isso.
Em primeiro lugar, é preciso saber que com a população empobrecida, manifestações antes do dia 5 ou 10 ficam vazias por simplesmente não se ter dinheiro para ir.
Depois, é preciso perceber que a população está cansada de se manifestar e não ser ouvida. Nem pelas autoridades e nem pelas próprias lideranças que seguem mantendo as coisas em "banho maria"
É triste ver que nem a CPI, nem os advogados que lá vão "defender" seus clientes não saibam o papel da CPI.
A CPI não é juízo. Renan não cumpre o papel de um juiz. A CPI é um INQUÉRITO e a lógica do inquérito é diferente. Renan está no papel de DELEGADO DE POLÍCIA. (+)
Na lógica do inquérito, o delegado NÃO PRECISA dar AMPLA DEFESA ao depoente. Na lógica do inquérito TODA A AMPLA DEFESA do inquirido é não ter seu corpo ou saúde psicológica violada e o silêncio. Tão somente.
Não é permitido ao depoente tecer juízo sobre a forma pela qual o delegado leva seu inquérito assim como a CPI não deve aceitar essas palhaçadas de depoente querer falar o que não lhe foi perguntado. Isso se ensina no primeiro ano do curso de direito.
Walter Benjamim talvez tenha sido o primeiro a apontar a dimensão estética do fascismo. Com o objetivo de açodar os poderes existentes, o fascismo criava novos ídolos, novas práticas, novos símbolos, novas palavras de ordem e, nesse processo, desrespeitava as anteriores.
(fio)
Uma das dimensões mais importantes do poder é a simbólica. Ela aparece no que se chama de "economia do poder". Para tornar o uso do poder menos custoso a quem detém, a simbologia foi criada. Em todas as instituições isto ocorre.
Juízes se vestem de uma determinada maneira, exigem determinado tipo de tratamento de linguagem e não raro têm suas mesas de audiência colocadas acima fisicamente das do restante das pessoas. A dimensão simbólica joga um papel preponderante aqui.
Quando a CPI começou eu pensei que seria muito complicado provar - no campo jurídico - os crimes contra a humanidade do governo Bolsonaro. Me parecia que politicamente ia ficar comprovado, mas a materialidade me parecia problemática. (+)
As decisões de deixar de vacinar, de trabalhar pelo contágio e massa, da própria "imunidade de rebanho" como ideia de política pública, me pareciam que ficaria dentro do campo da consciência dos tomadores de decisão. (+)
Jamais me passou pela cabeça que esta gente fosse tão perversa e tão burra a ponto de deixarem GRAVADO em vídeos suas ideias.
Que os nazistas realmente acreditavam em suas teorias é bem mostrado pela história. Mas que agentes públicos tenham feito um conluio não me era crível.
Em janeiro de 1931, o chefe do partido nazista, Adolf Hitler, deu uma entrevista ao repórter judeu Max Fraenkel, publicada no jornal The Jewish Criterion.
(segue o fio)
Fraenkel começou o relato falando do que via no homem a sua frente:
"As fotos de Adolf Hitler não fazem justiça ao incontestável líder dos Nacionais Socialistas. Ele parece muito mais jovem do que seus 41 anos. [...]
Sabe o caso da promotora bolsonarista que publicou "imagens enaltecendo o nazismo"? Então, sugiro aos jornalistas e mesmo o pessoal da esquerda de conversarem com historiadores especialistas antes de saírem escrevendo bobagens. Vai todo mundo tomar processo da bolsonarista.
Se tivessem perguntado para historiadores e historiadoras especialistas em história contemporânea (como eu) não levariam os processos que vão levar.
A tal promotora pode até ser nazista, mas não se conseguirá provar isso pelas postagens dela.
Ela NÃO está enaltecendo o nazismo, ao menos não abertamente. Ela está fazendo uma comparação estética entre cartazes nazistas e cartazes soviéticos. Como ninguém ali lê russo (eu leio) ninguém se deu conta da comparação. É talvez nem a própria promotora.